Um israelita sem dolo - Amélia Rodrigues
Sim, todos ou quase todos estavam informados adredemente...

Uma Empresa de tal envergadura projetada há milênios com riqueza de detalhes, mediante cuidados especiais e extraordinários numa visão transcendente do passado assim como do futuro.

Nenhum imprevisto poderia surgir ou deveria criar embaraços no organograma elaborado quase à perfeição.

Não eram poucas as vidas e os Espíritos convocados pela Divindade para a instalação do Reino de Deus nos corações da Humanidade ainda em processo de primarismo evolutivo.

A fixação das bases desse Reino metafísico teria que ser fincada na rocha viva da Verdade.

Todos eles haviam sido treinados carinhosamente antes do berço na Espiritualidade, de tal modo que permanecessem levemente adormecidos os tesouros do conhecimento que ressurgiriam no momento adequado como intuição, iluminação ou inspiração superior, permanecendo indefinidamente a guiar-lhes os passos.

Todos sabiam da gravidade do compromisso e aceitaram a tarefa com júbilo e, por essa razão, todos os que foram chamados tinham uma impressão especial a respeito do Messias.

A espera do Messias era algo natural e especial em toda a Israel. O anelo e a devoção, em favor da Sua chegada, tornavam-se cada dia mais necessários e expectantes, fazendo com que até mesmo a Natureza contribuísse para que o sucesso logo acontecesse.

A psicosfera da Terra sofrera alteração para melhor, a fim de que a paz e a beleza fossem as auréolas divinas envolvendo o compromisso sublime.

Parece estranho que em alguns momentos eles fossem atormentados pela dúvida ou se perdessem em incertezas, suspeitas injustificadas ante os fatos incomuns que assistiam amiúde.

Era natural, no entanto, que isso acontecesse pois que as suas roupagens carnais eram de humanidade com todas as vicissitudes apresentadas pela organização material.

Aqueles se tornaram períodos especiais do calendário em relação a todos os que já existiram e que talvez não se repitam mais...

A História informará que foi o dos Bons Imperadores, iniciando-se, conforme o historiador Plutarco, com Otávio Augusto, que viveu em clima de harmonia por toda parte até a morte de Marco Aurélio em 180 d.C., tendo-se iniciado em 27 a.C.

A essa larga faixa o mundo viveu a excelência da Pax Romana, embora os inevitáveis conflitos nas regiões mais distantes da capital.

Vicejavam Leis justas, administração equilibrada, permissão de culto aos deuses de cada província ou região conquistada.

Logo após, iniciou-se a decadência, a derrocada do incomensurável Império que foi reduzido às memórias dos seus extraordinários edificadores do passado.

Em razão dessa glória, na denominada fase de ouro de Otávio Augusto, surgiram estetas, cantores e poetas de todos os matizes, sublimação nas artes, na economia e na administração com o respeito às Leis estabelecidas e à ordem
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Foi nesse momento, nessa fase grandiosa e pacífica que Jesus nasceu, culminando os Seus dias grandiosos sob a soberania de Tibério César.

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Caná era uma vila quase insignificante e pouco habitada, próxima a Nazaré, que igualmente era relativamente modesta.

Nazaré, porém, possuía uma sinagoga e ficava geograficamente em meio a estradas que levavam a diversas cidades e regiões.

Nazaré ficava esparramada numa das encostas das montanhas da Galileia, e nada a destacava das demais cidades.

Naqueles dias difíceis, Caná era considerada como quase um nada, a ponto de perguntar-se o que pode vir de bom de lá, aliás, como faziam os judeus aos galileus que eram subestimados por viverem numa região menos opulenta do que outras Tetrarquias.

Nessa singela Caná, que se fará cantada em poemas, versos e histórias incomparáveis, nasceu Bartolomeu, também conhecido por Natanael.

Ele se tornou um discípulo de Jesus dos mais estimados.

Bartolomeu é sobrenome hebraico, que corresponde a filho de Tolmai,  enquanto seu nome, que é Natanael, significa Deus deu, ficando, portando, denominado como Nataneel Bar Tolmai.

Os livros do Novo Testamento referem-se a ele poucas vezes, porém o suficiente para saber-se que era de caráter nobre e introspectivo, silencioso como quem busca algo que deseja com afinco e a tal dedica-se com acendrado interesse.

Tinha por hábito consultar os escritos sagrados, o que sempre fazia à sombra das figueiras que lhe cercavam a casa modesta.

O seu relacionamento com Filipe, outro apóstolo de Jesus, era constante e nobre, pois que estavam sempre juntos, quando dialogavam sobre aquela expectativa que a ambos afligia; por isso, era um israelita sem dolo...

Naquela época uma voz procedia do deserto conclamando à penitência, pois que o Reino próximo de ser edificado e o Messias já se encontravam naTerra, preparando-o.

João (Yocanaan) fizera-se conhecido pela sua pregação e pelo hábito de batizar aqueles que se arrependiam dos erros e necessitavam de uma nova oportunidade para serem felizes.

A sua voz poderosa e aparência especial, austera e sem retoques, arrebatava multidões que tinham sede de paz e vida.

De preferência o fazia às margens do rio Jordão, unindo o povo ante as águas abençoadas e purificadoras.

Ele apresentava os ensinamentos essênios sobre a coragem e a fé, a conduta e a abnegação, a castidade moral e a fidelidade aos deveres, como aquele que somente habitariam a Terra os portadores de tais valores.

Os dois amigos haviam-no escutado e estavam realmente comovidos com a mensagem que lhes banhava a alma de santas emoções.

Filipe, porém, ouvira antes Jesus e ficara fascinado. Tudo nEle era especial e incomum. Suas palavras eram pérolas luminosas que abrilhantavam o coração.

Falou a Natanael a seu respeito, exatamente quando Ele o convidou a fazer parte do grupo que estava sendo organizado.

- Vem, Natanael! Eu te vi à sombra da figueira meditando...

E logo acrescentou:- Este é um israelita sem dolo.

A referência especial era de grande magnitude, porquanto não bastava ser israelita e muitos não faziam jus à denominação em razão do caráter reprochável ou preconceituoso. Era aberto à luz que o clareava interiormente.

Surpreso favoravelmente, Ele não pôde negar que havia encontrado o que tanto buscava, aquele Enviado Filho do Altíssimo.

Totalmente tocado pela sua beleza e mensagem, desde aquele momento entregou-se-lhe em regime de totalidade.

A partir de então, discreto e diligente, sempre esteve ao lado do amado Rabi.

Viveu com Ele os dias ásperos, as noites frias e angustiantes, as horas decisivas e os horrores em Jerusalém, e depois da Sua morte na cruz, vergonhosa e perversa, fez parte da inolvidável madrugada em que pescavam ao retornarem à Galileia e participaram do encantamento do seu poder, orientando para que lado se deveria atirar as redes...

Igualmente com Filipe, participou do encontro dos quinhentos naquela tarde inolvidável em que João falava sobre Ele e todos O viram, O ouviram e choraram de emoção ante as orientações que deram àqueles quinhentos na Galileia formosa e amada, a fim de que saíssem pelo mundo a divulgar a Verdade, oferecendo a própria vida conforme Ele o fizera.

Nunca, em momento algum O esqueceria ou deixaria de cumprir o seu dever de semear a alegria do Reino até o instante final, no grandioso testemunho.

A modesta Caná onde Ele operou o fenômeno com água em sabor de vinho e a tornara famosa pelos tempos do futuro, também o ofereceu à Humanidade como exemplo ímpar de fidelidade e amor.

Afirmam uns que ele foi atirado ao mar em um saco com pedras e outros comentam que ele foi crucificado após pregar na Índia e em outros lugares, ensinando a viver-se em liberdade e plenitude.

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Como é a tua fé no Messias?

Máscaras, aparências e comportamentos que não condizem com a tua realidade íntima?

Nestes aflitivos dias de alucinação e criminalidade de todo tipo, deserções vergonhosas e covardes em relação aos compromissos com Jesus, recorda-te de Natanael e vive desde agora o Reino de Deus com toda a sua complexidade e beleza.

Antes de fugir pela porta do nada em busca de coisa nenhuma, recorda que Jesus te ama exatamente como és e espera que te transformes em uma carta viva do Seu Evangelho libertador.

Nada te afaste dAquele que é Vida e pão da vida.

Torna-te um cristão verdadeiro em quem não haja dolo.

Amélia Rodrigues
Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na noite de 21.11.2022,
na sessão mediúnica do Centro Espírita Caminho da Redenção,
em Salvador, Bahia.

© Federação Espírita do Paraná - 20/11/2014