Federação Espírita do Paraná - 77 anos

Opúsculo de autoria de Honório Melo publicado em 1979


Apresentação


A FEDERAÇÃO ESPÍRITA DO PARANÁ, ao completar seus setenta e sete anos de fundação publica este modesto trabalho em homenagem a seus onze presidentes (todos desencarnados), - no decurso dessa longa jornada de sua fecunda obra nos campos social e doutrinário.

 

Iniciando uma caminhada verdadeiramente nova no âmbito da programática espírita da época, a Federação propôs-se a realizar uma trajetória social espírita reunindo os adeptos da nova doutrina para uma programação de caráter sócio-doutrinário.

 

Antecipava-se a lançar as bases de uma entidade futura, na qual o homem, ao mesmo tempo que praticasse sua fé, agisse no sentido de reafirmar que "a fé sem obras é morta". Propunha-se a reunir seus adeptos e simpatizantes para uma ação conjunta, no sentido de materializar a recomendação evangélica do "Amai-vos uns aos outros", sob o lema de "Trabalho, Solidariedade e Tolerância".

 

Ao mesmo tempo que lutaria para que a chama da fé não se tornasse bruxoelante, diante do avanço da ciência, sustentaria o valor do trabalho do mundo espiritual, facilitando a abertura dos caminhos para o livre aproveitamento dos recursos mediúnicos, escoimados, tanto quanto possível, dos inconvenientes e de deturpações tão comuns em todos os tempos. Partindo, por conseguinte, para a utilização do intercâmbio com os chamados mortos, sem os naturais atavios que lhe poderiam tornar uma crença mórbida e soturna.

 

E através desses longos anos, contando sempre com o destemor de seus dirigentes e a fortaleza de ânimo de todos os seareiros que, em torno de si, se aglutinaram, a Federação desenvolveu seu programa de ação, atuando de maneira respeitável no campo doutrinário e concorreu para minorar o sofrimento alheio.

 

Através de sua constante presença no trabalho efetivo, levou a toda comunidade espírita paranaense a palavra de ordem e de fé, ensinando e exemplificando aquilo que seus fundadores e continuadores aprenderam nas obras básicas da Nova Revelação.

 

Seus primórdios sociais estribaram-se nos trabalhos pioneiros de um grupo de apóstolos do bem, encarnados em varões respeitáveis, que tiveram a sua frente a liderança daqueles que participaram do ato de sua fundação. Ali não apareceram, entretanto, os nomes de Manoel José da Costa e Cunha e Maria de Jesus Gonçalves, além de outros mais que, logo a seguir, vieram incorporar-se ao mesmo grupo.

 

A ata de fundação, já publicada anteriormente, vai a seguir reproduzida:

 

ACTA da Fundação da Federação Espírita do Paraná


Aos Vinte e quatro dias do mez de Agosto de mil novecentos e dois, reunidos na sala da redação da "A Doutrina" na rua America numero nove, às dez horas da manhan, os abaixo assinados, convidados pela mesma redacção para o fim de tratar-se da fundação da Federação Espírita do Paraná, ahí de commum accôrdo, resolveram o seguinte:

 

1º - Fundar nesta cidade de Curityba, capital do Estado do Paraná, uma Sociedade Espírita para o estudo e propaganda da doutrina;

 

2º - Formular as bases para a organisação da projectada Sociedade;

 

3º - Dar à mesma o título de Federação Espírita do Paraná, tendo por fim principal o disposto no parágrafo 1º e unir pelos laços da federação todos os Grupos Espíritas existentes neste Estado, formando uma só comunhão como único meio a que se deve recorrer para suster a decadência da propaganda espírita.

 

Em seguida, usando da palavra, o confrade Sr. Domingos Duarte Velloso, disse que tinha já confeccionado as bases para a organisação dos Estatutos e pedia o consentimento para apresental-as. Sendo deferido este pedido, foram lidas as ditas bases, sendo depois de soffridas algumas alterações approvadas, para serem postas em discussão na reunião que para esse fim será opportunamente convocada.

 

Foi lido um officio dos Grupos Espíritas "Allan Kardec e Luz nas Trevas" de Antonina, declarando adherirem aos fins da reunião, sendo resolvida a inclusão dos referidos Grupos na lista dos fundadores.

 

Resolveu-se marcar o próximo dia 31 de Agosto corrente, para outra reunião na qual se escolherá a Directoria provisoria, e as Commissões necessárias para a redacção dos Estatutos.

 

Nada mais havendo a tratar-se foi encerrada a reunião, sendo por mim Vicente Nascimento Junior lavrada a presente Acta, que vae assignada pelos confrades presentes.

 

Vicente Nascimento Jr., Redactor d'A Doutrina", Augusto Correia Pinto, Benecdito Vianna - João Urbano de Assis Rocha - Sebastião Paraná - João Alvaro de Aguiar - Domingos Duarte Velloso - Grupo Espírita "Allan Kardec", de Antonina - Grupo Espírita "Luz nas Trevas", de Antonina.

 

Constituída a nova Federação, uma das primeiras agremiações de caráter federativo organizadas em nosso país e que, efetivamente assim tem agido durante toda sua existência, teve a frente de suas Diretorias os seguintes presidentes:

 

1) João Urbano de Assis Rocha - De 31/08/1902 a 04/10/1903

 

2) Dr. Sebastião Paraná - De 04/10/1903 a 13/01/1907

 

3) Vicente M. Nascimento Junior - De 13/01/1907 a 30/08/1908

 

4) João Pedro Schleder - De 30/08/1908 a 10/04/1909

 

5) José Lopes Neto - De 10/04/1909 a 31/01/1912 e de 14/01/1914 a 10/01/1915

 

6) Professor José Nogueira dos Santos - De 10/01/1915 a 09/01/1916 e de 12/01/1930 a 10/01/1932

 

7) Arthur Lins de Vasconcellos Lopes - De 09/01/1916 a 14/01/1917, de 14/01/1923 a 16/01/1927 e De 13/01/1929 a 12/01/1930

 

8) Dr. Flávio Ferreira da Luz - De 14/01/1917 a 09/01/1920, de 09/01/1921 a 08/01/1922 e De 26/01/1927 a 08/01/1928

 

9) Olímpio Alves Lisboa - De 10/01/1920 a 09/01/1921 e de 08/01/1922 a 14/01/1923

 

10) Marcolino José Monteiro - De 08/01/1928 a 13/01/1929

 

11) João Ghignone - De 10/01/1932 a 08/06/1978

 

Para retratar melhor aqueles que personificaram seus onze presidentes, até João Ghignone o último deles, após 46 anos consecutivos de exercício e que desencarnou no cargo, passamos a registrar, a seguir, os traços biográficos dos mesmos, prestando-lhes, assim, a singela homenagem da Casa Máter, como gratidão de seus atuais diretores, pelo muito que fizeram em prol da Causa Espírita.


João Urbano de Assis Rocha
Presidente de 31/08/1902 a 04/10/1903

 

João Urbano


Velho militante da Doutrina Espírita, pertencia ao Grupo Espírita do Serrito, antes da Fundação da Federação Espírita do Paraná.

 

Subscritor da ata de fundação, aos 2 de Agosto de 1902, foi eleito presidente no primeiro período social - Diretoria Provisória - De 31-08-1902 a 04-10-1903.

 

Deixou a presidência, mas continuou a prestar excelente colaboração à causa do Espiritismo, principalmente no setor doutrinário.

 

Esposo que fora da prestimosa e saudosa médium Josefina Rocha, trabalhou durante longos anos a seu lado na prestação dos mais assinalados serviços. A 11-07-1920 foi eleito Sócio Benfeitor da Federação, como prêmio a sua dedicação. A 13-01-1924 foi eleito membro efetivo do Conselho Central Permanente e a 14 do mesmo mês e ano foi designado para as funções de Diretor do Núcleo Central , departamento que agremiava os associados à Federação e que respondia pela execução dos trabalhos que se realizavam em sua sede social. Em 10-01-1926 foi eleito 2º Vice-Presidente, cargo que deixou a 16-01-1927. Deixou o cargo de Conselheiro, a pedido, em 14-10-1928, em virtude de seu estado de saúde não lhe permitir oferecer a colaboração que sempre foi a grande característica de seu caráter.

Dr. Sebastião Paraná de Sá Sottomaior
Presidente de 04/10/1903 a 13/01/1907

Sebastião

Nasceu em Curitiba-PR, em 19-11-1864, e desencarnou em 08-03-1938. Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, muito contribuiu para enriquecer as letras e a cultura do Paraná. Foi educador emérito e nesse campo de trabalho exerceu grande influência na formação da juventude estudiosa. Lente catedrático de Geografia Geral e do Brasil do antigo Ginásio Paranaense e da Escola Normal de Curitiba, hoje Instituto de Educação, dois grandes estabelecimentos de ensino de nossa terra, dos quais também foi Diretor, Atingiu, no magistério público, cargo de Diretor Geral de Ensino do Paraná, equivalente ao de Secretário de Educação. Em 1901, fez parte do Poder Legislativo Estadual, como Deputado.

 

Como jornalista, foi Diretor do Jornal "A Tribuna" e redator de "O Município" e d'"A República".

Teve publicadas várias obras de sua lavra, inclusive "História do Paraná".

 

Sua vida Espírita foi bastante intensa com reais serviços prestados à causa do Espiritismo.

 

Fundador da Federação e eleito seu primeiro presidente após a aprovação dos estatutos sociais em 04-10-1903, cargo em que permaneceu por reeleição até 13-01-907. Membro da Comissão Central de 02-08-908 à 18-07-1909 e de 13-01-1918 à 1919. Foi Diretor do Núcleo Central; Diretor da Caixa Escolar e de Estudos Doutrinários. Autor do livro "Vade-mecum" (Preces e ensinos espíritas) editado pela Federação em 1929-30.

Vicente Montepoliciano do Nascimento Junior
Presidente de 13/01/1907 a 30/08/1908

Vicente


Nascido em 24-01-1880, em Guaratuba, e desencarnado em 04-02-958, em Paranaguá. Ainda jovem e com grandes pendores literários foi um dos fundadores da Federação Espírita do Paraná, representando ao mesmo tempo os Grupos Espíritas "Allan Kardec" e "Luz nas Trevas", da cidade de Antonina.


Desde logo passou a participar da Diretoria sendo seu primeiro cargo o de 1º Secretário, em 31-08-1902. Sempre em atividade integrou a Comissão fiscal em 1906. A 20-01-1907 foi eleito presidente e reeleito em Dezembro do mesmo ano. De 1908 a 08-01-1911 foi Secretário Geral e em 1912 e 1913, eleito e reeleito Presidente. Autor de um trabalho enviado ao Congresso alemão sobre mediunidade, foi um dos preparadores e participantes do Congresso Espírita reunido em Ponta Grossa em 1915. Exerceu além de outros cargos o de Secretário Geral, de 17-01-1915 a 14-01-1917. Permaneceu no Conselho até 13-07-1919 e sua última presença na Secretaria Geral foi em 1921.

 

Sua vida pública foi intensa e entre outras funções de relevo exerceu o cargo de Prefeito de Paranaguá.

 

Durante o longo período em que pertenceu aos quadros da Federação, especialmente como Secretário, muito realizou em favor da causa espírita.

 

Teve grande projeção no meio jornalístico paranaense e foi um gigante das letras nas colaborações que prestou durante sua existência.

João Pedro Schleder
Presidente de 30/08/1908 a 10/04/1909

João Pedro Schleder


Foi fundador da Federação Espírita do Paraná e em 2/8/1908, passou a integrar a Comissão Central Permanente, primeiro Conselho Superior e Legislativo da nova entidade. Em 30 do mesmo mês e ano foi eleito presidente, permanecendo no cargo até 11/04/1909. Em 10/7/1921, desencarnou, sendo na oportunidade o Conselheiro mais antigo. Infelizmente não há nos registros da Federação melhores informes sobre as atividades desse confrade, que permaneceu por quase 20 anos como membro efetivo do órgão superior. Esse fato, todavia, não desmerece seu valor como membro que foi da família federativa.

José Lopes Neto
Presidente de 10/04/1909 a 31/01/1912 e de 14/01/1914 a 10/01/1915

José Lopes Neto


Fundador da Federação Espírita do Paraná. Elemento jovem, causou verdadeira admiração sua disposição pelo trabalho no Campo da Doutrina. Muito moço ainda, Lopes Neto, tinha sobre seus ombros os encargos da casa e, na luta árdua pelo ganha pão de cada dia, sentia um entusiasmo inusitado pelas belezas da nova fé que abraçara com extrema convicção. Assim, em 11/11/1904, era conduzido ao cargo de 2º Secretário da Diretoria.


Foi o primeiro orador espírita a sair para o interior do Estado levando a palavra da nova Revelação, ainda não bem conhecida em nossos arraiais. Em 10/12/1905 foi eleito 1º Secretário da Federação e em 10/12/1906 eleito Vice-Presidente, em cujo cargo permaneceu até 13/1/1907.

 

Em 2/8/1908 foi eleito para a Comissão Central, órgão equivalente a um Conselho Soberano e, em 30/8/1908, eleito Secretário Geral. Em 10/4/1909 eleito Presidente, permaneceu até 3/1/1912. Em 3/3/1912 afastou-se até 12/1/1913 da Comissão Central. Retorna a Presidência em 11/1/1914 até 10/1/1915. Sem se afastar de suas atividades nos trabalhos doutrinários, sobretudo com atuação de sua lúcida qualidade de médium. Ainda exerceu as funções de Procurador e Redator de "Monitor Espírita" nos anos de 1916 e 1917. Foi também Diretor do Albergue Noturno, interinamente, em 1917, ano em que, ainda jovem, em 9/10/1917 encerrou seu ciclo na presente existência, após tão assinalados serviços prestados à Federação Espírita do Paraná. Moço modesto e sem os lauréis acadêmicos, revelou-se espírito grandemente amadurecido e quiçá escolhido pelo alto para o exercício da tarefa. Teve como outros confrades de seu tempo uma atuação superior a 15 anos, com dedicação e verdadeiro amor à Doutrina.

Professor José Nogueira dos Santos
Presidente de 10/01/1915 a 09/01/1916 e de 12/01/1930 a 10/01/1932

Professor José Nogueira dos Santos


O Professor José Nogueira dos Santos foi o 6º Presidente da Federação Espírita do Paraná e um dos seus mais atuantes membros contando mais de 20 anos como seu Diretor.

 

Nascido na cidade de Palmeira, Estado do Paraná, em 2 de Outubro de 1870, e desencarnado em Curitiba, em 24 de Julho de 1956, foi exemplo de homem em sua existência terrena de 85 anos.

 

Foi casado com D. Maria da Luz Pinto e de seu matrimônio houveram 9 filhos, dos quais cinco mulheres e quatro varões. O Professor Nogueira foi músico e inventor. De sua invenção existe um instrumento musical denominado "Politon" e um Manual de Estenografia. Foi também poeta, tendo produzido excelentes versos. Em 1951, publicou o livro "Vigílias" contendo mais de 120 poesias. Lecionou no Instituto Comercial do Paraná de 10 de Maio de 1910 até a data de 22 de Fevereiro de 1932.

 

Ingressou na Federação Espírita do Paraná em 13 de Julho de 1913, como Delegado do Centro Espírita "Paz e Luz" de Paranaguá. Em 10 de Janeiro de 1915 foi eleito Presidente da mesma entidade, tendo deixado o cargo a 9 de Janeiro de 1916. Grande amigo de Arthur Lins de Vasconcellos e de Flávio Ferreira da Luz, compôs com os mesmos os quadros direcionais da Federação por longos anos. Seus 20 anos de atividades constantes nos quadros da Casa Máter Espírita do Paraná, tiveram sua presença em vários cargos e funções, como um dos mais legítimos servidores; Presidente - de 10-01-1915 a 1916 e de 18-04-1929 a 10-01-1932. 1º Vice-Presidente - de 11-01-1921 a 08-01-1922; de 13-01-1924 a 11-01-1925; de 16-01-1927 a 08-01-1928; de 13-01-1929 a 18-04-1929 e de 11-01-1933 a 1935 - 2º Vice-Presidente - de 08-01-1922 a 13-01-1923 e de 01-01-1928 a 13-01-1929.

 

Em suas várias atividades foi Diretor do Núcleo Central e Membro das mais importantes Comissões. Exerceu a Direção das Escolas Elementares e das Escolas de Doutrina e bem assim a Presidência da Sociedade Publicadora Kardecista. No exercício da Presidência foi quem assinou a escritura de compra da área do terreno onde está construído o Sanatório "Bom Retiro".

 

Em 12-01-1936, deixou o Conselho Deliberativo, após mais de 20 anos e foi elevado a categoria de Sócio Benfeitor da Federação Espirita do Paraná e membro honorário do mesmo Conselho.

 

Conhecedor dos ensinos doutrinários e sempre fiel à linha da Codificação, por muitas vezes usou da palavra em público para ensinar e deleitar aos que escutavam seu verbo sempre fluente e sua linguagem castiça.

Arthur Lins de Vasconcellos Lopes
Presidente de 09/01/1916 a 14/01/1917, de 14/01/1923 a 16/01/1927 e de 13/01/1929 a 12/01/1930

Arthur Lins de Vasconcellos Lopes


Nascido na Paraíba, cidade de Teixeira, em 27-03-1891, começou cedo a luta pela existência. Ainda muito moço e já detentor de grande censo de responsabilidade, foi ao lado de outros homens de valor, um dos sustentadores do movimento federativo iniciado pela Federação Espírita do Paraná na segunda década deste século.


Ingressou nos quadro da Casa Máter do Paraná em 31 de Janeiro de 1912 e desde logo passou a exercer asa funções de Diretor do Jornal "Monitor Espírita". Em 1913 tornou-se elemento integrante dos quadros diretivos, sendo eleito Secretário já em Janeiro de 1914, cargo que exerceu até Janeiro de 1916, quando assumiu pela primeira vez a Presidência.

 

Em 1918, 1920 e 1921, exerceu as funções de Secretário Geral em 1919 as de Tesoureiro Geral. Em 1923, 1924, 1925, 1926 e 1929 voltou novamente à Presidência, tendo exercido a 2ª vice em 1927.

 

Em 1930, renuncia a Presidência em virtude de ter que se transferir para fora do Estado. Em 13-04-1930 foi eleito presidente honorário da Federação Espírita do Paraná, como reconhecimento aos relevantes serviços prestados. Se até essa data ele havia sido um dos grandes baluartes do movimento espírita do Paraná e um dos maiores trabalhadores da Federação, daí por diante continuou a ser o amigo sempre presente até a data de sua desencarnação.

 

Efetivamente, de 1912 a 1930, sua ação foi permanente, tanto na tribuna, como nos setores doutrinários e administrativos. Os primeiros passos para a construção do Sanatório "Bom Retiro" e de outras obras foram, sem dúvida nenhuma, contribuição do trabalho dedicado por ele desenvolvido, ao lado de um Nogueira dos Santos e Flávio Luz, cujo grupo geriu praticamente os destinos da Federação de 1915 a 1932, embora recebendo a colaboração decidida de vários outros confrades. Muito embora afastado dos quadros direcionais da Federação, muito contribuiu com seu apoio a tudo quanto foi realizado. A conclusão das obras do Sanatório "Bom Retiro" deveu-se a sua contribuição econômica. Seu legado por ocasião da desencarnação, veio fortalecer as possibilidades da Federação para a realização do programa que vem desenvolvendo nos campos sociais e doutrinários. Sua desencarnação, no dia 21-03-1952, deu à Federação Espírita do Paraná a posse do jornal "Mundo Espírita", que lhe pertencia até então.

Flávio Ferreira da Luz
Presidente de 14/01/1917 a 09/01/1920, de 09/01/1921 a 08/01/1922 e De 26/01/1927 a 08/01/1928

 

Flávio Ferreira da Luz


Nascido em 18 de Agosto de 1887 na Rua Comendador Araújo, em Curitiba, Capital do Estado do Paraná, onde hoje é a sede da Sociedade Thalia. Desencarnou em 20/3/1954. Foram seus pais José Ferreira da Luz e Bertholina Pereira da Luz. Em 1905 matriculou-se na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, tendo concluído o curso de Bacharel em Direito em 1909. Contraiu núpcias em 19 de Abril de 1910 com a senhorita Sarah Lopes, que passou a assinar-se Sarah Lopes Luz . Desse casamento houveram cinco filhos: Cid, Clotilde, José, Ruy e Laura.

 

Sucedeu seu genitor como titular do Cartório de Registro de Imóveis do 1º Distrito da Capital. Foi, em companhia de Nilo Cairo, que era seu concunhado, um dos idealizadores e fundador da atual Universidade do Paraná. Foi pioneiro da radiofonia no Paraná e um dos fundadores da Rádio Clube Paranaense - a nossa PRB-2.


Ainda muito jovem, já se dedicava as pesquisas no campo do Espiritismo. Em 18-07-1915, era incluído nos quadros da Federação Espirita do Paraná, como membro da Comissão Central e já em 14 de Janeiro de 1917 era eleito Presidente, sendo reeleito para os anos de 1918, 1919, 1920 e 1921. Em 1920 participou da primeira comissão organizadora do Hospital Espírita. Sua vida foi por longos anos, dedicada, além da família, às mais diversas atividades sociais e à Causa da Doutrina Espírita. Companheiro inseparável das atividades Espíritas de Arthur Lins de Vasconcellos, esteve ao seu lado até o ano de 1930. Sua folha de serviços prestados ã Federação Espírita do Paraná é uma das mais repletas de dedicação. Assim é que, tendo deixado a Presidência em 1922, a ela voltou em 16 de janeiro de 1927, depois de ter exercido o Cargo de Secretário Geral de 20 de Janeiro de 1923 a Janeiro de 1926. Foi Diretor da Revista de Espiritualismo, onde o brilho de sua pena e o fulgor de sua inteligência, ao lado de seus conhecimentos doutrinários, marcaram estupenda contribuição à divulgação da Doutrina Espírita. Em 1926 foi eleito 1º Vice-Presidente e em 16 de janeiro de 1927 volta à Presidência. Antes porém, de retornar a Presidência, foi, no ano de 1925, na qualidade de Diretor da Revista Espiritualista e Secretário da Federação, subscritor de um telegrama de protesto dirigido aos poderes públicos, contra a tramitação na Assembléia Legislativa do Paraná, de um projeto de Lei, mandando o Governo do Estado doar à Igreja Católica, para instalação de dois Bispados, de uma gleba de centenas de alqueires de terras pertencentes ao patrimônio do Estado.

Marcolino José Monteiro
Presidente de 08/01/1928 a 13/01/1929

Marcolino José Monteiro

Nascido na cidade da Lapa-PR, em 05-08-1865, foi casado com D. Coletinha de Faria Monteiro. Por longos anos foi funcionário da Rede Viação Paraná-Santa Catarina.


Em 14-01-1912 ingressou, pela primeira vez nos quadros federativos como membro da Comissão Central, deixando-a em 12-01-1913. Em 25-11-1917 assume a direção do Albergue Noturno, tendo deixado em 21-11-1919. Em 08-01-922 é designado para Secretário do Núcleo Central e a 08-04-1923 foi eleito para o Conselho Central Permanente. A 08-01-1928 eleito Presidente e em 12-01-1929 assume a 2ª Vice-Presidência. Em 11-10-1931 deixa o Conselho, após servir à causa por mais de 15 anos. Em 08-07-1948 desencarnou com aproximadamente 84 anos.

Olympio Alves Lisboa
Presidente de 10/01/1920 a 09/01/1921 e de 08/01/1922 a 14/01/1923

Olympio Alves Lisboa

Nascido em 01 de Setembro de 1873 em Guarapuava-PR. Foi por longo tempo industrial e comerciante, tendo chegado por vezes ao exercício de funções públicas.


Ingressou nos quadros federativos como membro do Conselho Permanente em 13-01-918. Exerceu a Presidência de 11-01-920 a 09-01-921 e de 08-01-922 a 14-01-923.

 

Foi incansável trabalhador e sempre pautou sua vida dentro dos preceitos cristãos. Desencarnou em 16-12-941, na cidade de Curitiba, após duras lutas enfrentadas, face às vicissitudes que a existência lhe reservou.

João Ghignone
Presidente de 10/01/1932 a 08/06/1978

João Ghignone

Nascido em 11 de fevereiro de 1889 - foi o 11º Presidente da Federação Espírita do Paraná, quando já pertencia aos quadros sociais da Casa Máter há mais de 10 anos. Desde 1919 exerceu várias funções e ocupou diversos cargos com muito amor e dedicação. Sua presença sempre acatada facultou-lhe a prestação de serviços de valor inestimável. Desde a direção do velho Albergue Noturno até a Presidência, sua assiduidade constituiu sempre uma das mais firmes características de sua personalidade.

 

Afeito ao trabalho doutrinário e à administração com interesse desusado, não se furtou às longas viagens ao interior do Estado ou aos Estados vizinhos para participação em Congressos, Confraternizações ou festividades, chefiando a representação da Casa Máter.

 

Os mais notáveis acontecimentos nos setores doutrinários brasileiros, quer na antiga Capital Federal, no Rio Grande do Sul, São Paulo, Goiânia ou Salvador, sempre contaram com sua presença e atuação autêntica de grande defensor dos legítimos ideais espíritas.

 

Em 1978, completou 50 anos como membro efetivo do Conselho Deliberativo, e aproximadamente 60 anos como integrante dos quadros federativos.

 

Durante seus longos anos de gestão como presidente e ao lado principalmente de seus colegas de Diretoria, dos quais se destaca, sem favor nenhum, o atual presidente Abibe Isfer, foram construídas as grandes obras da Federação, como o Albergue Noturno da Rua Cabral, o Sanatório "Bom Retiro", o Lar "Icléa", o Lar "Hercília de Vasconcellos", de Paranaguá, a Creche "Mariinha", de Campo Largo, A creche "Josefina Rocha" de Curitiba e o Instituto "Lins de Vasconcellos", além de outras mais que integram a comunidade Espírita Paranaense.

 

João Ghignone, dedicado ao comércio de livros nesta Capital, foi um homem inteiramente voltado para as nobres causas, tendo merecido sempre o respeito e consideração das grandes empresas que mantinham relações com sua firma comercial.

 

Vivendo para o lar, para seus negócios e para tudo quanto dele reclamasse as atribuições de suas funções de presidente da Federação, não media sacrifícios, até mesmo da própria saúde, para que nada perecesse pela sua ausência. E assim foi, até quando, quase de surpresa, naquele 8 de Junho de 1978, deixou, de um dia para outro, tudo o que amava neste mundo.

 

E hoje que lhe estamos prestando mais uma homenagem , além daquelas que merecidamente já tributamos ao seu Espírito, não podemos olvidar nossa grande saudade de sua presença física e o reconhecimento por tudo quanto fez por nossa causa.

 

Para concluir a página dedicada a João Ghignone, encerrando o ciclo de Presidentes, é merecido que transcrevamos o que há fora do mundo espírita a seu respeito.

 

João Ghignone nasceu em Serravalle - Sévia na Itália, porém transferiu-se para o Brasil em 1894 e tornou-se brasileiro de coração. Após percorrer alguns Estados fixou-se no Paraná, inicialmente em Morretes, com apenas 11 anos de idade, acompanhado de seus pais, Pietro Di Giuseppe Ghignone e Francesca Rolando Ghignone.

 

Na terra de Rocha Pombo, Ghignone consorciou-se com Itália Dall'Igna, ali nascida e que a seu lado lutou, sofreu e o fez feliz. De seu matrimônio houveram oito filhos, dos quais três varões e cinco mulheres. Foi músico, tipógrafo, dono de restaurante e comerciante, até que, vindo para Curitiba, estabeleceu-se como livreiro, em 1925. A partir desse passo cresceu e realizou-se.

 

À propósito de sua desencarnação, muitíssimas foram as manifestações de apreço e carinho ressaltando os traços predominantes de seu caráter.

 

De uma reportagem que nos chegou às mãos destacamos as seguintes referências:-

 

O Professor J. Herculano Pires, um dos mais brilhantes escritores espíritas definiu Ghignone como "um baluarte na defesa do Espiritismo no Brasil" e com referência ao seu dinamismo: "quando determina algum trabalho, por maior que seja, é costume se dizer que o trabalho já está feito, porque é ele que faz". Essa fidelidade absoluta aos seus ideais, esse destemor com que enfrenta os desafios, fazem com que permaneça à frente da Federação Espírita do Paraná, como seu Presidente há quase 50 anos.

 

O Professor Manoel de Oliveira Franco Sobrinho, então Diretor da Faculdade de Direito, disse: "o que deve o Brasil a João Ghignone, nesta vasta região Sul, não se define por palavras, e sim através de fatos". E esses estão sedimentados em Curitiba.

 

Finalmente, o Dr. Algacir Munhoz Mader, Reitor da Universidade Federal do Paraná, disse certa vez: "ainda há gente boa neste mundo. Gente que pode recordar o passado com tranquilidade e paz de espírito porque nunca conheceu o mal - como João Ghignone - cujas virtudes vão além, pois dispende suas melhores energias com a simplicidade que todos lhe admiram para minorar o sofrimento alheio".

COMPLEMENTO

Como complemento ao nosso modesto trabalho, por ocasião da comemoração dos 77 anos da fundação da Casa Máter do Espiritismo no Paraná, oferecemos mais alguns dados sobre suas tarefas, ressaltando alguns obreiros no decurso dessa longa trajetória.

 

A Federação Espírita do Paraná, rege-se por um estatuto social que dispõe sua administração da seguinte forma:

 

Um Conselho Deliberativo, órgão supremo da Direção, composto de 19 membros, e um Conselho Federativo, agrupando em torno de si as agremiações espíritas do Estado, incumbido da programação doutrinária e representado pelos Presidentes e vice-presidentes das 15 Uniões Regionais.

 

Uma Diretoria integrada por nove membros é a responsável executiva pelas deliberações dos Conselhos e pelo desempenho das atribuições estatutárias. Essa Diretoria dispõe, além dos diversos Departamentos e serviços auxiliares para cumprimento de suas elevadas tarefas, de um Assessoria Doutrinária presidida pelo 2º vice-presidente e da qual participam o Secretário Geral e outros membros dos Conselhos e Diretores dos Departamentos.

 

A Federação possui em seu quadro social dois presidentes honorários, elevados à essa categoria por inestimáveis serviços prestados à entidade e à Causa Espírita, cuja dignidade foi atribuída a Manoel Antonio Ferreira da Cunha, em 11-04-1915, responsável pela execução da construção do edifício sede da Rua Saldanha Marinho, e a Arthur Lins de Vasconcellos Lopes.

 

Também figuraram na Galeria de Membros Honorários do Conselho e de Benfeitores, os insignes confrades Dr. Flávio Ferreira da Luz e Prof. José Nogueira dos Santos, já mencionados no rol dos presidentes.

 

E como grandes doadores, por sua benemerência, pertencem ao patrimônio histórico da Casa Máter, os espíritos que personificaram as figuras de Hercilia de Vasconcellos Lopes e Casemiro Siedleski, bem como o inolvidável Lins de Vasconcellos.

 

Até aqui os confrades mencionados pertencem todos ao mundo espiritual (salvo se já reencarnaram). Entretanto, ainda no mundo físico existem muitos confrades e simpatizantes que apresentam grande acervo e merecem também nossas homenagens e o reconhecimento perene pelo quanto fizeram e estão fazendo. No incansável esforço desenvolvido do programa federativo-doutrinário, não poderíamos fugir ao dever de declinar os nomes de João Leão Pitta, o velho batalhador, que nas estradas empoeiradas e de difícil tráfego dos rincões paranaenses, manteve sempre bem alta chama do Espiritismo e da unificação. E o saudoso Dr. Francisco Raitani, participante durante mais de 30 anos, não só do Conselho Deliberativo, como oferecendo o brilho de sua inteligência nas reuniões interestaduais, onde se estudavam, através Congressos, Seminários, Simpósios ou outra qualquer de natureza doutrinário-federativo, os interesses maiores de nosso querida Doutrina.


Damos a seguir algumas informações que julgamos oportunas:

 

DIRETORIA (1979-1980)
· Presidente - Abibe Isfer

· 1º vice-presidente - Honório Melo

· 2º vice-presidente - Issan Farhat

· Secretário Geral - Napoleão de Araujo

· 1º Secretário - Walter Amaral

· 2º Secretário - Neuton Meira Albach

· Tesoureiro Geral - João de Matos Lima

· 1º Tesoureiro - Olívio Augusto Ronconi

· 2º Tesoureiro - Sérgio Arakem de Matos Ferreira


ASSESSORIA DOUTRINÁRIA
Issan Farhat - Presidente. Membros: Alexandre Sech, Célio Trujilo Costa, Ney Paulo Meira Albach, Mário Sérgio Silveira, Jorge Silveira, Walter Amaral, Neuton Meira Albach, Napoleão de Araujo, Nilson Ricetti Nazareno e João Irani Vieira.


Conclusão


Ao concluirmos esta pequena descrição histórica dos longos anos de atividades no seio da comunidade paranaense, cabe-nos aproveitar a oportunidade para agradecer, de maneira geral, a todos quantos de uma forma ou de outra, concorreram para que se tornasse possível, até aqui, realizar parte do ideal sonhado por aquele punhado de homens que fundaram a nossa querida Federação Espírita do Paraná.

 

Além dos nomes registrados, muitos foram os confrades e instituições que se solidarizaram com o trabalho apresentado e que oportunamente aparecerão, se é que anteriormente já não o fizemos. Contudo aqui ficam as nossas escusas pelas incorreções ou omissões, por ventura registradas, o que não teria ocorrido senão por falha de quem tomou a si a responsabilidade de realizar, ou a falta de melhores dados das fontes que serviram de informações.

 

Trabalho elaborado por Honório Melo - 1º vice-presidente da Federação Espírita do Paraná.


© Federação Espírita do Paraná - 20/11/2014