Vida e valores


O que que vem a ser valor?

 

Esta é uma pergunta complicada, porque tudo que a criatura humana valoriza, prestigia, é valor para ela.

 

Não existem propriamente valores absolutos, a não ser os valores da Divindade. Tudo que vem da Divindade é absoluto, porque estamos lidando com uma Força Cósmica Absoluta.

 

Mas todas as coisas que nós priorizamos na nossa vida são as coisas às quais damos valor, atribuímos valor.

 

Desse modo, nós podemos bem perceber que cada criatura tem sua lista de coisas valorosas e sua lista de coisas desvalorosas.

 

A partir disto, surge um conceito psicológico que se chama escala de valores.

 

Todos nós temos escalas de valores. Todo e qualquer indivíduo monta a sua escala de valores. E essa escala de valores traz em si, ordenadamente, das coisas que nós mais gostamos àquelas que menos gostamos, ou o contrário, das que menos gostamos para as que mais desejamos. Nós fazemos uma escala.

 

Isso pode ser um trabalho literal, um trabalho escrito, como pode ser alguma coisa que fica registrada no nosso inconsciente e, por isso, a nossa escala de valores é diferente da escala de valores do meu vizinho, do meu colega de trabalho, do meu pai, da minha mãe, de meus irmãos, de meus filhos, de minha mulher ou meu marido.

 

Cada criatura faz a sua escala de valores. Baseada em quê?   

 

Baseada no fato de que cada qual de nós tem uma formação íntima, tem filtros internos. cada qual de nós teve uma educação diferente, tivemos pais diferentes dos outros.

 

Tivemos um lar, um berço, formação religiosa, formação política, formação econômica, relacionamentos saudáveis, relacionamentos doentios. Cada qual os teve diferentemente do outro.

 

Graças a essa porção de situações que ocorrem nas vidas individuais, surge a escala de valor.

 

Se eu valorizo mais o dinheiro, todas as coisas que eu fizer, farei em torno do dinheiro.

 

Se eu tiver que ajudar alguém, ajudarei desde que eu ganhe, desde que eu lucre.

 

Se eu tiver que fazer uma viagem, levo uma coisinha para vender, ou trago uma coisinha para vender.

 

Se o meu objetivo for a educação, invisto todas as minhas cartas na educação, minha, dos meus, daqueles de quem eu goste.

 

É essa escala de valores verdadeiramente que estabelece como é que eu vou viver, o que é que eu vou fazer, e como é que farei as coisas que fizer.

 

Desse modo, é importantíssimo estarmos atentos para os valores da nossa vida, para as coisas que representam valores para nós.

 

Cada vez que nós pensarmos nisso, faremos uma avaliação do que é que estamos chamando de valores ou a que é que estamos dando valor de valores, ou o que é que é um valor indevidamente assim considerado.

 

Há valores que são desvalorosos diante das Leis de Deus. E há coisas desvalorizadas por nós que têm um valor incrível diante da Lei Divina.

 

Essa relatividade corresponde ao degrau evolutivo no qual cada qual de nós se encontra.

 

Para muita gente a ingratidão é uma lei: Eu sou assim e está acabado.

 

Mas, diante das Leis de Deus é um crime tão grave ser ingrato. Como se diz popularmente: Cuspir-se no prato onde comemos.

 

Para outras pessoas a frieza é do seu natural. Meu temperamento é assim. Mas, é alguma coisa bastante triste uma pessoa fria, indiferente.

 

Há valores que são desconsiderados por nós e há desvalores aos quais damos uma importância grandiosa.

 

Cada vez que pudermos pensar nisso, que pudermos avaliar o que é que estamos tomando por valores, teremos mais chances de fazer uma escala de valores verdadeiramente valorosa, e esse valor estará calcado nas Leis de Deus.

 

*   *   *

 

Quando nós pensamos nessa escala de valores, nos lembramos do Amigo Jesus.

 

Jesus Cristo tinha ensinamentos para todos os momentos da vida e, num desses ensinamentos, Ele nos disse:

 

Onde estiver o teu tesouro, aí estará o teu coração.

 

Notemos que coisa impressionante, porque é exatamente assim que as coisas acontecem.

 

O tesouro é formado pelas coisas que valorizamos. Tudo que nós gostamos, tudo que nós valorizamos, acaba se transformando no nosso tesouro, no nosso valor, naquilo pelo que damos a vida, aquilo para o que lutamos. E aí estará o nosso coração, onde estiverem os nossos valores.

 

Dessa maneira vale a pena pensar que o nosso íntimo é o nosso coração.

 

Jesus Cristo não se refere ao coração como o músculo cardíaco. É o coração cerne, é o coração intimidade, é o coração nossa interioridade.

 

Todas as vezes que nós estivermos valorizando alguma coisa, aí estaremos junto com essa coisa valorizada, junto com essa pessoa valorizada, junto com esse objeto valorizado.

 

É por causa disso que surgem os apegos. Há pessoas apegadas a objetos, há pessoas apegadas a posições sociais, há outras apegadas à pessoa, e qualquer nível de apego nos perturba e perturba a coisa ou a pessoa a que estejamos vinculados.

 

Imaginemos alguém apegado a nós e que não nos dê sossego para nada, não nos deixe tranquilo, para tudo nos busque, para tudo nos queira, para tudo, para tudo... nos atormenta.

 

É assim que nós ficamos quando nos apegamos, porque eu não sei sair sem essa bolsa, eu não sei viajar sem que Fulano vá comigo, eu não sei fazer isto se Beltrano não me ajudar, eu não... Nós criamos problemas em lugares onde não havia problemas.

 

Mas, a nossa escala de valores é assim. De repente, a nossa escala de valores é o corpo físico em primeiro lugar.

 

Não comemos, ficamos anoréxicos, criamos mil problemas com a saúde. Por quê? Porque eu quero que o meu corpo fique esquelético, fique magro, fique na moda.

 

Mas, há outras pessoas que querem que o corpo engorde, porque se sentem magras demais, e passam a dietas e dietas, ficam diabéticas, criam outros problemas de saúde e não engordam, por causa da sua biologia.

 

A nossa escala de valores tem uma série enorme de variações, de maneira que nós verificamos que os grandes conflitos da nossa vida social se dão exatamente porque cada um tem uma escala de valores diferente.

 

Enquanto um deseja uma coisa, o vizinho deseja outra coisa.

 

Enquanto nós queremos a noite, o outro deseja o dia. Enquanto dizemos: Eu adoro futebol, o outro dirá: Eu odeio futebol.

 

Mas não precisamos odiar o futebol. Há alguém que diga:  Eu adoro futebol e há outro que dirá: Eu adoro tênis, basquetebol.

 

E, dessa maneira, notamos que há diferenças.  Mas eu gosto de futebol acima de qualquer coisa, eu gosto de todos os esportes, mas prefiro futebol. A escala de valores dele, colocando o futebol em primeiro lugar.

 

Eu gosto da minha família inteira, mas igual a minha mãe não há. A mãe está em primeiro lugar, depois distribuímos o carinho, a ternura, a atenção com os demais familiares. Escala de valores.

 

No campo da política, se o valor do indivíduo for a sociedade, ele pensará dia e noite em como trabalhar para o benefício social. Mas, se na escala de valores desse político o mais importante for o enriquecimento, for o poder, for o dinheiro, for a fama, pobre sociedade que o tenha elegido.

 

Desse modo, todos nós perceberemos que a nossa vida, as nossas vidas são dotadas de escalas de valores.

 

Vida e valores são vinculados durante todo o tempo. Vida e valores não se separam. Não há nenhuma pessoa que consiga viver sem valores. Não há ninguém que possa estar no mundo, participar da vida, sem estabelecer seu roteiro de valoração.

 

É por causa disso que nos cabe, a nós que queremos ser homens e mulheres de bem, prestarmos bastante atenção naquilo que estamos usando para formar a nossa escala de valores porque, de acordo com a vida que tivermos levado aqui na Terra, será o nosso encontro com a realidade espiritual.


Transcrição do Programa Vida e Valores, de número 154,
apresentado por Raul Teixeira, sob coordenação da
Federação Espírita do Paraná.
Programa gravado em julho de 2008. Exibido pela NET,
Canal 20, Curitiba, no dia 19.7.2009.
Em 2.3.2023

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