Muito pouca gente no mundo tem consciência da sua realidade espiritual.
Muita gente imagina que nós viemos do pó e que ao pó retornaremos.
Diz-se que essa é uma expressão bíblica, em função de a lenda de Adão e Eva ter estabelecido que nós fomos feitos do barro. Então se diz que somos barro e ao barro voltaremos.
É uma alegoria, sem dúvida, para nos falar do corpo físico, do corpo biológico, de tudo quanto tem origem no próprio planeta. Perfeitamente válido, mas profundamente poético.
Em realidade, nós somos Espíritos, somos seres espirituais, criados por Deus, um dia, simples, ignorantes, sem virtudes, sem sabedoria e que gradativamente estamos marchando para o encontro da felicidade que anelamos.
Jesus Cristo nos chamou a atenção, conforme lemos nos textos do Evangelista João, capítulo 10, versículo 34: Já não tendes ouvido que vós sois deuses?
Essa pergunta de Cristo é enigmática, é intensa porque... nós somos deuses?
Sim, nós somos deuses. Mas, não somos deuses competidores do Deus Criador, do Demiurgo, do Sempiterno, não somos deuses com D maiúscula, somos deuses com d minúscula. Logo, somos Espíritos.
Recordemo-nos de que, em todas as mitologias se fala de deuses: os deuses gregos, os deuses romanos, os deuses africanos, os deuses egípcios, os deuses persas, os deuses nórdicos, os deuses indianos.
Mas, ao mesmo tempo, nós aprendemos que esses deuses, periodicamente, vinham conversar com as pessoas, com seu povo, através dos sensitivos: pitons, pitonisas, richis, hierofantes, magos, profetas.
Esses indivíduos tinham uma capacidade de transmitir as mensagens dos seus deuses para a massa. Logo, se esses deuses transmitiam mensagens, esses deuses eram seres espirituais.
Foi assim que o mundo aprendeu a chamar os seres espirituais: de deuses.
Daí, nós temos o deus Júpiter, o deus Apolo, a deusa Kali, na Índia, a deusa Cotito no Egito. É por essa razão que os Espíritos passaram a ser chamados deuses.
E é assim que nós verificamos, no ensinamento de Jesus Cristo, ao nos chamar atenção para velhas falas do Velho Testamento, quando dizia que somos deuses, a fim de que reflitamos bem sobre a nossa realidade espiritual.
Nós somos deuses porque somos passíveis de evoluir, de desenvolver-nos intelectualmente, desenvolver-nos afetivamente, emocionalmente, realizar o nosso progresso em todos os níveis ao infinito. Não existem limites para o nosso progresso, não existem limites para a nossa evolução.
Do mesmo modo que nos lembramos da escada simbólica de Jacó, pela qual se pode subir indefinidamente na direção dos céus, na direção dos cimos, também quando se trata da evolução dos deuses, dos Espíritos, não há limite.
O nosso escopo, o nosso objetivo é seguir na direção e no sentido de Deus, nosso Pai. Lembremo-nos de que foi isso que Jesus Cristo nos disse:
Sede perfeitos quão perfeito é vosso Pai Celestial.
Não era para que nós nos igualássemos a Deus. Não há nenhum sentido em pensarmos assim, mas Deus era a referência. Marcharmos no sentido dEle e buscarmos, nesses esforços de progresso, o encontro interno com a Divindade.
Somos deuses e, por causa disso, cabe-nos realizar o que realizam os deuses, os Espíritos, os esforços em prol de sua própria renovação, da renovação do mundo entorno, da melhoria das condições do mundo entorno.
E quando nós nos melhoramos e melhoramos a realidade ao redor de nós, sem qualquer dúvida, ajudamos a vida de quem esteja junto a nós.
É por causa disso que nós nos ufanamos, nos alegramos com essa certeza dada por Jesus de Nazaré de que somos todos nós um conjunto de deuses.
* * *
Como é importante para nós essa certeza de que somos perfectíveis.
Estamos no caminho da evolução. Ninguém estará perdido jamais. Nenhuma das ovelhas que o Pai Celeste confiou a Jesus Cristo se perderá, essa é uma realidade.
Mas, quando nós pensamos nesse homem terrestre como um deus, com d minúscula, é claro, ficamos a pensar que, com todas as inferioridades que nos caracterizam, quantas coisas nós já conseguimos.
Quando pensamos nos progressos tecnológicos: o telefone, desde Graham Bell; quando pensamos na televisão, no rádio que a antecedeu, quando imaginamos o que significam os computadores, a cibernética... Meu Deus, o que é isto?
O que é que hoje se faz no mundo sem o computador, sem a presença desse instrumento notável, inventado por Norberto Weiner.
Como é que hoje alguém faz alguma coisa sem informática? Quem foi que criou isto?
Temos informática desde o comércio da loja ao nosso telefone celular, aos aviões, aos satélites que são mandados ao espaço. Tudo se utilizando desses progressos notáveis que os deuses terrestres organizaram.
Quando olhamos na área médica, as vacinas, os tratamentos, as cirurgias. Quando pensamos nas microcirurgias, quando médicos notáveis operam fetos ainda no ventre de suas mães. Meu Deus, são deuses!
Quando refletimos sobre tudo isto e nos damos conta de que ainda nos achamos no planeta Terra, temos múltiplas razões para imaginar, para sonhar, para especular a respeito de como será a nossa realidade quando a Terra for melhor do que é, quando nós formos melhores do que somos.
Se agora com todas essas dificuldades, com todas essas deficiências que portamos, conseguimos feitos tão notáveis, o que será do amanhã quando nós formos pessoas mais dignas, mais moralizadas, mais éticas? Quando nos aproximarmos mais do pensamento de Deus? Quando formos mais justos, mais fraternos, mais irmãos?
Ficamos a sonhar com esse dia quando a Terra será um verdadeiro Xangri-lá, um verdadeiro paraíso, um paraíso terrestre verdadeiro. E, desse modo, nós temos que fazer tudo para nos preparar para esse grande dia.
Trabalharmos com a nossa condição de deuses, para que um dia nós possamos dizer como disse o Apóstolo Paulo, relativamente a Jesus: Já não sou eu que vive, é Cristo que vive em mim, tamanha a integração dele, Apóstolo, com Jesus de Nazaré.
E quando chegarmos mais longe, quando avançarmos ainda mais pelos caminhos do mundo, poderemos falar como Jesus ao se referir ao Pai do Céu:
Eu e o Pai somos um.
Era tamanha a integração do nosso Mestre com o Pai Criador, era tamanha essa ligação porque o Mestre dizia:
Eu vim para fazer a vontade do Meu Pai que está nos céus.
E se Ele fazia a vontade do Pai com tanta grandeza, com tanta verdade, Ele podia bem dizer, como disse:
Eu e o Pai somos um, porque Eu faço o que Ele quer, Eu O represento no mundo, Eu O reflito junto das criaturas.
Então, ser deus é a nossa prerrogativa. É tão importante saibamos disso hoje, para começarmos hoje o esforço do autoamor, do autorrespeito, abrir mão dos vícios (um deus viciado).
Abrir mão da violência (um deus violento). Abrir mão de toda essa prostituição que toma conta das sociedades humanas.
Prostituição nas leituras, nas atividades políticas, na administração pública, prostituição nas relações domésticas, as traições que a cada dia se avolumam em todos os níveis. Nós começaremos a trabalhar nessa linha, na demonstração tácita de que somos deuses.
Um dia todos nós seremos anjos, num planeta nobre, rearmonizado, onde reinará o amor, unicamente o amor.
Enquanto esse dia não chega, cabe a cada qual de nós cumprir o seu papel, fazer o seu aprendizado na certeza de que, como diziam os Antigos e como disse Jesus: Nós somos deuses.
por Raul Teixeira, sob coordenação da Federação Espírita do Paraná.
Em 7.3.2022
© Federação Espírita do Paraná - 20/11/2014