Saúde moral - Joanna de Ângelis
Dizes que não vale a pena viver a conduta reta, quando o crime e a desordem gozam de cidadania e de aceitação.

A vérmina da angústia parece corroer os postulados do que acreditavas como realidade inegável e agora desconsiderados pela sociedade perdida nos graves problemas existenciais.

Sim, é muito grave a situação moral do planeta, quando se proclama a necessidade do furto e do erro, a fim de serem atendidas necessidades que não são fundamentais; quando se apela para o infanticídio como reparação do uso irresponsavelmente; quando se agridem as autoridades que se perderam nos corredores administrativos e convivem com a criminalidade e os seus chefes que desfrutam de consideração e cidadania.; quando se percebe que a honradez é ultrajada e a retidão do caráter desperta zombaria; quando o escárnio e o descalabro promovem os indivíduos que menoscabam a dignidade e o senso moral.

São doenças inumeráveis que se espraiam no mundo moderno e que culminam em síndromes perversas e alucinadas no homicídio e, principalmente, no feminicídio.

Nessa situação atual e aterradora, a vida quase nada representa, podendo ser violada repentinamente, aumentando as estatísticas aterradoras.

Apesar da situação calamitosa não podes esmorecer, deixar de praticar o Bem, cultivar os deveres sagrados a que todos se devem consagrar.

A desagregação da sociedade começa quando o materialismo toma conta da cultura e apresenta a sua realidade pessimista da consumpção da vida mediante o veículo da morte.

A educação que deve promover a vida e os ideais de engrandecimento humano, repudiando os valores espirituais, desarmam o amor e a solidariedade que devem viger no convívio social.

A ausência do significado afetivo, substituído por equipamentos eletrônicos que não conseguem acolher e dar calor à infância, torna os pais e responsáveis sustentadores de despesas sem a ternura da afetividade que vincula profundamente as criaturas umas às outras.

O egoísmo que predomina nos comportamentos humanos mais se preocupa consigo próprio do que com o outro que faz parte do organismo social.

Uma sociedade sem o heroísmo dos seus cidadãos avança na direção do caos.

Mais do que nunca surgem fantasias e ilusões que desviam a criatura da sua missão histórica de edificar o progresso moral e não apenas o tecnicista coopera para a ausência de responsabilidade entre os indivíduos.

O ser humano experimenta na cartografia da sua evolução, um momento grave e muito delicado, que é este.

Indispensável que esse cardápio do cotidiano não se constitua o único recurso para a tua escolha evolutiva.

Dispões do Evangelho de Jesus, que prenunciou estes amargos tempos, período de transição de uma cultura insana para outra de significado feliz, estando às tuas ordens para ser vivenciada.

*

Por mais se aprofunde nas carnes da alma o domínio do ceticismo e da negação da vida, a destinação histórica da Humanidade é inevitável e nada impedirá que se mantenha a busca, evitando o caos.

O ser humano encontra-se num estágio da evolução que culmina na plenitude, conforme estabelecida pela ética nas suas mais formosas expressões. E essa plenitude começa quando se desenvolvem os sentimentos de amor e de solidariedade, facilitando a união e equilíbrio entre os membros da comunidade na qual se convive.

Banha-te, pois na água lustral da Boa Nova de Jesus Cristo, que veio ter conosco a fim de que pudéssemos experimentar desde logo as delícias do Seu reino, motivando-nos a conquistá-lo mediante a nossa integração no espírito imbatível da solidariedade.

Havendo demonstrado que o verdadeiro triunfo difere das formulações terrestres vigentes no Seu tempo, ensinou-nos temperança, bondade, aceitação, de modo a nos fortalecermos para a vitória final.

Observa a glória dos vencedores terrestres, que não vai além de um breve período, e o verás vergastado pelo medo do envelhecimento, das doenças, da traição dos companheiros, sempre preparados para substituí-los, e da morte...

Tudo fazem para permanecer no auge, mas a fatalidade do tempo substitui-os e os atira à solidão encarcerados nos seus tesouros, que lhes não diminuem as aflições íntimas.

Ei-los embriagados de luxúria e de perversões, alcoolizados ou dependentes de substâncias destrutivas, nas quais buscam refúgio para fingir felicidade e poder.

Acompanha o esforço, a audácia e cinismo dos gozadores e constatarás quanto lhes é atribulada a existência e quão terríveis seus temores íntimos.

Empenham-se alguns apaixonados e doentes morais para retirarem da História os mártires, os heróis, capitaneados por Jesus, enquanto exaltam criminosos temíveis que brilharam por um dia, mas desapareceram também e são igualmente detestados pela multidão de vítimas que foram submetidas, mas nunca destruídas, porque a vida prossegue além da morte...

Todos renasceram em outros corpos, os implacáveis perseguidores e aqueles que lhes padeceram a crueldade; os primeiros, ignorando a Verdade, aterrorizaram os segundos, crucificaram-nos e os anatematizaram.

Desfilam, desfigurados, em estados que merecem compaixão e cooperação, e na maioria arrastando sua indigência espiritual no seio das cidades que outrora perverteram e que agora lhes servem de abrigo nefando, onde expungem, e recomeçam...

Incontáveis, deambulam pelos corredores da loucura, dos estertores agônicos do abandono social ou de si mesmos, bem como aprisionados em doenças terrificantes e devastadoras.

Compadece-te deles, os dominadores de ontem, hoje reparando, e cuida-te com saúde moral e mental, nunca desanimando ou temendo esse caldo angustiante que logo passará.

A fatalidade é o Bem nas suas mais profundas raízes.

Contribui para este amanhã que hoje começa a e faze a tua parte.


*

...E se em algum momento estiveres a ponto de sucumbir ao desânimo ou ao desespero, lembra-te da mulher siro-fenícia, portadora de terrível enfermidade que a infelicitava; ela venceu obstáculos quase insuportáveis para receber a ajuda de Jesus, conseguiu alcançá-lO, porém, impedida de receber diretamente o Seu amor, tocou-lhe as vestes e recuperou-se.

Tenta tocar-lhe espiritualmente a túnica e sobreviverás às doenças morais, resplandecendo de saúde e de paz.

Joanna de Ângelis
Psicografia de Divaldo Pereira Franco,
em 3.4.2023, no Centro Espírita Caminho
da Redenção, em Salvador, Bahia.
Em 19.9.2023

© Federação Espírita do Paraná - 20/11/2014