É sempre lamentável saber que alguém se suicidou. Todos temos algum caso sobre isso na nossa família, no nosso círculo de amigos ou pelas notícias que temos nos jornais, diariamente, não só no nosso país, mas em toda parte do mundo. O suicídio representa uma cota bastante larga de ocorrências no mundo inteiro. Há países tidos como de Primeiro Mundo, como é o caso da Suíça, da Noruega, da Holanda, da Suécia, em que os casos de suicídio se contam em cifras alarmantes. Chega-se a dizer que são os países onde há maior índice de autocídio, na Europa. Encontramos, no Japão, cifra de suicídios tremenda e, no nosso Brasil, no nosso país, há cidades onde a cota de suicidas cresce a cada dia.
Ficamos a nos perguntar de onde é que vem esse impulso autodestrutivo? De onde é que vem tudo isso? Quando estudou a questão, Sigmund Freud estabeleceu que todas as pessoas que matam alguém, que se tornam homicidas, também poderiam ser suicidas. Ele afirma que o suicida é uma pessoa que queria matar outra. Por qualquer impossibilidade, matou-se para culpar a outrem. É muito comum que suicidas deixem cartas, bilhetes incriminando pessoas, instituições, sociedades, confirmando esse estudo de Freud.
Tudo isso é importante, tudo isso é científico mas, ficamos procurando às razões que levam a criatura à autodestruição. Fundamentalmente, é a descrença na vida. Matam-se os indivíduos que admitem que a vida se acaba com a morte. Se eles tivessem a certeza de que a morte não destrói a vida, nos faz sair dos corpos mas não sair da vida, não se matariam. Trocar seis por meia dúzia. Nem é trocar seis por meia dúzia, simplesmente, porque quando alguém se mata, não chega no Além e continua vivendo com a tranquilidade ou com os problemas que estava vivendo aqui. Chega ao Além com esse acréscimo do complexo de culpa que se lhe instala porque, quando o indivíduo destruiu o seu corpo, seu casulo, seu doce jumento para sumir, para desaparecer, para deixar de ser e constata que, depois dessa tragédia, continua sendo, existindo, vivendo, é uma tremenda frustração.
Passa então o Espírito a conviver com essa frustração de saber que a morte não mata; nos retira do corpo mas não nos retira da vida. E isso é importantíssimo. Quando nos apercebemos dessa importância de não atentarmos contra a vida do corpo, tendo em vista que não iremos morrer, tendo em vista que ninguém morre, nós apenas desencarnamos, saímos da carne, é necessário perceber de que outras maneiras podemos nos matar.
Não é somente tomando de uma arma branca ou de uma arma de fogo. Não será somente ingerindo uma poção venenosa, fatal. Não será apenas dirigindo perigosamente no trânsito, que alcançamos o suicídio. O suicídio tem outras máscaras, tem contornos, tem nuanças que, muitas vezes, nos escapam. São exatamente esses contornos, essas nuanças que deveremos procurar entender para verificar se, na pauta do nosso cotidiano, não estaremos nos suicidando sem que disso nos apercebamos. É muito comum que as pessoas no mundo, mesmo aquelas que frequentam circuitos de crença religiosa, aquelas que se dizem religiosas tenham uma relação muito estranha com a vida e com a morte. Muita gente não sabe que vai continuar a viver depois da morte física. É importante saber.
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Na Terra, conhecemos as várias modalidades de suicídios. Sabemos que muita gente apela para recursos, os mais diversos, para fugir do corpo físico. Mas é muito importante nos darmos conta de que há formas de suicídios que nem imaginamos. Na lei humana, nas cátedras do Direito se costumam considerar alguns crimes como crimes dolosos: aqueles que são cometidos com a intenção de quem os cometeu de alcançar aquele resultado. E há os que são chamados de crimes culposos, quando os indivíduos cometem um desatino, um erro, um crime, sem que tivessem a intenção de cometê-lo. Naturalmente que, no campo do suicídio, também podemos pensar em suicídio doloso e em suicídio culposo.
Há indivíduos, conforme dissemos, que lançam mão de uma arma branca, de uma arma de fogo, de uma poção venenosa, que se atiram de lugares altos para que se arrebentem nos mares, nas águas, nas pedras, seja onde for; que amarram bombas ao corpo e estouram e se arrebentam para arrebentar a terceiros. Esses são os suicidas dolosos. Sabiam que iam morrer, queriam se matar, seja qual for a motivação, seja chamado o suicídio honroso, suicídio pela honra, como se fazia no Japão, o harakiri; como no Vietnã, os bonzos, os sacerdotes budistas que ateavam fogo sobre o corpo e ficavam na posição de lótus, esperando morrer. Seja como for, esses são suicídios dolosos.
Mas a grande massa da Humanidade comete os suicídios culposos. Imaginemos uma pessoa que, ao longo da vida, fume desbragadamente. Vai queimando seu fluido vital. Beba desbragadamente. Vai queimando seu fluido vital. Pessoas que são irritadas o tempo todo, por qualquer coisa, aquelas que têm pavio curto demais e, por quaisquer coisas se estressam. Elas vão queimando vitalidade. As pessoas depressivas e que nada fazem para tratar a depressão, vão mergulhando, chafurdando, imergindo nesses pântanos de morte. São suicidas indiretos ou suicidas culposos. De alguma sorte, eles estão se matando.
Mas encontramos, dentre esses, aqueles que comem demasiadamente. Não comem para viver, vivem para comer, seja por ansiedade, seja por qual motivo for, por gulodice mesmo. Eles estão consumindo o corpo indevidamente.
Aqueles que se lançam a esportes radicalíssimos que, a qualquer momento, podem morrer. São suicidas potenciais, são suicidas indiretos, são suicidas culposos. Estão expondo o corpo a perigos desnecessários, seja em nome do que for.
Temos aqueles indivíduos que fogem do convívio com a Humanidade, que se isolam em mosteiros, em grutas, imaginando, no seu egoísmo, que, dessa maneira, estarão servindo a Deus. Ninguém serve a Deus no isolamento, a menos que esse isolamento seja para atender às necessidades do mundo. Servimos a Deus no mundo, lidando com as lutas, com as coisas, com as pessoas, trabalhando para que esse mundo melhore mas, não fugindo dele. Porque fugindo, eu consumo essa energia egoisticamente e patrocino a minha morte, antes do tempo, porque eu não troco mais energias de vida, fluidos de vida com os meus irmãos, com as outras pessoas.
Encontramos os suicidas indiretos ou os suicidas culposos, nas nossas atitudes diárias! Quando passamos aquelas noites longas sem dormir, por nada, cantando, brincando, festando. E o corpo se ressentindo da noite indormida ou mal dormida. Quando passamos no baile a noite inteira, várias vezes. Há ocasiões que a gente precisa ficar mas, há outras que não precisamos ficar. É preciso, então, que haja esse cuidado com a nossa vida, com o nosso corpo, com a nossa saúde.
A vida na Terra é tão rica, é tão importante e ninguém imagina que, ao provocar a própria morte direta ou indiretamente, estará escapando dos compromissos que tem com a evolução. Todos cresceremos ainda que seja sob o crivo das dores que provocamos.
por Raul Teixeira, sob coordenação da Federação Espírita do Paraná.
Exibido pela NET, Canal 20, Curitiba, no dia 07.03.2010.
Em 08.07.2010.
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