Exaltação ao Livro dos Espíritos
Eram dias de ásperas lutas do pensamento filosófico.

Diluídos os ideais da Revolução Francesa de 1789 e após o naufrágio de Napoleão Bonaparte e o seu lamentável exílio na ilha de Santa Helena, desencarnando no dia 5 de maio de 1821, em Longwood House, os ideais humanistas e de dignidade entraram em decadência.

A cidadania que entusiasmou o povo por breve período com a perseguição sistemática e os inenarráveis dias do terror à nobreza e ao clero, aos inimigos da Revolução, apoiou-se ao materialismo e nas correntes cínicas da negação espiritual para reduzir a vida e a humanidade ao caos do princípio.

Napoleão III fazia pouco traíra os compromissos firmados em favor das liberdades, da democracia e restaurou o poder monárquico, combatendo com vigor os formosos lidadores dos direitos humanos e do povo.

Trono e altar confundiram-se novamente nas tramas do ódio e da ambição, mantendo as graves situações do proletariado e das massas sofridas.

Fazia pouco, em Londres, no dia 21 de fevereiro de 1848, Karl Marx e Friedrich Engels haviam lançado o livro O Manifesto comunista, calcado no materialismo, combatendo o poder arbitrário e as desigualdades sociais.

Enquanto o Iluminismo ou Século das Luzes dava lugar à Enciclopédia e Augusto Comte debatia, nas suas aulas e escritos exuberantes, o Positivismo, parecia que surgira uma solução para os problemas da hora.

No entanto, não foi exatamente o que aconteceu, pois que, nesse campo minado e difícil, de mentes lúcidas e incomuns, mas dominadas muitas pelo pessimismo, apareceu O Livro dos Espíritos, na manhã ainda um pouco brumosa de 18 de abril de 1857, elaborado pelo pedagogo francês de pseudônimo Allan Kardec.

Trata-se de um amanhecer filosófico diferente com a claridade do pensamento para enfrentar os desafios culturais e morais do momento perturbador.

Páginas iluminadas por informações de alto poder de lógica e razão, exatamente no período em que ambas eram discutidas e aceitas, revelavam a realidade da vida, confirmando a imortalidade da alma, o seu processo de evolução e renascimento na busca da plenitude.

Fruto excelente de apurados estudos das comunicações espirituais incontestáveis, alargava os horizontes da inteligência para superar as superstições e a ignorância que vigiam, dando-lhes novas figurações e significados irrefutáveis.

De imediato, despertou a atenção de sábios e acadêmicos, de periodistas famosos e religiosos combatentes, do povo em geral cansado das falsas posturas e impositivos religiosos sem estrutura vigorosa para suportar os camartelos das constatações grandiosas de que se reveste o ser, o seu destino, a sua fatalidade desconhecida...

Escrito com sentimentos dignificantes de honestidade, o seu temário é rico de esperança, esclarecimento e consolação.

Frederico Nietzsche havia escrito que toda ideia nova invariavelmente sofre três tipos de comportamento, quando apresentada à sociedade. A princípio é combatida com ferocidade, logo depois é levada ao ridículo e, por fim, se resistir aos sarcasmos e permanecer, é aceita.

Exatamente foi o que aconteceu com a grande maioria que teve a oportunidade de conhecer a obra monumental que permanece inabalável varando os tempos.

De início, foi negada com rigor, veementemente combatida e desrespeitados os seus conceitos científicos, filosóficos e ético-morais. Escreveram-se páginas arrebatadoras com paixões servis, pelo prazer de negar-se ou por conflitos pessoais e interesses subalternos. Logo depois, padeceu análise injusta e consequentes conceitos de que se tratavam de informações ingênuas, sem fundamentos, ridículas demais, para que merecessem qualquer consideração.

A presunção da falsa cultura ergueu-se para condená-la como doutrina sem valor profundo nem estrutura filosófica moderna ou clássica. E a abominaram.

A segunda agressão foi desencadeada pela ortodoxia das religiões dominantes que consideravam o Espiritismo como um conjunto de ações demoníacas, interferência diabólica, planos satânicos para perverter a humanidade e afastá-la de Deus.

Porque baseados os seus postulados nos ensinamentos de Jesus, logo dispararam tratar-se de uma farsa para enganar os crédulos e serem consumidos nas labaredas infernais.

Por fim, experimentou a zombaria e o descaso, passando a fazer parte das doutrinas abjetas e renegadas.

Os menos cultos, inspirados pelo desprezo dos intelectuais que lhes impunham ideias extravagantes, tinham-no como fruto espúrio de superstições, magias ou animismo africanista transferido de velhas tradições da ignorância para encontrar cidadania cultural.

Havendo resistido a todas essas investidas da má fé, do preconceito, dos interesses do poder dominante, terminou por ganhar o posto honorável de obra digna, verdadeiro contributo para levar qualquer alma ao céu.

Homens e mulheres cultos, livre pensadores interessados em encontrar a verdade leram-no e fascinaram-se com os seus incomparáveis textos, demonstrando ser a resposta aos grandes enigmas da humanidade cansada de sofrimentos, libertando-os das cangas punitivas das religiões intolerantes como do materialismo insensato, tornando-se motivo de acurados estudos.

Cento e sessenta anos transcorridos, permanece inalterável, principalmente nas suas revelações que enfrentaram as mais colossais mudanças históricas do conhecimento cultural, tecnológico e científico, permanecendo pulcro, sem que nenhuma das suas teses haja sido alterada ou ultrapassada ante as conquistas logradas.

A Física quântica substituiu a linear de Newton, a Biologia tornou-se molecular, a Astronomia desvelou os espaços, o microscópio revelou a vida desconhecida de vírus, micróbios e partículas, a Medicina emocionou-se ante o milagre da vida, a Psicologia e suas doutrinas encontraram a alma e O Livro dos Espíritos permanece imbatível, revelador, obra máxima do século XIX, para conduzir a humanidade pelos trilhos da filosofia otimista, da Ciência investigadora e da ética-moral de consequências religiosas à glória estelar.

Saudamos, pois, nesta obra incomparável, o amor de Deus materializando-se na Terra, a promessa de Jesus a respeito de O Consolador em toda a sua grandeza, restaurando os extraordinários ensinamentos do inolvidável Mestre de Nazaré.

Vianna de Carvalho
Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na sessão mediúnica da noite
 de 4 de janeiro de 2017,  no Centro Espírita Caminho da Redenção,
 em Salvador, Bahia.
Em 30.3.2017.

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