A força do Espiritismo
A força do Espiritismo tem duas causas preponderantes: a primeira é tornar felizes os que o conhecem, o compreendem e o praticam. Ora, como há pessoas infelizes, ele recruta um exército inumerável entre os que sofrem. Querem lhe tirar esse elemento de propagação? Que tornem os homens de tal modo felizes, moral e materialmente, que nada mais tenham a desejar, nem neste, nem no outro mundo. Não pedimos mais, desde que o objetivo seja atingido.

A segunda é que o Espiritismo não se assenta na cabeça de nenhum homem, sujeitando-se assim, a ser derrubado; não tem um foco único, que possa ser extinto; seu foco está em toda parte, porque em toda parte há médiuns que podem comunicar-se com os Espíritos; não há família que não os possua em seu seio e que não realizem estas palavras do Cristo: Vossos filhos e filhas profetizarão, e terão visões; porque, enfim, o Espiritismo é uma ideia e não há barreiras impenetráveis à ideia, nem bastante altas que estas não possam transpor. Mataram o Cristo, mataram Seus apóstolos e discípulos. Mas o Cristo tinha lançado no mundo a ideia cristã e esta ideia triunfou da perseguição dos Césares onipotentes. Por que, então, o Espiritismo, que não é senão o desenvolvimento e a aplicação da ideia cristã, não triunfaria de alguns zombeteiros e de antagonistas que, até o presente, a despeito de seus esforços, só lhe puderam opor uma negação estéril? Haveria nisto uma pretensão quimérica? Um sonho de reformador? Aí estão os fatos para responder: o Espiritismo penetra em toda parte, a despeito de tudo e contra tudo; como o pólen fecundante das flores, é levado pelos ventos e finca raízes nos quatro cantos do mundo, porque em todo lugar encontra uma terra fecunda em sofrimentos, sobre a qual derrama o bálsamo consolador. Suponde, então, o estado mais absoluto que a imaginação possa sonhar, recrutando toda a gente de seus esbirros para deter a ideia ao passar: poderão impedir que os Espíritos entrem nela e se manifestem espontaneamente? Impedirão que os médiuns se formem na intimidade das famílias? Suponhamo-la bastante forte para impedir de escrever, para proibir a leitura dos livros, poderão impedir de ouvir, desde que há médiuns auditivos? Impedirão o pai de receber consolações do filho que perdeu? Vede, pois, que é impossível, e que eu tinha razão em dizer que o Espiritismo pode, sem receio, entregar aos inimigos, o segredo de suas forças.

(...) Dizem alguns que ela [a Doutrina Espírita] é contrária à religião. Eis a grande palavra com que tentam amedrontar os tímidos e os que não a conhecem. Como uma Doutrina que torna melhor, que ensina a moral evangélica, que só prega a caridade, o esquecimento das ofensas, a submissão à vontade de Deus seria contrária à religião? Seria um contrassenso. Afirmar semelhante coisa é atacar a própria religião. Eis porque digo que não a conhecem os que assim falam. Se tal fosse o resultado, por que conduziria ela às ideias religiosas os que em nada creem? Por que faria orar aqueles que haviam esquecido de o fazer desde a infância?

(...) O mais belo lado do Espiritismo é o lado moral. É por suas consequências morais que triunfará, pois aí está a sua força, por aí é invulnerável. Ele inscreve em sua bandeira: Amor e caridade;  e diante desse paládio, mais poderoso que o de Minerva, porque vem do Cristo, a própria incredulidade se inclina. Que se pode opor a uma Doutrina que leva os homens a se amarem como irmãos? Se não se admitir a causa, pelo menos se respeitará o efeito. Ora, o melhor meio de provar a realidade do efeito é fazer sua aplicação a si mesmo; é mostrar aos inimigos da Doutrina, pelo próprio exemplo, que ela realmente torna melhor.

Mas, como fazer crer que um instrumento possa produzir harmonia se emite sons discordantes? Do mesmo modo, como persuadir que o Espiritismo pode conduzir à concórdia, se os que o professam, ou supostamente o praticam – o que para os adversários dá no mesmo – se atiram pedras? Se basta uma simples susceptibilidade do amor-próprio para os dividir? Não é o meio de rejeitar seu próprio argumento?

Os mais perigosos inimigos do Espiritismo são, pois, os que o fazem mentir a si mesmos, não praticando a lei que proclamam. Seria pueril criar dissidência pelas nuanças de opinião; haveria evidente malevolência, esquecimento do primeiro dever do verdadeiro espírita, em separar-se por uma questão pessoal, porquanto o sentimento de personalidade é fruto do orgulho e do egoísmo.

(...) Crede que meu concurso jamais faltará, naquilo que estiver ao meu alcance fazer, para secundar os esforços dos que são sincera e conscienciosamente devotados de coração a esta nobre causa, que é a da Humanidade.

Allan Kardec
1.KARDEC, Allan. Viagem Espírita em 1862 e outras viagens de Kardec. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Discurso de Allan Kardec aos espíritas de Bordeaux (1861).

© Federação Espírita do Paraná - 20/11/2014