Centro Espírita em Férias

Existem alguns paradoxos no nosso cotidiano brasileiro, que nos dá o que pensar.

 

Em grande número de municípios, as ambulâncias são veículos de modelo Kombi, de suspensão firme e dura. Já os carros funerários são Gálaxie, Caravan, veículos com suspensão para trafegar macio, sem socos e solavancos. Ou seja, o doente segue sacolejando; o finado vai numa boa.

 

Greve por melhorias de salário: na saúde, fecham-se os hospitais, dificultando a vida do doente, exatamente daquele que lhe é fonte de receita. No transporte urbano de passageiros, proíbe-se a circulação dos veículos, gerando transtornos e enorme antipatia ao movimento reivindicatório por parte da população, a mesma população que paga os seus salários. Ou seja, penaliza-se quem deveria ser bem atendido.

 

No meio espírita, também há paradoxos.

 

Centro Espírita surgiu, pela disposição altruísta e iniciativa voluntária de algumas pessoas idealistas, para congregar os interessados no conhecimento e nas práticas espíritas, notadamente a manutenção das tarefas implementadas na Casa em prol da população, crianças, jovens e adultos, desejosos de estudo, de convivência, de assistência.

 

Tanto se fez assim, que Centro Espírita é tido como Templo, Escola, Oficina e Hospital de almas.

 

Onde está o paradoxo, a contradição?

 

No momento em que as portas do Templo, da Escola, da Oficina e do Hospital de almas se fechem em nome de férias, feriadões, festas populares, recessos e outros afins, e com isso dizendo a quem busque orientações nobres, solução a problemas, lenitivo à dor, bálsamo à enfermidade, ou àqueles que querem fugir do desespero, da fome e da penúria material, da perturbação espiritual, da tentação do suicídio, da inclinação ao abortamento, que esperem até a próxima oportunidade para serem atendidos, quando voltarem as atividades "normais" do Centro.

 

Descanso, passeio, distração, lazer. Ninguém está impedido do repouso. Apenas, antes de sair de férias, avise, planeje, combine, organize, remaneje, reveze, sacrifique, de maneira a que o Centro Espírita e suas tarefas, não sofram solução de continuidade.

 

Não se coaduna: Centro Espírita e férias. Seu fechamento vai contra àqueles que são os principais motivadores da existência do próprio Centro: nós, as pessoas, com nossos interesses, nossas necessidades, nossas carestias.

 

Centro Espírita e recesso por causa de férias ou feriadões, deve ser como água e óleo, próximos, porém sempre apartados. Pura contradição.


Jornal Mundo Espírita
Redação - Direx
julho/2004

© Federação Espírita do Paraná - 20/11/2014