Construindo o mundo do amanhã - Vianna de Carvalho
Numa retrospectiva rápida, evocamos as grandes nações do passado, que antecederam ao tempo de Jesus, na Terra.

Recordamos da Índia abençoada pelo Ganges e os missionários que lhe insculpiram o nome na História, graças à inspiração do Alto e às suas consequentes revelações espirituais. Rememoramos a saga dos brâmanes e dos párias, das suas opulências e misérias, lutas e dores, e verificamos que ainda hoje a grandiosa pátria dos contrastes prossegue buscando o progresso e a paz, sob o clamor das massas que lhe padecem as injunções amargas de vária espécie.

Repassamos pela mente a China multimilenária e o seu povo guiado pelo pensamento de Fo-Hi, Lao-Tsé e Confúcio, bem como das suas tradições e as glórias das dinastias que a engrandeceram ou se deixaram submeter aos povos vizinhos ambiciosos, escravizando-a várias vezes.

Evocamos a Assíria e a Babilônia, a Pérsia e os Estados gregos que se celebrizaram pela beleza da filosofia, procurando interpretar os enigmas do Universo, dando lugar às suas lendas, às magníficas narrações sobre deuses e criaturas humanas, os inolvidáveis historiadores, tais Heródoto, Tucídides, Possidônio, os seus escritores ímpares como Homero, Polieno, Plotino, seus filósofos desde Anaxágoras, Sócrates, Platão, Aristóteles, escultores e artistas que atravessaram os milênios.

Destacamos Roma, desde o seu nascimento nos pântanos do Lácio, fosse no monte Palatino e no Quirinal. Não podemos olvidar os seus conquistadores, quais Júlio César e quantos outros; os seus imperadores Augusto, Tibério, Nero, Calígula, temerários e cruéis uns, nobres como Adriano e outros, que deixaram as suas marcas e assinalaram com eloquência o período em que viveram. Mas também seus filósofos Cícero, Adriano de Tiro, Asclepíades, Boécio, a sua herança helenista e os artistas, sua incomparável glória, decadência e destruição mais de uma vez...

Detemo-nos a reflexionar sobre Israel, o seu extraordinário conceito monoteísta, seus profetas, reis e escritores, a grandeza do Velho Testamento, os seus construtores e inspirados missionários que estabeleceram códigos de relevante significação, qual Moisés, Elias, e a nossa imaginação tenta relacionar a sua grandeza com as escravidões a que seu povo esteve submetido várias vezes...

Passa-nos pela mente a grandiosa Lídia, o seu rei poderoso, portador de fortuna incalculável, e a destruição de tudo na batalha em que Ciro a conquistou, reduzindo-a a escombros...

Impérios, aparentemente, indestrutíveis, foram devorados pelo tempo e por conquistadores temerosos, hoje reduzidos à penúria e aos destroços que atraem turistas desinteressados no seu passado destino.

Nesse báratro histórico e assinalado pelas calamidades nasceu Jesus, o Rei singular, que mudou os conceitos vigentes, demonstrando a transitoriedade da existência física e a imortalidade do Espírito.

Com palavras jamais enunciadas, renovou o pensamento humano e demonstrou a grandeza do amor, fonte geradora e mantenedora de vida.

Mediante o Seu exemplo de simplicidade e ternura, de compaixão pelo próximo, lecionou a misericórdia e renovou a compreensão em torno dos deveres que a todos nos cabem durante a vilegiatura carnal.

A Sua mensagem, jamais ouvida igual, revolucionou os simples e oprimidos, os pobres e esquecidos, estimulando-os à vivência da solidariedade e do perdão, como normativas ditosas para alcançar-se a felicidade.

Utilizando-se de imagens muito modestas na forma e de conteúdo inigualável, compôs parábolas que sobreviveram a todas as fases do tempo, e mantêm a atualidade, transcorridos dois mil anos desde que enunciadas, como cantos poéticos na paisagem dos corações.

Jamais houve quem O igualasse na dimensão do sacrifício e da beleza viva que apresentou em breve tempo e modificou os rumos da Humanidade.

Seguindo-O, surgiram os mártires da fé, em holocaustos jamais vistos, e, do pó, que foram reduzidas as nações do passado, ergueu-se um mundo novo, anunciando libertação do sofrimento e plenitude existencial.

Nada obstante, em face das imperfeições predominantes em a natureza humana, as lições do Nazareno ímpar foram transformadas em leis de impiedade e subjugação, em poder desnaturado para teólogos e dominadores cruentos, que semearam sombras densas através dos tempos...

Mulheres e homens notáveis, no entanto, desceram ao proscênio terrestre para reacender a chama do amor que foi apagada, a doçura da caridade e da humildade totalmente esquecidas, impedindo o crescimento intelecto-moral das massas que lhes experimentaram a perversidade, padecendo perseguições inomináveis.

Não puderam, mesmo com todas as armas da astúcia e da perversidade, impedir o progresso, que é Lei da Vida, e a sociedade avançou pelas trilhas da Ciência, que abandonou os rumos da Religião, e deu início à era do pensamento e da experimentação, renovando o mundo e a Humanidade.

Permaneceram as guerras, as perseguições e as crueldades, porque o sentido moral da existência não logrou o mesmo desenvolvimento.

Filosofias existencialistas e comportamentos destrutivos tomaram conta das criaturas humanas, que buscavam fugir das circunstâncias afligentes, tombando nas garras do materialismo e do utilitarismo.

As doutrinas religiosas apegadas a interesses sórdidos, havendo olvidado o ser humano em si mesmo, permitiram que a falta de rumo imortalista facultasse o surgimento do individualismo, do sexisismo e do consumismo, a que se atirou, estorcegando nas lutas do autoaniquilamento, da loucura, da depressão, do suicídio...

Indubitavelmente, as conquistas da Ciência e da Tecnologia muito vêm contribuindo para tornar o mundo melhor, libertar a Humanidade de pandemias terríveis, proporcionar saúde e longevidade, facultar comunicações com a rapidez antes inimaginável, compreensão de muitos enigmas que fascinaram os antepassados, dirimir dúvidas a respeito de muitas superstições, mas não conseguiram enxugar as lágrimas que nascem no coração.

Graças ao surgimento do Espiritismo, no Século das luzes, foram restauradas as propostas de Jesus, abriram-se os painéis da imortalidade oferecendo dignidade à existência física, surgiram novos labores em favor do próximo, assim como da Natureza, e o mundo do amanhã vem sendo desenhado de forma segura, sem que ocorra a falência dos postulados da Verdade, geradores da paz interior em todos.

Os programas de construção desse mundo novo são os mesmos que se encontram estabelecidos no Evangelho de Jesus, e que, aplicados devidamente, operam a dissolução do mal que ainda reside no âmago das criaturas humanas e ensejam a perfeita união entre o pensamento do bem e a sua ação ampla, sem deperecimento.

Os seus fundamentos, estruturados na mais perfeita moral, facultam a fraternidade universal e convidam ao sentimento de amor, que deve ser a regra básica de todas as realizações.

Por essas razões e outras mais, as Conferências efetuadas pela Federação Espírita do Paraná, têm contribuído decisivamente para esse mister, transformando a mulher e o homem modernos em verdadeiros construtores da ordem, da moral, do progresso, que são os fatores essenciais para que haja paz em todas as vidas, realizando na Terra o Reino dos Céus pelo qual todos anelamos.

Vianna de Carvalho
Psicografia de Divaldo Pereira Franco,
no dia 25.1.2018, na Mansão do Caminho,
em Salvador, Bahia.
Em 4.9.2023.

© Federação Espírita do Paraná - 20/11/2014