Aja com calma

 

Há um provérbio popular que estabelece que a pressa é a inimiga da perfeição. Quem é que nunca ouviu isto? Sempre ouvimos falar que a pressa perturba o trabalho da perfeição.

 

Naturalmente que esse provérbio deve querer dizer que se nós fazemos as coisas atabalhoadamente, apressadamente, temos todas as possibilidades de cometer erros, de cometer equívocos, de esquecer coisas, de desacertar. Todos nós temos experiências em nossas vidas. Quando saímos de casa correndo, esquecemos alguma coisa para trás, deixamos alguma coisa aberta, a lâmpada acesa ou aquilo que a gente ia levar para fazer nós esquecemos em casa.

 

É muito comum percebermos como é que a pressa nos complica, nos agita, nos excita. E, neste mundo no qual vivemos, o que mais tem é excitação, corre-corre. Estamos num mundo de estresses. As pessoas estão sempre agitadas, sempre atrasadas, sempre atrazadas para algum compromisso.

 

Quanto mais tempo se dá às pessoas menos tempo elas têm. A Humanidade recebeu vários implementos do progresso: as máquinas para nos facilitar os trabalhos, máquinas domésticas, lavadoras, passadeiras, lavadoras de louça, fogões autolimpantes. Tudo eletrônico, tudo eletrificado, tudo fácil. Geladeira que se descongela, geladeira que produz gelo, que a gente tira na porta. Tudo para facilitar a nossa vida.

 

E estamos sempre correndo.  Nunca temos tempo. Algo está equivocado. Se Deus não comete equívocos, esses equívocos devem ser cometidos por nós. A calma é a grande palavra nesse momento.

 

Ter calma é algo importantíssimo nas nossas relações sociais, familiais e nas relações conosco também. Mas ser calmo é mais importante ainda. Muita gente diz assim: Perdi a calma com Fulano.

 

Como é que se perde a calma? Como é que se perde a paciência? Se a calma quanto a paciência são virtudes entronizadas no nosso ser, são virtudes já assimiladas pelo ser, como é que a gente perde? Quando dizemos que perdemos a calma ou que perdemos a paciência estamos estabelecendo que nós nunca fomos calmos, nunca fomos pacientes. A calma e a paciência ainda não eram atributos da nossa personalidade, éramos pacientes por conveniência, quando tínhamos interesses.

 

Éramos calmos por conveniências, quando algum interesse nos feria os desejos. Daí vale a pena nós pensarmos que, ao falar-se em calma, não se deve pensar naquela paralisia, naquela lerdeza, naquela incapacidade que caracteriza tanta gente no mundo. Quando se pensa que elas estão realizando algum serviço elas ainda não foram! Quando se imagina que já estejam voltando com o produto do que realizaram, ainda não se foram.

 

Não, não é isto a calma. Isso é pachorra, preguiça, acomodação ou qualquer outro nome correlato que lhe queiramos dar.  A calma é uma virtude ativa. A pessoa é calma no pensamento, avalia o que tem para fazer, o que vai fazer, como deseja fazer, qual é a intensidade do seu fazer. Uma pessoa calma. Ela tem tudo já estruturado na mente mas não se assoberba.

 

Jesus Cristo nos propôs isso: Não vos atormenteis pelo dia de amanhã. A cada dia já basta o seu afã. Segundo algumas traduções: A cada dia já basta o seu mal.

 

Esse recado de Jesus Cristo é em prol da paciência. Se somos pacientes, se formos pacientes não nos importe o dia de amanhã porque estaremos conscientes de que o dia de amanhã não será  outra coisa se não a consequência do nosso dia de hoje.

 

Então, não nos vale sofrer pelo amanhã senão viver bem o dia de hoje.     No dia de hoje, plasmamos o amanhã, plasmamos o futuro. Então, o mais importante é que aprendamos a ser calmos. É um trabalho que leva tempo, exige o nosso esforço pelo autoconhecimento,  a fim de que verifiquemos as áreas mais sensíveis da nossa personalidade onde qualquer estiletada, qualquer contato pode nos fazer explodir, atormentar por falta de calma.

 

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Na medida em que nós ajamos com calma, diante das situações, teremos tempo de refletir sobre a calma. Por que se consegue calma? A calma é um estado de autocontrole que o indivíduo exerce sobre si mesmo. A calma é a consequência do estado de confiança. Na medida em que temos confiança em nós, nas instituições, nas coisas, adquirimos calma, sabemos que tudo vai acontecer no tempo certo.

 

Se somos deístas, se adotamos qualquer crença deísta, temos o dever de trabalhar em prol da calma porque é dessa calma que nós conseguimos refletir melhor sobre o Cosmo, sobre a vida na Terra, sobre nós e o que estamos fazendo aqui, o que nos cabe fazer aqui, qual o motivo pelo qual o Criador nos trouxe para cá.

 

E, dentro dessa visão das coisas, nós entenderemos a calma de Deus. Por que  podemos dizer a respeito da calma de Deus? Está tão certo nosso Criador de que mais cedo ou mais tarde todos teremos que chegar à felicidade, à vitória sobre nós mesmos, que criou para nós a dimensão temporal. O tempo é o grande agente que nos prodigaliza alcançar a calma.

 

É através do tempo que nós verificamos um dia atrás do outro, sem fazer alarde, sem tumulto. Os dias que se sucedem, as noites que se sucedem, os dias demonstrando a paciência de Deus. Colocamos uma semente na terra e esperamos que ela germine, que ela cresça, floresça, possa dar frutos. Trabalho de paciência.

 

Nenhum lavrador colocaria a semente no chão e a semana que vem desejaria colher os frutos dessa sementeira. Há que se ter paciência. Daí, quando pensamos nessa paciência de Deus, gerando nas nossas vidas a possibilidade de trabalhar, no tempo e no espaço, começaremos a verificar o tempo que nós mesmos perdemos com as agitações, com as excitações.

 

Se tivermos que falar alguma coisa com alguém, falemos com calma. Não importa se alguém dirá que temos sangue de barata. É muito comum as pessoas calmas serem confundidas com aquelas que têm sangue de barata.  Diz-se que alguém tem sangue de barata quando não reage, quando está daquele jeito o tempo todo.

 

Mas a proposta dos bons Espíritos é por nossa ação positiva no caminho da calma. É tão importante na hora que vemos que o sangue ferve, entrar para o quarto, guardar-se no aposento, tomar um banho frio para relaxar. Não vale a pena dar vazão ao temperamento, não vale a pena dar vazão às agitações do intimo.

 

Vale a pena, sim, trabalharmos pela manutenção da nossa calma. Sabemos que durante doze horas o dia estará iluminado pelo astro rei e, dali a pouco, teremos a noite pintalgada de estrelas. Ao longo dos dias e das noites fecha-se a semana, fecha-se o mês, fecha-se o ano.

 

Como nenhum de nós sabe, nesse ínterim, nesse interregno até quando o Criador pretende que fiquemos por aqui, exercitemos a nossa calma enquanto é hoje. Quando em nossa casa as coisas parecerem nos tirar do sério, ocultemo-nos no quarto, apelemos para a oração consciente, contrita, pedindo ao nosso Criador, ao Sempiterno as bênçãos para que nós não nos percamos no caminho da calma.

 

Não é que nós vamos perder a calma, é que nós não deveremos nos perder na excitação, na agitação. Quando pensamos na calma de Deus, verificamos o quanto que Ele nos espera, há quanto tempo que nos aguarda. Só a partir de Jesus são dois milênios que já se passaram.

 

E como é que eu não terei paciência e calma diante dos equívocos, dos erros, dos tropeços dos meus entes queridos, daqueles que me cercam na trajetória do mundo? Calma sempre. Aja com calma.


Transcrição do Programa Vida e Valores, de número 195, apresentado por Raul Teixeira, sob coordenação da Federação Espírita do Paraná.
Programa gravado em janeiro de 2009.
Exibido pela NET, Canal 20, Curitiba, no dia 11.04.2010.
Em 13.8.2020

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