Espiritismo e espiritualismo

Existem na vida da gente situações as mais importantes, que precisam ser  observadas sempre. Dentre elas, está a nossa crença. 


Todas as criaturas humanas têm a sua crença. Independentemente  de que seja uma crença religiosa, uma crença filosófica, uma crença esportiva, a crença na Humanidade. Todos temos uma crença. 


Mas, vamos nos situar no universo da crença religiosa. As criaturas que são religiosas na Terra, por razões variadas, se multiplicaram em grupos os mais distintos. Em geral, todos esses grupos acreditam na existência de um Criador para a vida. Na existência de Deus. Todos esses grupos admitem que, independente de Deus, também podem acreditar na existência das criaturas Divinas, das criaturas de Deus, os seres espirituais. 


Em alguns grupos de crença de fé, esses seres são chamados de almas. Em outros grupos, são conhecidos como Espíritos. Dessa maneira, vale a pena pensar o quanto se distribui a Humanidade em termos de crença. Quanta crença existe na Humanidade. 


Existem aqueles que admitem que o indivíduo, quando nasce, tenha a alma forjada na hora em que o corpo vai nascer. Para cada corpo novo, a Divindade cria uma alma -  a doutrina dogmatista. 


Mas há aqueles outros que creem que a alma existe desde todo o sempre, criada por Deus  e que, quando o corpo nasce, a alma não está sendo criada junto com o seu nascimento. Mas, é uma alma velha que passa a habitar um corpo novo. 


As mais variadas doutrinas espiritualistas admitem que haja uma alma habitante do corpo físico, de um corpo humano como é o nosso. 


Naturalmente, nós poderíamos perguntar se, no reino animal também poderíamos pensar em uma alma para cada animal. Sim, podemos. Só que, como os animais fazem parte do reino dos seres irracionais, costumamos chamar de princípios espirituais ou de Espíritos que se ensaiam para a vida humana. 


Sem que nos importemos com essa classificação nos reinos inferiores ao reino humano, dentro das classificações espirituais que os religiosos dão, verificamos que cada grupo religioso tem  a sua gama de interpretações. 


O que distingue as diversas crenças espiritualistas são as suas interpretações. E quando dizemos espiritualistas, queremos afirmar que todas as crenças que admitem que, além da matéria existe um ser espiritual, uma alma ou alguém que escapa ao fenômeno da morte, essa crença será chamada de espiritualista. Esse indivíduo que sobrevive à morte do corpo é tido como um Espírito, uma alma ou que nome outro se lhe deseje dar. 


Dessa maneira então, nós acreditamos em Deus, na Sua existência como Criador não criado de todo o Universo, cujos nomes variam de povo para povo, de cultura para cultura e não nos importe se Deus seja chamado assim, como nós O chamamos, Deus; se seja chamado de Alá, de Yaweh, de Natura Naturans. Não nos importará o nome pelo qual Deus seja chamado, desde que essa Entidade, que tudo tenha criado, seja de fato concebida por nós, entendida por nós, como sendo o Criador de tudo. Esse Criador de tudo será o nosso Deus. 


E, desse modo, crer em Deus, crer na existência de seres espirituais, de almas, caracteriza o espiritualismo. Todas as religiões, são por isso mesmo, espiritualistas. Desse modo, não temos porque ter preconceitos uns contra  outros, se todos admitimos a existência do Criador e, como consequência dessa existência, os Seus seres, as Suas criações humanas, as Suas criações espirituais. 


Então, aqueles que são católicos romanos, protestantes, evangélicos, reformados, budistas, taoístas, espiritistas, umbandistas, candomblezistas, judeus, islâmicos, todos são espiritualistas. Vale a pena pensar nisso, para que vejamos que há muito mais coisas em comum entre nós do que imaginamos. 


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Quando falamos que temos muito mais pontos em contato do que possa parecer, é verdade. É mais sério do que nós pensamos. 


Às vezes, ficamos a refletir porque é que os religiosos têm o costume de brigar, desde todos os tempos da Humanidade. Desde que se formaram dois grupos de interpretações diferentes e que foram chamados de crenças, de religiões etc... já estão os grupos a se engalfinhar. E isso demonstra quão pequena é a maturidade das criaturas humanas que nós formamos. 


Nós, estamos falando de Deus, o Autor não criado de todas as autorias, o Criador não criado de todas as criações, nada obstante não conseguimos captar a Sua grandeza ainda. Estamos disputando território, estamos disputando terreno com aqueles que interpretam a existência desse Criador de maneira diferente da nossa.


 Imaginemos se, diante de um daltônico, que olhasse uma cor vermelha e jurasse que era verde, se nós nos engalfinhássemos com ele. Teremos que perceber, que saber, que ele é daltônico, e onde ele vê verde, nós estamos vendo vermelho ou vice-versa, ou outras correlações que possam ser feitas pelo daltônico. Desse modo, não há nenhum sentido em vermos religiosos se engalfinhando. 


Pelo mundo afora encontramos as guerras, verdadeiras guerras entre aqueles que acreditam em Alá e aqueles que acreditam em Jeová; os que acreditam em Deus, os que acreditam em Alá. Desse modo, onde pretendemos chegar com a nossa religião? 


O espiritualismo, então, forma a generalidade da nossa crença. Todas as crenças religiosas são espiritualistas. Mas, dentre essas crenças espiritualistas, no século XIX, apareceu, em Paris, uma delas, que passou a ser chamada  Espiritismo. 


No dia 18 de abril de 1857, foi publicado um livro notável, no Palais Royal, na antiga Galérie d’ Orléans, intitulado: O Livro dos Espíritos. E vinha assinado por um autor até então desconhecido. Esse autor era Allan Kardec.


Mais tarde, pudemos saber que Allan Kardec era o pseudônimo de um notabilíssimo professor francês chamado Hippolyte Léon Denizard Rivail, nascido em Lyon, criado na Suíça Francesa, na cidade de Yverdon-les-Bains e discípulo de um dos mais notáveis pedagogos de todos os tempos na Europa, que foi o notável Jean Henry Pestalozzi. O Pestalozzi, que todos os professores conhecem.


Ora, esse Allan Kardec trouxe-nos, organizadamente, os princípios espiritualistas que vieram formar o que se convencionou chamar, com ele, de Espiritismo.


Muita gente tem medo da palavra, mas é uma palavra como outra qualquer, criada exatamente para afirmar que é a Doutrina dos Espíritos. Ismo, significando Doutrina. Dos Espíritos. Como falamos em materialismo – é a doutrina da matéria. Taoísmo -  a doutrina do Tao.


E, desse modo, o Espiritismo trazia, nos seus pontos fundamentais, algo muito importante para nós que estudamos o espiritualismo.


Apresenta o Espiritismo cinco pontos fundamentais, a saber: a existência de Deus. Muita gente pergunta, ou se pergunta, se os espiritistas acreditam em Deus. Ora, se o seu primeiro fundamento, o primeiro fundamento da Doutrina dos Espíritos é a existência de Deus, natural é refletir que os espiritistas admitem a existência de Deus.


Não apenas acreditam nela, mas têm uma certeza da existência desse Criador não criado, dessa Inteligência Suprema do Universo.


E essa visão espiritista de Deus é uma visão que todas as religiões podem assimilar. Por quê? Porque Deus, sendo a Inteligência Suprema do Universo, qual é a religião que fala diferentemente disso? Qual é a religião que fala contrariamente a isso?


Dessa maneira, nós podemos bem aquilatar o quanto é importante a existência de Deus. Porque é o fundamento de todos os fundamentos.


Daí nasce o segundo princípio da Doutrina Espírita, que é a existência e a Imortalidade da alma. Todos nós somos existentes, mas também somos Imortais. O fato de sermos Imortais é algo importantíssimo, no contexto das nossas vidas. Morremos, mas não desaparecemos com a morte.


Mas, ao lado disso, chegamos ao terceiro princípio da Doutrina Espírita, a pluralidade das existências. Se nós somos Imortais, se temos que evoluir ao infinito, como propôs Jesus Cristo, dizendo o Mestre, que deveríamos ser perfeitos como perfeito é nosso Pai Celestial. Esse direcionamento que Cristo nos aponta é para que saibamos que precisamos evoluir. A pluralidade das existências é a estância que nos permite galgar esse progresso.


Ao lado disso, a pluralidade dos mundos habitados, mostrando que não é somente o nosso planeta o único mundo habitado nesse Universo inteiro.


E por fim, a comunicabilidade dos Espíritos. Daí, vemos como é importante sermos espiritualistas. E a Doutrina dos Espíritos é uma digna representante do espiritualismo universal.


Transcrição do Programa Vida e Valores, de número 95, apresentado por Raul Teixeira, sob coordenação da Federação Espírita do Paraná.
Programa gravado em agosto de 2007. Exibido na CNT, Canal 6, Curitiba e Canal 7, Londrina, no dia 30 de março de 2008.
Disponível no DVD Vida e Valores, v. 3, ed. Fep.
Em 21.09.2021

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