É curioso notar como nos estarrecem as notícias que as mídias projetam em torno da violência.Em toda parte as notícias dos crimes, das guerras nos causam verdadeiro estupor.
É muito comum que as pessoas registrem tudo isto com uma certa dose de angústia, como se o mundo estivesse de mal a pior.
E, quando pensamos nessas questões da violência, que a televisão mostra, que as emissoras de rádio, que os jornais escritos apresentam; quando pensamos nessa violência que está nos filmes, nas telenovelas, que está em toda parte na sociedade, sentimos um aperto muito grande no coração.
Afinal de contas, que mundo é este? Em que mundo nós estamos vivendo?
Esta é uma pergunta crucial, porque quando nos perguntamos, que mundo é este, em que mundo estamos vivendo, não podemos esquecer que nós fazemos parte deste mundo. Não é um mundo lá fora, como se fôssemos dele independentes.
Este mundo no qual estamos identificando tantas catástrofes de violência, tantas tragédias comportamentais, é o mundo que estamos fazendo.
Por causa disso vale a pena nos perguntarmos: O que é que está acontecendo neste capítulo da violência no nosso cotidiano?
Não existe um único dia sequer que não tenhamos notícias de assassinatos, de homicídios, de estupros, de sequestros, de atentados em toda parte. Na sociedade mais próxima, onde estamos e na sociedade do mundo em geral. Parece que o ser humano adentrou caminhos nunca dantes trilhados.
Mas, isso não é bem verdade porque bastará que olhemos a História para percebermos que essa realidade da violência, nesses tempos que vivemos no mundo, é mais conhecida, mas não é uma coisa nova É mais divulgada, mas não é uma coisa recente.
Cabe-nos verificar de onde é que vem essa onda de violência tão terrível na nossa vida cotidiana.
É por causa disso que nos cabe ver como podemos fazer, agir, viver para dar conta desse quadro tão angustiante que aí está em nosso mundo.
Violência, violações, violar - todos esses verbos e substantivos expressam uma patologia da criatura humana. Expressam um tormento pelo qual passa o indivíduo.
Compete-nos identificar onde começa a violência e teremos surpresas muito curiosas ao percebermos, ao registrarmos que todo e qualquer processo de violência que explode na macrosociedade, que avança no mundo em geral, tem começo no indivíduo.
Sim, é no indivíduo que todo esse processo começa. Somos essencialmente portadores desse vírus da violência.
Quando pensamos nessa verdade, sentimos uma certa frieza na espinha, um calafrio que nos passa na espinha porque jamais imaginaríamos que toda essa onda de tormentos sociais, de sequestros, violências, mortes, estupros tivesse começo na nossa atitude pessoal.
Parece que estamos fazendo as coisas às escondidas, temos a sensação de que ninguém nos vê ou, muitas vezes, fazemos abertamente para que sejamos vistos. É a questão da adrenalina. Fazer alguma coisa errada no meio de tanta gente, produz uma adrenalina mas, ao mesmo tempo, indica um desequilíbrio.
É desse modo que a violência vai ganhando expressividade, que a violência vai se disseminando na sociedade em que vivemos. Ao pensarmos nessa disseminação da violência nos cabe cumprir aquilo que viemos à Terra fazer: dar boa conta da nossa administração existencial, dar boa conta de nossa vida, viver de tal modo que não sejamos nós os fatores pré-disponentes da violência. Que não carreguemos em nós essa força que promove a violência mas que consigamos, gradativamente, trabalhar num sentido oposto e verificar que a violência tem nascedouro em nós e, por isso, terá que encontrar seu término também em nós.
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Se nos damos conta de que é no indivíduo que tem nascedouro a violência, fica muito mais explícita a sua origem e, naturalmente, a sua solução.
Em verdade, todos precisamos nos dar conta dos quadros de violência dos quais fazemos parte.
A violência das palavras ásperas, das palavras grosseiras, a violência da pornografia. Falamos o que queremos como se todas as pessoas tivessem a obrigação de nos ouvir o verbo como a gente o queira expressar. E a vida não é bem assim. Se impomos a alguém ouvir-nos nas coisas ruins que queremos dizer, estamos impondo às pessoas violentamente, as nossas ideias.
Se fazemos na nossa casa uma festa e porque estamos na nossa casa ignoramos que os outros vizinhos também estão nas suas casas, fazemos barulho até a hora que bem entendamos porque os outros terão que nos aceitar assim, é violência. Porque se temos direito a fazer barulho em nossa casa, os nossos vizinhos têm direito a ter silêncio em suas casas.
Começamos a nos aperceber das atitudes violentas junto à família: o esposo machista, violento, grosseiro com a esposa; a esposa patologicamente feminista e que acha que a sua palavra tem que ser a última, não ouve a mais ninguém; as agressões contra os filhos; a pancadaria; as brigas entre irmãos dentro de casa são aspectos os mais variados da violência no cotidiano.
Curioso é que não percebemos que isso é violência.
Parece-nos uma coisa muito normal, muito corriqueira nos agredirmos e depois, tudo parece voltar ao normal. Mas as coisas não voltam ao normal que estavam, nunca mais chegamos ao nível zero. Estamos sempre ajuntando lixo nas nossas relações.
E por causa disso mesmo a violência tem começo dentro de nós, estoura nas nossas relações, dentro de casa, no nosso trabalho, com as pessoas com as quais convivemos. Graças a isso é que, a cada dia, a violência urbana aumenta mais.
Parece que o problema da violência urbana é do Governo. Mas o governo da minha casa sou eu, o governo da minha rua sou eu, o governo do meu bairro somos nós.
Então, como fazer para mudar esse quadro que nos incomoda tanto?
Temos que apelar para esse processo de autoeducação. Precisamos aprender a voltar às origens da boa relação.
Saber o que falar perto de quem, respeitar senhoras, crianças, respeitar outras pessoas porque todas as vezes que nós dizemos o que queremos, diz o ditado popular, ouvimos as coisas que não queremos e não gostamos.
Quando dizemos uma palavra de má qualidade, uma palavra de baixo calão, uma palavra indevida, instigamos a reação das pessoas, das que aceitam o que dissemos e daquelas que se rebelam contra o que dissemos.
É da microviolência, digamos assim, a violência do indivíduo, a violência de cada um que nasce a macroviolência.
É da nossa violência individual que advém a grande violência social, não tenhamos nenhuma dúvida.
Quando vemos, numa guerra, soldados se engalfinhando, a guerra não começou com os soldados, começou com cada um dos indivíduos que somaram energias envenenadas.
E essa energia envenenada, essas forças negativas vão impondo à sociedade o desbordar, o desaguar das nossas negatividades reunidas.
Muito mais do que podemos imaginar somos os agentes da violência no nosso cotidiano.
Muito mais do que podemos supor damos ensejo à violência urbana, comentando-a, divulgando-a, devorando essas notícias nos jornais, nas revistas que vendem a rodo o sangue pisado das vítimas sociais.
Quando começamos a fazer essas reflexões, quando partimos para esses entendimentos, agora parece que conseguimos encontrar a saída, a renovação pessoal, o esforço por nos apaziguar, o esforço por nos tranquilizar e fazer com que a cada dia, ao nosso redor, haja harmonia, haja paz.
Em 10.08.2009.
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