Os medos das crianças

São tão bonitas as nossas crianças! Desde recém-nascidas aprendemos a cultuar as nossas crianças como sendo as nossas joias.

 

Nossas crianças, de fato, merecem essa assistência, esse carinho, essa atenção. Mas, é curioso perceber que, muitas vezes, desde cedo, muito cedo, elas apresentam os medos, os temores e, muito dificilmente, nós nos damos conta desses medos, desses temores, o porquê disso existir.


Por que é que nossas crianças têm medos? Medos dos mais variados. Há crianças que não ficam no quarto escuro de jeito nenhum. As mães precisam colocar aquelas lampadazinhas de baixa intensidade para que a criança tenha a segurança de que está num ambiente iluminado, ainda que parcamente. É muito interessante perceber isto, porque, nas famílias, são poucos os pais que dão atenção a esses medos infantis. Muitas vezes atribuem que seja falta de vergonha da criança, que seja mimo demais da criança. Cada um diz uma coisa. Mas, pode ser que haja mimo, pode ser que haja a sem-vergonhice da criança para ficar junto com a mãe. No entanto, é importantíssimo que olhemos os medos da criança com olhar mais psicológico.


Por que é que ela tem medo, se nunca lhe pusemos medo? Se nunca impusemos medo aos nossos filhos, de onde é que vêm esses medos? Jamais lhes falamos alguma coisa que pudesse impor-lhe qualquer medo.


Então, vale a pena pensar que nossas crianças, nossos filhos são Espíritos. Sim, nossos filhos são Espíritos e como Espíritos eles agem, como Espíritos eles procedem. E porque nós somos espiritualistas e acreditamos que nossos filhos sejam Espíritos, muitas vezes é necessário entender que eles vieram de alguma região espiritual para a Terra, para o nosso encontro. São almas ligadas a nós, de passado próximo ou de passado remoto, ou que estão no contato conosco por primeira vez. Mas, são Espíritos. Muitas entidades espirituais ficam retidas, nessas regiões do Além, durante muito tempo. Algumas, atravessando dificuldades em função das vidas pretéritas; outras, com menos problemas, em função da vida passada.


E, naturalmente, quando pensamos nisso, poderemos cogitar se esse medo expresso por nossa criança não vem dessas experiências no Além, antes de que chegasse à Terra. Desse modo, vale a pena que nós não imponhamos à criança essa resistência ao medo.


Se, por acaso, ela estiver apresentando medo de escuridão, não lhe obriguemos a ficar num lugar escuro. Poderemos criar-lhe um trauma de difíceis consequências para o seu futuro. Será importantíssimo que nós trabalhemos para que ela fique bem e, como falamos, as mães colocarem uma lampadazinha de baixa intensidade para que a criança se sinta confortável.


Às vezes, ela acorda chorando e os pais imaginam que seja manha para ir para a cama do casal. Pode ser que seja, mas como não teremos certeza, enquanto essa certeza não tivermos, vamos atender a nossa criança. Não haverá nenhum problema que ela fique um pouco junto de nós e quando ela durma, quando ela se acalme, nós a levaremos para a sua caminha de novo.


Há muitas crianças que sofrem pesadelos tanto quanto os adultos sofremos pesadelos e, desse modo, como elas não sabem dizer, elas poderão dizer que viram bichos, que viram monstros e nós, se não tivermos essa sensibilidade, estaremos criando um problema muito mais sério, muito mais grave para os nossos filhos do que se nós estivermos lhes dando agasalho.


Medos em crianças precisam ser analisados porque, afinal de contas, nossos filhos são Espíritos e como Espíritos carregam as pressões do seu passado, de sua vida anterior a essa, ou de suas vidas anteriores a essa. E, por causa dessa pressão, tudo pode acontecer.


Antigos adversários que as acompanham, seres da família e que elas, não tendo consciência, poderão assustar-se ao vê-los, no seu desprendimento pelo sono.


Daí, então, vamos conversar com a nossa criança, trabalhar para que se lhe diminua a intensidade do medo, mostrar para ela que não há razão de ter medo. Por quê? Porque ela está dentro de casa, junto do papai, junto da mamãe, junto aos irmãos. Mas não vamos menosprezar essa reação que a nossa criança possa apresentar de medo, de pavor, em muitas ocasiões. Afinal de contas, nós precisamos agasalhar, com carinho, os nossos filhos.


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Falamos, desse modo, desse cuidado com os nossos filhos, com as nossas crianças, exatamente pelas condição psicológica dos nossos pequenos. É importante, porém, que não seja obra dos pais, ou dos adultos colocar medo nas crianças.


É muito comum, na tentativa de abolir determinado comportamento da criança, que os pais lhe imponham medos, medos do papão, do bicho papão, para fazê-la dormir.


Às vezes, as mães, com intenções as mais variadas, colocam nos seus filhos medos do velho, do guarda, da polícia, medo do preto, medo da mulher, medo completamente irracional.


As crianças não têm ainda condições de discernir, elas não conseguem ainda avaliar o que signifique isto que seus pais ou que um adulto lhes esteja dizendo. Ela então se perturba, se amofina, se apoquenta, sem saber como sair dessa situação.


Nós criamos, na mente infantil, esses quadros dantescos que, na imaginação criativa da criança, ganham uma forma inusitada, uma extensão inimaginável e uma intensidade brutal. Quantas e quantas vezes problemas sérios, que acompanharão a criatura até a idade adulta, nasceram nesses medos na infância.


Dessa maneira, vale a pena ter muito cuidado com os  medos de nossas crianças. Às vezes, elas apresentam medos de determinados bichos, medo de aranha, medo de barata, bichos que aparecem em casa, medo da lagartixa. Tanto quanto seja possível, se seus pais também não forem dotados deste mesmo medo, poderão mostrar para a criança que esses são animais inofensivos. Deverão ensinar a elas a ter cuidados porque pode ser animal que traga algum tipo de enfermidade, pelos lugares por onde passeie. Como nós aprendemos a espantar as moscas porque elas pousam em qualquer lugar, os mosquitos. Então, muitas vezes, será necessário ensinar à criança a respeito da questão higiênica: porque é que não temos determinados tipos de animais na nossa convivência, mas não porque elas devam ter medo, não porque os pequenos devam temer isso, mas o cuidado.


Ensinar. Sempre que ensinamos, nós libertamos a criança. Quando deixamos de ensinar, a criança fica escrava do medo irracional.


Quantos adultos inseguros não ficam em casa sozinhos jamais, não saem à rua sozinhos jamais, não viajam jamais a sós... E quando nós vamos buscar as razões disso, as raízes de tudo isso, as raízes se encontram nos medos que lhes foram inculcados na infância.


É tão importante uma vida sem medo, mas com cuidados. Não temos medo de escuridão, mas sabemos que não devemos passar por lugares inóspitos, escuros, em determinados horários, porque há pessoas de má índole que, muitas vezes, querem pregar sustos ou criar problemas graves: um assalto, um furto.


Então, nós estamos raciocinando. Não é um medo do escuro pelo escuro; é a preocupação de que há criaturas que se valem da escuridão para causar transtorno a outras pessoas.


Não fugiremos de determinados insetos por causa do medo que tenhamos deles, mas por sabermos, conscientemente, o tipo de problemas que eles nos possam trazer. Então, com isso, a nossa criança se desenvolve, ela aprende, ela cresce e nós ficamos felizes por não criarmos filhos, por não influenciarmos crianças a partir do medo.


É tão bom a gente não ter medo. É tão bom nós termos coragem de fazer as coisas, de viver as circunstâncias, de enfrentar desafios novos. É tão importante, é tão bom. E vale lembrar Jesus quando, num momento em que os discípulos estavam apavorados, após a Sua crucificação, e ninguém sabia Dele, e todos sentiam falta Dele, ei-lO que surge! E, ao se dirigir aos discípulos os saúda dizendo: Sou Eu, não temais.


A partir dessa presença de Jesus em nossa vida não temos nada a temer. Então, vamos passar Jesus de todas as maneiras para as vidas das nossas crianças, para a vida dos nossos filhos. E foi Ele mesmo que nos propôs: Deixai que venham a Mim as crianças, não as detenhais.


É tão importante que, a partir da lucidez com que ensinamos a criança a viver; da nobreza, com que permitamos que os nossos pequenos cresçam, aproximá-los de Jesus, dos ensinos do Mestre.


E, a partir daí, teremos a certeza de que eles crescerão saudáveis, corajosos, positivamente, audaciosos no Bem, criando doravante o mundo novo que todos nós aguardamos.


Transcrição do Programa Vida e Valores, de número 97, apresentado por Raul Teixeira, sob coordenação da Federação Espírita do Paraná.
Programa gravado em agosto de 2007. Exibido pela NET, Canal 20, Curitiba, no dia 1º de junho de 2008.
Em 28.10.2021

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