As relações humanas são relações muito importantes para a nossa evolução.
Se pudéssemos acompanhar o fluxo da História, veríamos como é que se deram, nos idos tempos, as transações. Sim, as transações. Quando alguém precisava de algo que não produzia, ia buscar com alguém que produzisse e natural é pensar que esse alguém também tivesse necessidade de outras coisas que eu produzia ou que outra pessoa produzia.
Todas as trocas eram feitas, o comércio era estabelecido através de trocas. Alguém que produzisse, por exemplo, grãos trocava com aquele que produzisse tecido; aquele que produzisse tecido precisava de alguém que produzisse outras coisas, metais. Era assim a transação.
Com o passar do tempo surgiu a moeda. Já não eram as coisas em si mesmas as moedas de troca, agora surgiram moedas. Cada grupo, cada lugar, cada país tratou de estabelecer a sua própria moeda. Madeiras caras, raras, perfumadas, com a qual se construíam peças que serviam de troca. Metais, metais caros, metais mais raros.
E com isso, ao longo do tempo, foram cunhadas moedas e teve começo, no mundo do capital, a troca realizada através da moeda.
Desde então, o nosso trabalho passou a ser remunerado, passamos a perceber algum dinheiro em função do trabalho que realizássemos.
O nosso trabalho passou a ter um preço. O trabalho por dia, o trabalho por hora, o trabalho por mês ou por ano recebia uma compensação da sociedade e, desse modo, fomos criando um sistema no mundo que, a partir dos regimes capitalistas, foi ficando insuportável.
Porque uma coisa é eu ter bananas em casa e trocar com o vizinho que tem cocos; ele tendo cocos trocar com alguém que tenha arroz. Era mais fácil.
Mas, quando passamos a ter essas relações econômicas na base da moeda, na base do dinheiro, eu preciso ter dinheiro, porque tem alguém que vende e naturalmente tem alguém que compra.
A lei econômica da oferta e da procura estabelece que todas as vezes que eu tenha alguma coisa para vender, aparecerá alguém desejando comprar ou que sempre que eu tenha vontade de comprar alguma coisa, aparecerá quem me venda essa coisa.
E, desse modo, criamos uma estrutura social ou uma estrutura sócioeconômica em que é inadmissível vivermos sem dinheiro. Passaram a surgir os problemas financeiros, os problemas econômicos.
Mas, quando acompanhamos, hoje em dia, os noticiosos percebemos que há pessoas que vivem com muito pouco. Há pessoas que vivem com um dólar por dia, menos de um dólar por dia, até os indivíduos que ganham centenas de dólares por minuto.
Então, começamos a encontrar na Terra uma disparidade muito grande. Pessoas que ganham muitíssimo, pessoas que ganham pouquíssimo, pessoas que não ganham nada. Mas, situando essa questão ao nível da classe média verificamos que grandes problemas que surgem no seio familiar, na relação entre casais têm sido o problema financeiro, a falta de dinheiro.
É claro que temos que levar em conta o estilo de vida que adotamos ter, o nível de vida que passamos ter e, desse modo, problemas econômicos, os problemas financeiros decorrem, muitas vezes, na classe média, desse status em que nos colocamos, em que nos situamos.
Nas conversas em geral as pessoas dizem: Eu não posso baixar meu nível, eu não quero baixar meu nível, isto não é compatível com meu nível de vida.
E, todas as vezes que nós temos que viver sem aquilo que é compatível ao nosso estilo de vida nos fazemos, nos tornamos pessoas muito infelizes.
Daí, valer a pena pensar qual a solução que nós daremos a esses problemas financeiros para que a nossa vida não dependa disso, de tudo isso, dessas questões. Mas, para que possamos, mesmo na necessidade, aprender a viver melhor.
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Cada vez que nos dermos conta de que o dinheiro está sendo um problema para a nossa vida, primordialmente deveremos levar em conta que as pessoas a nossa volta não têm nada a ver com isso.
Desse modo, eu não deverei transferir para minha esposa ou a esposa para seu marido ou para os filhos ou para quem conosco conviva essa irritabilidade pela questão financeira. Vamos ver como é que resolvemos isto já que não temos como ganhar dinheiro fácil.
É importante pensar que poderemos descer um pouco do nosso pedestal e ajustar a nossa vida como quem vai apertando um parafuso cuja peça esteja frouxa. Não significa que teremos que ir nos miserabilizando, mas significa que nós temos que aprender a viver com o que temos e não com aquilo que imaginaríamos ter.
A doutora Maria Junqueira Schmidt, que escreveu notáveis livros, escreveu num deles chamado A família por dentro, da Editora Agir, que seria importante que aprendêssemos a educar nossos filhos com a alma de pobres.
Vejamos que ela não ensina ensinar os nossos filhos a ter almas pobres, mas a viver com alma de pobre. E a alma do pobre é essa alma versátil, quando tem muito ele é feliz, quando tem pouco ele é feliz do mesmo jeito.
Se nós aprendermos a viver dessa forma, no dia que não pudermos consumir produtos caros, consumiremos produtos mais em conta.
Não estamos fazendo proposta de que as pessoas abram mão do seu sonho, mas queremos propor que as pessoas não se infernizem por causa da falta de dinheiro.
É muitíssimo importante saber que as autoridades que teriam que nos pagar, os governos, os patrões, eles têm o poder de mexer na nossa conta bancária, de mexer no nosso bolso, mas não lhes deveremos dar o direito de mexer no nosso coração, na nossa alma.
Desse modo, nós vamos fazer os movimentos por melhores salários, vamos aprender a crescer, a melhorar a nossa condição profissional, a dar um pouco mais de nós. Porque há um dado que passa despercebido por muita gente. Todo mundo quer aumento de salário. É natural, é compreensível. Mas, pouquíssimas são as pessoas que melhoram o trabalho que realizam. Não se esforçam por se aprimorar, por se aperfeiçoar, elas fazem aquilozinho do mesmo jeito que sempre fizeram, estão querendo sempre maior reconhecimento.
Há pessoas que fazem do seu trabalho profissional uma mesmice eterna. Os mesmos equívocos são cometidos, os mesmos erros de português, as mesmas limitações de sempre. Mas as pessoas querem aumento de salário.
Seria tão bom se pleiteássemos melhorias salariais na medida em que estejamos oferecendo à sociedade também um melhor trabalho, oferecendo também à sociedade algo melhor.
Daí, será importantíssimo que a nossa dificuldade financeira não recaia sobre os outros. Seja um problema nosso. Nós vamos batalhar, vamos lutar, tendo muito cuidado com os movimentos que façamos em nome dessa dificuldade salarial. Quando nós pensamos, por exemplo, em parar de trabalhar, nós criamos um problema muito sério com aqueles que dependem do nosso trabalho. Porque numa parada de professores não são os filhos dos ricos que sofrem, não são os filhos dos governantes que sofrem, é o povo.
Numa parada de médicos, numa paralisação de médicos, não são os ricos que sofrem, os ricos não precisam dos nossos médicos, eles têm os seus médicos particulares. É o povo que sofre.
Na hora que para o serviço de trânsito, de transporte, quem é que anda de ônibus? Não é o nosso patrão, não são os nossos governantes, é o povo.
Desse modo, nós vamos criando um débito, um carma coletivo com o povo, vamos criando problemas com as pessoas que mais precisam de nós, quando a nossa disputa, a nossa briga, a nossa indisposição, por causa do salário, deveria ser com os nossos patrões, com os nossos governos, com as pessoas responsáveis pela nossa dificuldade.
Daí então cuidar para que a nossa dificuldade financeira não se transforme num débito moral com a coletividade ou com outras pessoas, porque saberemos, um dia, quantas crianças que desistiram da escola por nossa incúria como professor, quantos doentes que morreram por nosso desejo de ganhar mais, quantas pessoas que perderam concursos, oportunidades, porque não tiveram condução, por causa da nossa vontade de ganhar melhor.
Ganhar melhor sim, mas dar, também, o nosso melhor.
Em 30.6.2022
© Federação Espírita do Paraná - 20/11/2014