Alegria e paz - Joanna de Ângelis
Passaram na ampulheta do tempo os acontecimentos históricos com a velocidade correspondente ao desenvolvimento do progresso.

Desde as mais terrificantes convulsões da nebulosa inicial de gazes incandescentes, da qual surgiram as complexas e colossais galáxias até o desabrochar da delicada violeta, o Criador vela pela Sua Obra.

Alteraram-se terríveis modificações mediante as convulsões da imensurável massa até o esfriamento das temperaturas exageradas e o tempo foi se encarregando de condensar aos metais e as rochas liquefazendo uns e mantendo outros em ebulição com um destino adrede estabelecido.

Bilhões de anos se dobraram uns sobre os outros até o surgimento da vida, dormindo o profundo sono da inanição.

Muito depois, mediante desastres cósmicos colossais nos espaços infinitos, as moléculas se foram agregando e tudo tomou formas infinitas.

Surgiram da treva quase absoluta onde volteava esse colosso em combustão, separações abruptas e volumosas que seriam os astros em altíssimas temperaturas e resfriaram-se, formando-os, os quais passaram a vibrar num intérmino balé inconcebível, tudo em dimensões inimagináveis.

Naquela que seria a Terra as convulsões não seriam menores, recebendo choques provindos de outras massas e dela destacando-se numa volúpia que imaginação alguma consegue entender.

A imensa massa lunar destacou-se num choque inimaginável e submeteu-se à força da qual se originou, qual ocorrera com a Terra ao liberar-se do Sol.

Invisíveis Leis de harmonia passaram a influenciar o turbilhão universal e o Cosmo foi se equilibrando no caos dominador de tudo.

Na sucessão dos milênios o planeta adquiriu sua órbita sob a divina supervisão e teve início a fatalidade do seu determinismo.

A evolução adormecida no seu colosso foi se definindo e os primeiros fenômenos vitais iniciaram o passo da sua futura destinação.

Da escuridão tremenda à claridade solar, do adusto e cruel terreno ao fértil, das águas em choques superlativos às calmarias, das tempestades aéreas ao equilíbrio das sucessivas camadas do ar, nesse turbilhão os seres surgiram, multiplicaram-se e transformaram-se deixando sob as águas e os desertos os fósseis, histórias lancinantes da sua existência um dia muito longe...

A inteligência humana, herdeira da divina, pensa, trabalha e edifica as cristalizações e os impérios que sucumbiram sob as forças calamitosas da própria Natureza ou da barbárie dos seres humanoides em busca da sua humanidade.

Nações poderosas surgiram e passaram, deixando as marcas das suas existências em pó e peças indestrutíveis relativamente de que foram construídas.

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Tales, em Mileto, Parmênides, na Eleia, transformam o pensamento selvagem e a conduta moral e espiritual, enquanto Heráclito, Demócrito, Confúcio, Maquiavel, Hegel, Kant, Montesquieu,  Durkheim e incontáveis deles a partir de Pitágoras, foram estruturando as mentes e construindo os seres humanos em padrões éticos e estéticos que formariam as primevas culturas da sociedade.

Os Vedas, a Bíblia, O livro tibetano dos mortos, a Torá, o Bhagavad Gita, o Zendavesta trouxeram a iluminação espiritual para a inteligência nos diversos períodos dos povos e nações, assinalando a imortalidade do Espírito como a meta do processo de evolução em todo o Universo.

As nações e povos que alcançaram elevados índices de cultura e de civilização viveram esses momentos grandiosos que passaram, deles restando os escombros da vitória do tempo sobre todas as coisas.

As ciências alargaram os horizontes do conhecimento e da vida decifrando aparentes enigmas não solucionáveis, e hoje a inteligência artificial e a Robótica pensam em reduzir tudo ao espúrio acaso como responsável por todo esse avanço incomparável que dá beleza à vida, embora ainda não haja conseguido a transformação moral do ser humano para o ápice da sua angelitude adormecida no cerne de si mesmo.

Nem tudo, porém, a morte, a destruição conseguiram apagar na memória do tempo. Porque em todas as épocas houve uma luz imarcescível apontando o caminho da imortalidade.

E essa claridade começou a ser vista em uma suva manhã longínqua de Primavera...
 
 *   *   *

Cafarnaum era a capital da Galileia.

Relativamente próspera, sediava o governo das Províncias, tinha uma gloriosa sinagoga e era entroncamento de estradas.

Tratava-se de uma região modesta de homens do campo e principalmente de pescadores, em razão do seu mar generoso, que sustentava a região ribeirinha.

Ele era esperado. Falava-se a Seu respeito fazia muitos séculos, desde os seus primeiros profetas.

Roma, porém, esmagava aquela região que lhe estava submetida.

Em razão da circunstância, o Messias era esperado como um conquistador, um guerreiro impiedoso, um vingador.

Não se sabia de onde viria nem quando surgiria, mas que estava por chegar, não havia dúvida.

As notícias a esse respeito eram relativamente poucas, mas portadoras de segurança multissecular.

Repentinamente Ele apareceu.

Ninguém dizia de onde viera, quem era.

Surgiu na praia, hospedando-se na casa de Simão Bar Jonas. Aparentemente não se conheciam, isto é, Simão não sabia exatamente quem Ele era, embora a química que se estabeleceu entre eles desde o primeiro encontro.

Tudo começou quando o pescador solicitou-lhe curar as febres da sua sogra, que estava doente.

Ele atendeu-o, exortou a febre a abandonar a senhora, que logo se pôs a servir a todos...

A notícia, como uma chama ligeira, espalhou-se, e Cafarnaum, onde havia muitos doentes, desfilou pela porta de Simão, que se encontrava deslumbrado como todos os demais.

...E todos que recorreram aos Seus cuidados ficaram curados.

As doenças da alma e do corpo venciam aquelas pessoas humildes e sofridas, e Ele as abençoou com as dádivas da saúde em um momento.

*   *   *

Ele era a saúde, a alegria e a paz.

Cafarnaum ficou imortal para sempre.

Mesmo quando destruída nas lutas contra Roma, ficaram as Suas lições, as Suas palavras e Sua  História.

Hoje, o mundo está qual aquela Cafarnaum antes da chegada dEle.

Mas Ele está vivo e atento com as mãos distendidas, curando e redimindo vidas.

Não há porque recear. Nada poderá impedi-lO de conduzir-nos ao Pai, no Reino de Deus.

Joanna de Ângelis
Psicografia do médium Divaldo Pereira Franco,
na sessão da noite de 16.6.2023, no
Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia.
Em 4.1.2024.

© Federação Espírita do Paraná - 20/11/2014