João Cyríaco de Souza Filho

João Cyríaco de Souza Filho, ou simplesmente Capitão Cyríaco - como até hoje é lembrado -, foi um dos abnegados pioneiros do Espiritismo, em Foz do Iguaçu. O Capitão Cyríaco chegou à Terra das Cataratas no ano de 1938 e não mais a deixou.

 

Nasceu em Mirascivas, cidadezinha que ficava na estrada de ferro que ía de Bragança a Belém do Pará, em 29 de novembro de 1915, e desencarnou no Paraná em 22 de março de 1998. Com 13 anos, entrou para a Marinha, onde ficaria até 1960. Durante os 46 anos em que serviu à Marinha, passou por todos os postos, desde aprendiz até chegar a Capitão.

 

Consorciou-se com Dona Nacir Kuster (atualmente [2007]com 80 anos), com quem teve quatro filhos.

 

Em julho de 1957, o Capitão Cyríaco colocou as bases para que, na região de Foz do Iguaçu, surgisse o primeiro Programa Radiofônico Espírita, intitulado: A Hora Espírita, nas ondas da Rádio Cultura AM 820 de Foz do Iguaçu, que entrou no ar pouco depois, em 2 de outubro, ano das comemorações do 1º Centenário da Doutrina Espírita.

 

O Programa Espírita continua até hoje, veiculado agora aos domingos, das 19h às 20h, e neste ano de 2007 estará cumprindo 50 anos de atividades ininterruptas.

 

A Sociedade Espírita Aprendizes do Evangelho (SEAE), da Vila «A», de Foz do Iguaçu, é atualmente a responsável pela direção desse Programa Radiofônico histórico, em nossa região. Desde os tempos do Capitão Cyríaco, o Programa de Rádio sempre contou com grande audiência do público da tríplice fronteira, através de cartas, telefonemas e visitas de pessoas de cidades como Ciudad del Este (antiga Puerto Stroesner), Caacupé (perto de Assunção) e Santa Rosa, no Paraguai, Puerto Iguazú e El Dorado, na Argentina, além de inúmeras cidades do Paraná.

 

No ano de 1984, João Cyríaco de Souza Filho recebeu, da Egrégia Câmara Municipal de Foz do Iguaçu, o título de Cidadão Honorário de Foz, pelos relevantes serviços prestados à comunidade iguaçuense.

 

Para colher os dados biográficos acima, entrevistamos a filha do Capitão Cyríaco, Yvette de Souza Cyríaco, em sua própria casa, em Foz, que teve a gentileza de nos fornecer também uma das poucas entrevistas escritas dadas pelo Capitão Cyríaco (talvez a única), que está registrada no livro: Foz do Iguaçu - Retratos (da Editora Campana & Alencar Ltda., 1997, pág. 66), entrevista concedida ao jornalista iguaçuense Juvêncio Mazzarollo, e publicada originalmente no jornal A Gazeta do Iguaçu de 04/03/1994, que transcrevemos literalmente a seguir.

 

Eis a nossa simples mas sincera homenagem ao saudoso pioneiro de Foz do Iguaçu, que junto de outros baluartes pioneiros da nossa região, construíram, com muitas lutas e ingentes sacrifícios, os alicerces do nosso Movimento Espírita regional, que hoje usufruímos com tantas bênçãos, sob a dinâmica coordenação da Federação Espírita do Paraná.

 

Capitão Cyríaco

 

Ele é de todos conhecido por Capitão Cyríaco, mas é João Cyríaco de Souza Filho, nascido no Estado do Pará, em 1915. Passou pelo Rio de Janeiro, navegou pelos mares e, em 1938, literalmente aportou em Foz do Iguaçu. Aqui se enraizou e casou com Nacir Kuster, com quem teve quatro filhos, e aqui fez sua história de marinheiro, esportista e principalmente de espírita fervoroso e ativo.

 

Onde e como começou sua carreira de marinheiro?
Depois de fazer o curso primário em Mirasselva, no Estado do Pará, fui cursar o ginásio em Belém, e lá mesmo, aos 13 anos de idade, ingressei na Escola de Aprendiz de Marinheiro, em 1929. No ano seguinte fui transferido à Escola Naval de Angra dos Reis, RJ, onde concluí os cursos de aprendiz de marinheiro e grumete. Na Base de Defesa Minada fiz curso de torpedos e bombas. E em 1932 embarquei no destróier Paraíba, onde servi durante a Revolução Constitucionalista.

 

Teve participação direta na Revolução?

Direta não. Nós só patrulhávamos a costa marítima do Rio a São Paulo.

 

E sua vinda a Foz do Iguaçu como se deu?
Vim para cá em 1938, a convite do comandante «Goiano», da Capitania dos Portos do Rio Paraná. Aceitei o convite. Mas trocar o Rio por Foz do Iguaçu daquele tempo foi uma mudança muito brusca. Foi como sair da cidade e ir para o mato, porque isto aqui era quase só mato, floresta nativa. Mas também gosto de mato. Aqui havia rios, e o que eu fazia no mar podia fazer nos rios daqui.

 

Fazia o quê na Marinha em Foz do Iguaçu?
Fui instrutor da Escola Provisória de Marítimos de 1939 a 1945. A Marinha participava de tudo, ajudava em tudo na cidade. Não ficava só inspecionando embarcações no rio Paraná, que patrulhávamos de Foz a Guaíra. Em 1940 prestei concurso para o quadro de práticos da Armada dos rios Paraná, Paraguai e Costa Nordeste. E em 1941 fui designado para fazer curso de bordo no navio José Bonifácio, no Rio de Janeiro. Ali fui promovido a primeiro sargento do quadro de práticos da Marinha, retornando a Foz seis meses depois.

 

Que patentes conseguiu em sua carreira na Marinha?
Em 1945 fui promovido a sub-oficial de 2ª classe e em 1949, a sub-oficial de 1ª classe. Em 1955 fui promovido a tenente prático-mor da Armada do rio Paraná. E em 1964 fui promovido a 1º tenente, em seguida a capitão-tenente - daí ser hoje conhecido por Capitão Cyríaco. Permaneci na ativa até 1975, quando me aposentei pela Marinha e logo fui trabalhar na coordenação do serviço de segurança física de Itaipu, onde fiquei durante quinze anos. Na Marinha servi durante 46 anos.

 

Recebeu condecorações, medalhas e diplomas de mérito?
Recebi da Marinha do Brasil as medalhas de bronze, prata e ouro, medalha de guerra sem estrelas, passador de platina e de honra ao mérito Tamandaré.

 

O senhor teve e ainda tem grande envolvimento com o Espiritismo. É figura de destaque no Espiritismo em Foz do Iguaçu. Como entrou no Espiritismo?
Eu era católico. Nunca reneguei a Igreja Católica, que sempre respeitei. Sou inclusive muito amigo do bispo Dom Olívio Fazza. Bem, logo que cheguei a Foz do Iguaçu comecei a viver fenômenos estranhos dentro de mim. Certo dia, como que em sonho, uma amiga que havia deixado em Belém do Pará me fez ouvir sua voz claramente. Dizia-me ela que tinha deixado seu corpo, saído do seu corpo. Fiquei intrigado, muito intrigado com aquilo, porque pareceu-me que a moça estava realmente falando comigo, como se estivesse ali presente. Dias depois recebi de Belém a notícia de que ela havia falecido.

 

Naturalmente, foi em busca de explicação para o fenômeno.
Conversei com um argentino e ele me levou a um Centro Espírita que funcionava meio clandestinamente, porque o Espiritismo era mal-visto e até condenado aqui naquela época.

 

O que aconteceu no Centro Espírita?
Um Espírito se manifestou através de um médium que estava de costas para mim. Essa Entidade, esse Espírito me chamou e disse: «Meu filho, quem trouxe você aqui fui eu. Aqui está o início de sua missão espiritual nesta região. Este é o seu caminho. Siga dando exemplos do bem, dos ensinamentos de Jesus, que eu estarei sempre com você».

 

Entrou no Espiritismo de corpo e alma?
Sim. Seis meses depois já era vice-presidente do Centro Espírita, mais tarde presidente. Participei, junto com José Vicente Ferreira, da fundação do Centro Espírita Paz, Amor e Caridade. E em 1942 idealizei e construí a Escola Jorge Schimmelpfeng para crianças carentes.

 

O senhor difundia o Espiritismo através de um serviço de alto-falantes?
É verdade, fiz isso durante anos. Apareceu na cidade uma rede de alto-falantes e eu passei a usá-la na difusão de mensagens espíritas. O programa chamava-se «Carrossel Melodioso», que depois passei para a Rádio Cultura logo que foi instalada. Na Rádio o programa passou a chamar-se «A Hora Espírita», na época transmitido ao vivo, aos domingos de manhã, diretamente do Hotel Cassino Iguaçu na presença de muita gente. Mantenho até hoje A Hora Espírita na Rádio Cultura. Vai ao ar aos sábados, das 19h às 20 horas. [1994]


Enrique Eliseo Baldovino

© Federação Espírita do Paraná - 20/11/2014