Uma data, um portento

Primórdios e avanços

Não há quem possa precisar a sua origem. A verdade é que o livro nasceu no mundo quando os homens sentiram a necessidade de repassar devidamente as suas idéias, no processo de sua comunicação, por meio de representações gráficas.

Nos tempos mais recuados do livro no planeta, a partir de onde se pode alcançar, deparamos povos antigos, tais como egípcios, fenícios, gregos e hebreus, trabalhando por fixar seus múltiplos e diferentes registros nos corpos dos cilindros de barro ou lajes de argila, cozidos, mas também em peças de madeira, em estelas de pedra e em tecidos.

Enquanto o tempo se move na ampulheta do desenvolvimento humano, chegamos à Alemanha do séc. XIV que recebe, em seu final, na cidade de Mainz, a figura notável de Johannes Gutenberg, que se tornou profissional da impressão gráfica, e que trabalhou secreta e afanosamente, até que conseguisse, já no séc. XV, fabricar os caracteres móveis que deveriam promover uma verdadeira revolução nas composições gráficas, desde aquela época, até os progressos mais exuberantes da linotipia manual, das máquinas elétricas e eletro-eletrônicas dos dias atuais, quando nada se compara às excelências dos serviços computadorizados.

Um ano muito especial

No seio dos progressos que a Divindade programara para a Terra, coube ao ano de 1857 alguns dos mais felizes sucessos da década. É o ano em que o cientista francês Saint-Claire Deville conclui seu método de preparação industrializada do magnésio, o festejado Kekulé demonstra que o átomo de carbono é quadrivalente e que o afamado von Siemens estabelece a sua teoria dos condensadores.

Nesse mesmo ano, o pesquisador inglês Pogson consegue definir as grandezas estelares, sem dar-se conta de que as virtudes dos Céus já haviam codificado um roteiro para o norteamento do gênero humano e que, semelhantes a estrelas cadentes de inconcebível grandeza, tratariam de corporificá-lo em letra de forma, para que, desatados os nós da ancestral ignorância relativa às coisas espirituais, pudessem os habitantes da Terra firmar o passo para o ajustamento da sua consciência às orientações da Consciência Cósmica.

Foi assim que veio à lume O Livro dos Espíritos, num sábado chuvoso de abril, dia 18, em plena primavera, no coração da cidade de Paris, coroando a luminosa programação do Infinito, o que ensejaria, doravante, maior atilamento da mente humana no tocante aos seus deveres para com a terrena existência.

Estupenda vanguarda

Refletindo os interesses do Criador para com Seus filhos terrestres, sob a guarda do Cristo, o rol de orientações trazido do além para o mundo é de grandíssima atualidade, impondo-nos verificar o seu caráter de vanguarda no campo do esclarecimento planetário, em vários níveis e em distintos temas.

O Livro dos Espíritos sacode o pó que recobria a mente humana em todos os domínios da intelecção, abrindo espaços para profundas reflexões e para exercício de formidáveis raciocínios lógicos.

Desestabiliza os fundamentos teológicos vigentes, remanescentes da Idade Média, dos tempos de compreensíveis limitações conceituais e trata de Deus, dos anjos e demônios, do céu e do inferno com tamanha lucidez que desmistifica todo o tratado de horrores, de amedrontamentos, de castigos; livro que fez ruir a absurda construção dos ódios e iras divinos, mostrando-nos o Deus de perfeição absoluta em quaisquer das Suas realizações.

Explica-nos que ninguém poderia ter sido criado perfeito, sem experimentar os tempos de ignorância, de pelejas, de aprendizados dos erros e acertos, até alcançar os níveis mais alteados da evolução. Em caso contrário, o Criador representaria a suprema injustiça e incoerência absoluta, impondo a uns esforços e sacrifícios para a conquista da vitória sobre o atraso, enquanto a outros tudo daria graciosamente, num preferencialismo absurdo e sem sentido.

Ensina que a morte do corpo não pode, de nenhum modo, selar a sorte definitiva dos indivíduos, remetendo-os a determinados lugares físicos, para usufruir prazeres tão intermináveis quanto insuportáveis ou para suportar sofrimentos tão irracionais quão inestancáveis.

Ensinou-nos Jesus Cristo que o reino dos céus não tem aparências exteriores e, por conseqüência, o inferno também não. Ambas as dimensões, a da luz ou a das sombras, têm nascedouro e manutenção no cerne de cada criatura, na intimidade de cada alma.

O Livro dos Espíritos faz levantar as discussões científicas sobre o átomo, o éter, a matéria, enfim, antecipando a sua existência em condições inabordáveis ao pensamento e não captáveis pelos terrenos instrumentos mensuradores.

Diante dos avanços da microfísica, dos estudos do plasma, da quântica, da matéria escura, que extasiam o pensamento formal das ciências, ressalte-se o caráter vanguardista do Espiritismo - que todo esse movimento predisse nos termos próprios - , como apresentado em sua obra fundamental.

O Livro dos Espíritos antecede as preocupações sócio-político-religiosas que adentram a área médica, em torno do abortamento, quando estabelece que qualquer transgressão às leis de Deus se caracteriza como um crime.

Quando explodem discussões a respeito do abortamento de anencéfalos, de portadores de deficiências orgânicas de grave porte, num indisfarçável programa eugênico; quando surgem defensores do abortamento por causa da violência sexual ou por enfermidades pré-existentes, ou, ainda, por problemas sócio-econômicos, sentimos a lucidez com que o Espiritismo trata a questão, opondo-se, definitivamente, aos arrazoados pífios e aos desculpismos sócio-políticos que denunciam a incapacidade geral de se educar os lares, as escolas e as massas sociais, tornando-se mais práticos e mais cômodos o rechaço e o extermínio, a pena de morte, com certeza.

O Livro dos Espíritos lança luz sobre as análises e críticas políticas e educacionais, deixando-nos ver os dramas causados pelos desmandos da corrupção e do roubo, pelas falcatruas, a fuga deliberada dos princípios éticos mais simples.

Quando acompanhamos a falência das instituições sociais, que não conseguem dar conta dos seus compromissos, governadas por mentes inadaptadas ao bom senso, à honradez e à verdade; quando os processos educacionais utilizados não melhoram a estrutura do caráter e, por isso, permitem um rápido recrudescimento das misérias morais que chancelam crimes e homenageiam criminosos, e que punem a dignidade, ignorando os esforços das pessoas de bem, forjando um sistema caótico de vivência social, louvamos as advertências felizes de O Espírito de Verdade, antecipando-nos a necessidade da vigilância e do espírito fraternal, a fim de que cooperemos com o melhoramento das condições espirituais do mundo.

O Livro dos Espíritos refuta toda e qualquer proposta de guerra, enquanto aplaude e incentiva todas as iniciativas e realizações em favor da paz; enaltece os valores da ecologia, ensinando que a nossa casa planetária está sendo, e será mais à frente, aquilo que a ela estamos fazendo ou que viermos a fazer, impulsionados pelas sugestões do livre-arbítrio.

Quando vibramos com os movimentos ecológicos, patrocinados por algumas nações e por entidades não-governamentais, interessadas em modificar para melhor as disposições humanas, relativamente ao nosso lar sideral, aceleram-se-nos as emoções por saber o quanto o Espiritismo nos vem convidando a essas reflexões e a essa tomada de consciência, para que encareçamos a importância de um planeta saudável, a fim de que levemos a bom termo os propósitos da reencarnação. E é em O Livro dos Espíritos que vamos aprendendo a meditar sobre o sublime amor de Deus, que nos deu Jesus como modelo e guia, a fim de que, com Ele e por Ele, não precisemos cair para crescer, nem necessitemos chorar para ser feliz e muito menos cometer desatinos para encontrar o caminho da Grande Luz.

Ao celebrarmos os 150 anos dessa obra de inabordável beleza e indescritível profundidade, que quanto mais combatida mais eloqüente se torna, e quanto mais estudada, mais almas da ignorância e da tormenta liberta, elevamos a nossa gratidão aos Céus, imbuídos de que o Espiritismo é, sem contestação, a mensagem de vanguarda que, devidamente estudada, vivida, sofrida e sentida, tem todos os ingredientes para conduzir a alma humana ao Reino de Deus.



Camilo.
Mensagem psicografada por Raul Teixeira, na Sociedade Espírita Fraternidade, em 15.01.2007, Niterói-RJ.

Envie seu cartão

De:

Para:

© Federação Espírita do Paraná - 20/11/2014