Amalia Domingo y Soler

DOMINGO Y SOLER, AMALIA. Notável escritora, oradora, intelectual e polemista, congnominada, por aqueles que a conheceram e a admiraram, como a "Poetisa das Violetas"; encarnou em Sevilha, Espanha, no dia 10 de novembro de 1835; desencarnou, com 73 anos de idade, em 29 de Abril de 1909, a uma hora da madrugada, uma quarta-feira.

 

O personativo correto de Amalia é Amalia Domingo y Soler; é com "Y", sustentava Teixeira de Paula, e não como se vê em alguns autores, quer nacionais, quer estrangeiros: Amalia Domingo Soler; e não obstante, ela mesma, assim assine.

 

Grande dama e paladina do movimento espírita ibero-americano, Amalia Domingo Y Soler se fez muito admirada no Brasil, através da obra "Fragmentos das Memórias do Padre Germano".

 

Quase cega desde o berço, conseguiu, não obstante, com o seu denodo e a sua pena, elevar o nome do Espiritismo e da mulher espírita na Espanha. A propósito, relata em carta a nós dirigida o Arquiteto Pirondi, que o jornal espírita, "Flama Espírita", publicação do Centro Barcelonês de Cultura Espírita, publicou que Amalia ficou cega oito dias após o seu nascimento e que foi curada, após 3 meses de tentativas da medicina, por um modesto farmacêutico. Mas, seus problemas com a vista continuaram.

 

Começou a escrever com apenas 10 anos de idade e aos dezoito publicou as suas primeiras poesias.

 

Amalia não conheceu o afeto paterno. Seu pai, que partira para uma viagem, não voltou mais. Órfã de mãe aos 25 anos, ficou só no mundo.

 

Seu contato com o Espiritismo deve-se a um médico, que a possibilitou ler "El Critério", um periódico espírita publicado pela Federação Espírita Espanhola, e para o qual - também nos lembrou o Arquiteto Cícero Pirondi - enviou uma poesia, em 1872, e, na sua edição de nº 9, publicou o artigo "El Espiritismo es la Verdad".

 

Don Luiz Llach, presidente da "Sociedad la Buena Nueva", conhecendo as dificuldades de Amalia, convidou-a para morar em sua casa, com a sua família, o que possibilitaria a ela melhor dedicar-se à causa espírita. "Existe maior necessidade de escritoras espíritas do que de costureiras", dissera-lhe.

 

Mas, essa situação, não foi duradoura, pois, decorrido algum tempo, após vencer cruéis momentos, viu-se assistida por quem a amava e a compreendia. Essa circunstância influiu muitíssimo nos textos dos seus escritos, sempre impregnados com os sentimentos de amargura.

 

Certa manhã, estando em casa, sentiu, de repente, doloroso e estranho fenômeno: "pareceu-me", disse ela, "que toda minha cabeça tinha se enchido de neve, tal o frio intenso que senti na mesma; prestei atenção e acreditei ouvir esta breve palavra:"Luz...", luz... luz...para a minha alma e para os meus olhos; gritei, movida por inexplicável impressão, ... LUZ necessito, meu Deus. E, sem saber por que, chorei, não com amargura, desconsolada; pelo contrário, aquelas lágrimas pareciam que me davam vida."

 

"Sem dar conta do que fazia, encaminhei-me para um espelho, e, numa exclamação de júbilo e de assombro indescritível ao ver meus olhos perfeitamente abertos como há muito não os podia ver, pois que sempre os tinha com as pálpebras caídas, o que me impossibilitava de ver.

 

Haveria chegado a hora da minha liberdade?" perguntei em alta voz, julgando que alguém pudesse me responder.

 

Sim..., murmurou uma voz longínqua.

 

Louca de contentamento corri para o médico que me disse: "Amalia, graças a Deus, a começar de amanhã poderás trabalhar, porém sem excesso".

 

Este fato assinala o começo de sua nova vida.

 

Na "Sociedad la Buena Nova", da antiga "Villa de Gracia", Barcelona, e, em 1878, na revista que fundou, "La Luz Del Porvenir", e que dirigiu até 1899, e articulista em quase toda a imprensa espírita de Espanha, quando passou a dar sua contribuição literária, como em "Los Albores de la Verdad" (1903-1909), órgão dirigido por J. Esteban Marata, periódico em que a Editora Argentina 18 de Abril, de Buenos Aires, dispôs-se a recompilar seus números para o divulgar.

 

Dentre os seus livros, todos acolhidos com entusiasmo, tanto nos países europeus quanto nos americanos, destacamos:

 

"El Espiritismo, refutando los errores del Catolicismo Romano", San Martin de Provenzals, Barcelona, 1880, Imprenta de Juan Torrens. Recompilação de quarenta e seis artigos por Juan Torres, com refutações de Amalia, na polêmica com o cônego Vicente de Manterola.

 

"Memorias del padre Germán", 354 pp. reúne ditados autobiográficos obtidos pelo médium sonâmbulo Eudaldo, da "Sociedad la Buena Nueva", da ex-vila de Gracia, Barcelona, de uma encarnação do protetor de Amalia, o Espírito de San Germán del Prado, que habitara, por volta do século IV, as cercanias de Paris, recebidos pelo médium Eudaldo, entre 1880 e 1884, copiados e anotados pela escritora, que os começou a publicar , a partir de 29 de Abril de 1880, como artigos, no jornal "La Luz del Porvenir", e que, o editor espírita João Torrente, um dos fundadores desse órgão, deu a idéia de reunir em volumes.

 

Esse trabalho, a que se prestou "de boa vontade, e, no veementíssimo intuito de propagar o Espiritismo", se completou no dia 10 de Janeiro de 1884. - Essa obra foi reeditada inúmeras vezes. Traduzida para o português por M. Quintão, foi editada com o título de "Fragmentos das Memórias do Padre Germano", pela Federação Espírita Brasileira, Rio de Janeiro, 1917, 1ª ed. 576 pp.

 

"Memorias de Amalia", livro pessoal de apontamentos e observações até 1891. Em 1912, Amalia, como Entidade espiritual, o completa até 1909 e o prefacia por intermédio da médium senhorita Maria. Na forma de livro aparece em 1913. - Foi traduzido para o português pela Profa. Dra. Isolina Bresolin Vianna e Wallace Leal V. Rodrigues, e editado, por Casa Editora "O Clarim", com o título "Minha Vida", 1985, 1ª ed., 240 pp. 13 X 18.

 

"Sus más hermosos escritos", no qual fez surgir, da polêmica com o cônego Manterola, uma compenetração mais profunda do Espiritismo. A "Sociedad Caridad Cristiana", de la Pampa, Argentina, reúne uma série de trabalhos inéditos, e os publica pela Editorial Maucci, de Barcelona, Espanha, em 1913.

 

"Te Perdono, Memorias de um Espíritu". Barcelona, Espanha, 1900, em oito fascículos, 870 pp. Reeditado em 1904, por Carbonell y Esteva. No prefácio dessa obra, destaca Amalia, que "muitos espíritas pediram aos Srs. Carbonel y Esteva a publicação de Perdôo-te, que é, como vulgarmente chamam às Memórias de um Espírito. E os referidos Senhores atendendo mais aos desejos de seus irmãos em crença do que aos seus próprios interesses, vão publicar uma obra que merece ser lida e estudada seriamente."

 

"Memórias de Um Espírito", reúne comunicações recebidas na "Sociedad la Buena Nueva", da ex-vila de Gracia, por intermédio da médium falante Concepción Llach, do Espírito de Íris, que, em encarnações anteriores, se apresentara como Maria, de Magdala, e Santa Teresa, de Ávila.

 

A sua tradução para o português, aconteceu em 1943, por José Fakira, com o título "Perdôo-te!" - Memórias de um Espírito, editada em 1943 e distribuída por Zélio Valverde - Livreiro Editor, Travessa do Ouvidor, 27 - Caixa Postal, 2956 - Rio de Janeiro, 1943, 1ª ed., 14 X 20, 720 pp.

 

"Hechos que Prueban", reúne 41 casos que provam a justiça pela reencarnação, compilados por "Ateneo de Propaganda Espiritista Allan Kardec", de Avellaneda, Argentina, em 1956; reed. Editora Argentina "18 de Abril", Buenos Aires, 251 pp. 1ª ed. 1969 (2. ed. em castelhano).

 

"Ramos de Violetas". Loberia, Argentina, 1903, 2 tomos, 1947, 4ª ed. Coleção em prosa e verso, sobre diferentes temas, e mais "Clotilde", novela; "Impresiones y comentarios sobre los sermones de um escolapio y de um jesuita": "Cânticos", "Consejeros de Ultratumba", etc.

 

 

(Da Revista ICESP, nº 9 - autoria Dr. Paulo Toledo Machado)


 

Nascida a 10 de novembro de 1835, da cidade de Sevilha, Espanha, e desencarnada a 29 de abril de 1909.

 

Foi figura de grande destaque no seio do Espiritismo espanhol, tendo a sua fama ultrapassado mesmo as fronteiras da península ibérica, para atingir os países americanos de fala castelhana. No Brasil ela tornou-se muito conhecida pela sua obra "As memórias do Padre Germano", verdadeiro repositório de ensinamentos dos mais vivificantes.

 

Amália não nasceu num lar risonho e sua vida foi entrecortada de dores físicas e morais, entretanto, ela tudo suportou com estoicismo, pois somente os Espíritos fortes sabem vencer os obstáculos, compreendendo que as tribulações da vida terrena são imperativos da lei divina, impostos aos homens pelas suas transgressões cometidas em vidas pretéritas. As adversidades que ela deparou pelo caminho nunca constituíram entraves à sua persistente luta, no sentido de projetar os ensinamentos da Doutrina Espírita na Espanha do século passado. Através de sua luta conseguiu também elevar bem alto o conceito da mulher no campo da divulgação.

 

Com a idade de dez anos, começou a escrever; aos dezoito já dava à publicidade as suas poesias. No propósito de melhor poder difundir os seus escritos, transferiu-se para Madri. Na Capital espanhola, trabalhou de forma tão intensa que ficou completamente cega.

 

Debalde procurou consolo no seio das religiões tradicionais. Os dogmas não a satisfaziam. Os conceitos da vida no além-túmulo, apregoados por essas religiões, não preenchiam o imenso vácuo que existia em sua alma.

 

Um dia, porém, através do periódico "El Critério", editado pela Federação Espírita Espanhola, tomou conhecimento do Espiritismo. Dali por diante os seus escritos, que apenas expressavam amargura, passaram a constituir uma fonte de consolação. Havia compreendido, afinal, que os sofrimentos experimentados nesta vida, são heranças de faltas cometidas em vidas pretéritas, e que, embora muitas pessoas tenham diante de si horizontes sombrios, devem-se compenetrar que Deus é Pai de misericórdia e de amor, sempre pronto a conceder benesses de luz e dar sustentação às almas alquebrantes. Passou Amália a compreender que o Evangelho de Jesus é, na realidade, uma fonte de água viva que jorra para a vida eterna.

 

Os cognomes de "poetisa das violetas" e "cantora do Espiritismo" lhe foram outorgados, pois o seu nome projetou-se de tal forma que ela se tornou, de direito e de fato, uma das mais apreciadas poetisas de seu tempo.

 

Animada de profunda fé em Jesus Cristo e nos benfeitores espirituais, conseguiu um dia recobrar a visão. Eis como ela relata esse importante acontecimento de sua vida: "Bela manhã, estando em sua casa sentiu repentinamente doloroso e estranho fenômeno: pareceu-me, disse ela, que toda minha cabeça se tinha enchido de neve, tal o frio intenso que senti na mesma. Prestei atenção e acreditei ouvir esta breve palavra: LUZ... LUZ... LUZ... para a minha alma e para os meus olhos; gritei movida por inexplicável impressão: LUZ necessito, meu Deus. E sem saber por que, chorei, não com amargura desconsolada, pelo contrário, aquelas lágrimas pareciam que davam vida. Sem dar conta do que fazia, encaminhei-me para um espelho, numa exclamação de júbilo e de assombro indescritível ao ver meus olhos perfeitamente abertos como há muito não os podia ver, pois que sempre os tinha com as pálpebras caídos, o que me impossibilitava de ver. Havia chegado a hora da minha liberdade? Perguntei em alta voz; julgando que alguém pudesse me responder. Sim, murmurou uma voz longínqua. Louca de contentamento corri para o médico que me disse: Amália, graças a Deus, a partir de amanhã poderás trabalhar, porém, sem excessos."

 

Podemos afiançar que o trabalho de Amália Domingo Soler no campo da divulgação do Espiritismo, foi de relevante importância, tendo contribuído decididamente para que a Doutrina dos Espíritos passasse a desfrutar de enorme prestígio naquela nação.

 

Amália foi uma mulher singular. Era um exemplo vivo de firmeza, de fé e de amor, na defesa dos ideais que esposava. Em novembro de 1878, desenvolveu ingente trabalho no sentido de rebater acusações que eram lançadas contra o Espiritismo pelo cura Manterola, na "A Gazeta de Catalunha". Nesse propósito ela escreveu uma série de cinqüenta e dois artigos.

 

 

Fonte: Personagens do Espiritismo. Antonio de Souza Lucena e Paulo Godoy


© Federação Espírita do Paraná - 20/11/2014