Natal
 

NATAL

Maria Helena Marcon

 

É na noite de 24 para 25 de dezembro que se comemora o nascimento de Jesus Cristo. Esse dia ficou conhecido como Natal.

 

Em seus primórdios, a festa do Natal nem sempre foi celebrada nesse dia. Na falta de qualquer documento que registrasse o dia do nascimento de Jesus, os cristãos procuraram, a princípio, hipóteses até mesmo contraditórias. Por mais de trezentos anos, o Seu nascimento foi celebrado em diferentes épocas do ano - enquanto os cristãos do Oriente comemoravam o Natal no dia 6 de janeiro, os do Ocidente o faziam em novembro e dezembro.

 

Somente a partir do século IV é que o Papa Júlio I julgou oportuno estabelecer uma data para a comemoração do nascimento de Jesus. A noite de 24 para 25 de dezembro foi escolhida em função de ser a data que marcava o aniversário do deus Mitra, divindade persa da luz, bem assim as saturnálias em Roma, festa dedicada a Saturno e caracterizada, entre outras formas, pela troca de presentes.

 

A árvore de Natal teve como origem a Alemanha. Alguns atribuem sua idealização a São Bonifácio, missionário que, no século VIII, desejou substituir o culto pagão, realizado nas florestas alemãs ao deus Odim, pelo símbolo do Cristo.

 

Outros dizem que foi Martinho Lutero, no século XVI, o seu idealizador. Conta-se que, na noite de Natal, Lutero caminhava por uma floresta de pinheiros quando percebeu as estrelas brilhando ainda mais belas através dos galhos cobertos de neve. Fascinado, cortou um galho, levou-o para casa e usou velas acesas para que seus filhos compartilhassem do espetáculo que continuava lá fora.

 

Foi trazido para a América, por alemães, na época colonial.

 

A figura do Papai Noel tem origem no culto a São Nicolau, padroeiro da Holanda. Nesse, como em outros países europeus, a Festa de São Nicolau inicia a época de presentes.

 

São Nicolau foi bispo de Mirna, na Ásia Menor, e, segundo consta, fazia inúmeras doações aos pobres. Conhecido, a princípio, por seu nome holandês, Sinter Klaas, com o passar dos anos acabou sendo chamado de Santa Claus, nome equivalente ao de Papai Noel, em língua portuguesa.

 

A figura hoje conhecida como Papai Noel, gordo, barba branca, de roupas vermelhas e brancas e botas pretas foi criado para uma fábrica de refrigerantes, pelo artista sueco Haddon Sundblom, em 1931.

 

Dar presentes, pelo Natal, pode ser considerada uma tradição que tem origem no paganismo, desde que fazia parte das Saturnálias e das festividades nórdicas. O costume entre os cristãos tem origem através do Papa Bonifácio, no século VII.

 

Alguns historiadores, contudo, acreditam que o costume surgiu do hábito de antigos marinheiros e viajantes fazerem ofertas aos monges para esses celebrarem missas, a fim de que a viagem lhes corresse bem.

 

Outra inspiração para os presentes pode ter sido a própria ação dos magos que visitaram Jesus, meses depois do nascimento, e lhe ofertaram ouro, incenso e mirra.

 

O presépio deve sua origem a Francisco de Assis que, na noite de Natal, em 1224, na Itália, teve a ideia de representar o nascimento de Cristo com a encenação, num estábulo verdadeiro, da manjedoura, do boi e do jumento. No século XIII, a representação idealizada pelo fundador das ordens franciscanas já era conhecida em toda a Europa.

 

Os cartões de boas festas têm origens longínquas, na Roma e Egito antigos. Também encontrados em tabuinhas de madeira da Idade Média.

 

Na Áustria, no final do século XIX, apareceram os primeiros cartões impressos e ilustrados.

 

Durante a guerra de 1870, entre a Alemanha e a França, a falta de papel e de envelopes aguçou a criatividade de um oficial prussiano ou talvez de um livreiro de uma pequena localidade austríaca que usou as capas de alguns cadernos de colégio para que os soldados pudessem escrever aos seus parentes. Nasciam assim os primeiros cartões postais. Não permitiam, a princípio, que se redigisse nenhum texto no verso, exceto o nome e endereço do destinatário. Na frente apareciam os votos de felicidade e a ilustração, por vezes bastante borrada.

 

Depois, os artistas derramaram sua imaginação e talentos nos desenhos e foram surgindo os mais belos cartões, não somente para o Natal, quanto para outros momentos. Com o tempo, passaram a ser produzidos de forma industrial, em grandes  quantidades.

 

Os cartões ingleses impressos apareceram, pela primeira vez, na Grã-Bretanha, no ano de 1843. Foi Sir Henry Cole, fundador do Victoria and Albert Museum que mandou preparar, às vésperas do Natal, mil cartões, para desejar Um bom Natal e Feliz Ano Novo.

 

Também contribuiu para o surgimento dos cartões de Natal Sir Dobson, da Real Academia de Belas Artes de Londres. A ideia foi sendo imitada, copiada e se generalizou, atingindo outros países.

 

Em 1951, nasceram os cartões da Unicef - Fundo das Nações Unidas para a Infância. Uma menina tchecoslovaca de sete anos entregou a uma organização beneficente um quadro que pintara, como forma de gratidão pela ajuda que a entidade havia dado à sua aldeia, devastada pela guerra.

 

A pintura da pequena Jitka Samkova, que mostrava cinco meninas sorridentes dançando ao redor de um poste enfeitado de flores, se tornou o primeiro cartão de felicitações da Unicef e iniciou uma formidável indústria solidária.

 

As velas acendidas no Natal para enfeitar as árvores e outros arranjos têm origem comum: o culto pagão ao fogo. Só o tempo fez desaparecer as orgias saturnas e ajudou a apagar as recordações sobre a origem do fogo, que era o velho culto ao Sol.

 

A respeito da Canção de Natal existe, entre outras, a seguinte versão:

 

Era a véspera de Natal do ano de 1818. Em Hallein, nos Alpes austríacos, o Padre Joseph Mohr lia a bíblia. Detinha-se nos versículos que narravam o nascimento de Jesus. Em especial aquele que se referia às palavras do visitante celeste aos pastores de Belém: Eis que vos trago uma boa nova, que será de grande alegria para todo o povo: hoje nasceu o Messias, o esperado...

 

Nesse instante, bateram à porta. Uma camponesa pedia que fosse abençoar o filho de uns pobres carvoeiros que acabara de nascer. O padre colocou as botas de neve, vestiu seu abrigo, atravessou o bosque, subiu a montanha e encontrou em pobre cabana de dois cômodos, cheia de fumaça do fogão, uma mulher com seu filho nos braços. A criança dormia.

 

O Padre Mohr deu sua bênção ao pequeno e à mãe. Uma estranha emoção começou a tomar conta dele. A cabana não era o estábulo de Belém, mas lhe fazia lembrar o nascimento de Jesus.

 

Ao descer a montanha, de retorno à paróquia, as palavras do Evangelho pareciam ecoar em sua alma. Aproximando-se da aldeia, pôde observar os archotes que brilhavam na noite, disputando seu brilho com o das estrelas. Era o povo que seguia para a igreja, a fim de celebrar, ali, em oração, o aniversário do Divino Menino. A milenária promessa de paz e boa - vontade vibrava no silêncio do bosque e no brilho das estrelas.

 

Padre Mohr não conseguiu dormir naquela noite. Febricitante, ergueu-se do leito, tomou da pena e escreveu um poema, externando o que lhe extravasava da alma.

 

Pela manhã procurou o maestro Franz Gruber, seu amigo e mostrou-lhe os versos.

 

O maestro leu o poema e disse, entusiasmado: Padre, esta é a canção de Natal de que necessitamos!

 

Compôs a música para duas vozes e guitarra, porque o órgão da Igreja, o único na localidade, estava estragado. No dia de Natal de 1818, as crianças se reuniram , debaixo da janela da casa paroquial, para ouvir o padre Mohr e o maestro Gruber cantarem.

 

Era diferente de tudo quanto haviam escutado. Noite de paz, noite de amor...

 

Dias depois, chegou ao povoado o consertador de órgão. Consertado o instrumento da igreja, o maestro Gruber tocou a nova melodia, acompanhado pela voz do padre. O técnico em consertos  de órgão era também um excelente musicista e  bem depressa aprendeu letra e música da nova canção.

 

Consertando órgãos por todos os povoados do Tirol, como gostasse de cantar, foi divulgando a nova canção de Natal. Não sabia quem a tinha composto pois nem o padre Mohr, nem o maestro Gruber lhe tinham dito que eram os autores.

 

Entre muitos que aprenderam a canção, quatro crianças, os irmãos Strasser passaram a cantá-la.

 

Um dia, em Leipzig, estando na feira a vender luvas, como ninguém lhes comprasse nada, decidiram cantar para espantar o desânimo.

 

Os visitantes da feira começaram a parar para escutar a canção favorita dos pequenos: Noite de paz.

 

O diretor de música do reino da Saxônia, em ouvindo-lhes as vozes claras e afinadas, se interessou por eles e os levou a assistir um concerto. Para sua surpresa, os pequenos se viram conduzidos à primeira fila do imenso teatro. Tímidos, quase envergonhados, puseram-se a ouvir, enlevados, a maravilhosa música.

 

Depois da orquestra se apresentar, o Diretor de Música se dirigiu à plateia dizendo que entre eles se encontravam quatro pequenos cantores, portadores de invejáveis vozes e convidou-os a cantar. Nervosos, eles se dirigiram ao palco. Contemplando aquelas centenas e centenas de olhos fixos neles, tomaram-se de quase pavor. Finalmente, deram-se as mãos e resolveram fechar os olhos, imaginar que estavam na feira e escolheram cantar Noite de Paz.

 

A sala vibrou com os aplausos. A fama dos pequenos cantores se espalhou por toda a Europa e a canção apaixonava os corações.

 

Mas ninguém sabia dizer quem era o autor.

Foi um maestro de nome Ambrose quem conseguiu chegar até  Franz Gruber.

 

Haviam se passado mais de trinta anos. E a história do surgimento da canção de Natal foi escrita em 30 de dezembro de 1854.

 

Não são conhecidas outras músicas de Franz Gruber. A Noite de Paz parece ter sido sua única produção.

 

Não será possível crer que as vozes do Céu, que se fizeram ouvir na abençoada noite do nascimento de Jesus, tivessem inspirado os versos e a primorosa melodia para que nós, os homens, pudéssemos cantar com os mensageiros celestes, dizendo da nossa alegria com a comemoração, a cada ano, do aniversário do nosso Mestre e Senhor?

 

Bibliografia:

 

01.FRANCO, Divaldo Pereira. Bênçãos do natal. Pelo espírito Joanna de Ângelis. Salvador: LEAL, 1998.

 

02.RODRIGUES, Wallace Leal. Remotos cânticos de Belém. 2. ed. Matão: O CLARIM, 1986.

 

03.TEIXEIRA, J. Raul. No rumo da sublime estrela - pelo natal de Jesus. Niterói: FRÁTER, 2005.     

 

04.VINICIUS. Oração do natal. In:___. Nas pegadas do mestre. 6. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 1982.

 

05.______. Considerações sobre o natal. In:___. Na seara do mestre. 4. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 1979.

 

06.______. Cristo nasceu? Onde? Quando? In:___. Em torno do mestre. 4. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 1979.

 

07.______. Jesus e o seu natal. Op. cit.

 

08.XAVIER, Francisco Cândido. Antologia mediúnica do natal. 2. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 1982.

 

09.PENDERGRAST, Mark. Por Deus, pela Pátria e pela Coca-Cola - a história não-autorizada do maior dos refrigerantes e da companhia que o produz. [São Paulo]:  EDIOURO, [199... ].


© Federação Espírita do Paraná - 20/11/2014