José Lopes Neto

Nasceu em 1882, na capital paranaense, Curitiba, e era filho de Genésio Lopes e Clara Lopes.

Submetido desde cedo às agruras de uma existência acidentada, em que os espinhos e as desilusões foram os marcos dessa jornada de triunfos e benefícios, José Lopes Neto foi um herói, para quem as dores e os contrastes da vida terrena se transfiguravam nesse foto sagrado que purifica as almas e acrisola-as na sua essência divina e regeneradora.

Desde os 15 anos, o valoroso moço fez-se o esteio de numerosa família, provendo-lhe a subsistência e dispensando carinhos verdadeiramente paternais aos irmãozinhos menores, cuja educação foi o produto da sua vontade de aço através dos mais ingentes sacrifícios. Filho de pais pobres, Lopes Netto fez-se por si. O quanto lhe permitiram os minguados recursos do seu trabalho de operário, instruiu-se bastante para ocupar mais tarde cargos de confiança, que sempre desempenhou com brilho e honestidade, e para distinguir-se na tribuna e na imprensa como batalhador intemerato dos nobres ideais de paz, de igualdade e de fraternidade.1

Desde muito jovem Lopes Netto fez-se espírita; mas fez-se espírita na verdadeira acepção da palavra: não haverá esse que possa levantar a mínima acusação aos atos da sua vida, sempre consagrada à caridade, quer dispensando aqueles que lhe estendiam a mão o auxílio da sua esmola, quer visitando os enfermos, a quem ministrava com solicitude e carinho os recursos inesgotáveis da sua preciosa mediunidade. 1

Embora não tenha assinado a Ata de fundação da Federação Espírita do Paraná, consta como sócio fundador, ao lado de outros nomes de pensadores e liberais como João Urbano de Assis Rocha, Sebastião Paraná, João Pedro Schleder, Manoel Pacheco de Carvalho, entre outros.

A seu respeito, escreveu Lins de Vasconcellos: Espírito sensato, caráter puro, José Lopes Neto ficou em cenário restrito e seu nome é venerado apenas no Paraná. Todavia, o seu esforço honesto de homem pobre que criou e educou vários irmãos ( um médico, um advogado e várias professoras normalistas), sem contrair matrimônio para não prejudicar ninguém, o seu esforço, repito, vale por um poema e deve servir de inspiração a muitos pobres que desanimam sob a violência das primeiras procelas, como se a vida não fosse sempre assim.

Com apenas 22 anos, em 11 de novembro de 1904 foi conduzido ao cargo de 2º Secretário da Diretoria da Federação Espírita do Paraná, sob a presidência de Sebastião Paraná de Sá Sottomaior.

Foi o primeiro orador espírita a sair para o interior do Estado levando a palavra da Nova Revelação, tão pouco conhecida. Inaugurando as jornadas espíritas, em 22 de outubro de 1905, ele ofereceu sua oratória vibrante, que se colocava ao lado dos propugnadores das causas justas1, nas cidades de Piraquara, Paranaguá, Antonina e Ponta Grossa.

Em 10 de dezembro de 1905 foi eleito 1º Secretário da Federação e em 10 de dezembro do ano seguinte, 1906, foi eleito Vice-Presidente, em cujo cargo permaneceu até 13 de Janeiro de 1907.

Em 2 de agosto de 1908 foi eleito para a Comissão Central, órgão equivalente a um Conselho Soberano e, a 30 do mesmo mês, foi eleito Secretário Geral.

Em 10 de abril de 1909 ocupou a Presidência da Federação Espírita do Paraná, onde permaneceu até 3 de janeiro de 1912, afastando-se da Comissão Central, então, até 12 de janeiro de 1913. Retornou à Presidência em 11 de janeiro de 1914, permanecendo até 10 de janeiro de 1915, declinando de assumir novo mandato, escolhido que foi nas eleições realizadas naquela data.

Durante sua gestão como quinto Presidente da Federação, em 21 de maio de 1911, em uma reunião extraordinária da Comissão Central Permanente, José Lopes Neto defendeu a idéia de criação de um sanatório, já esboçada por João Huy e Manoel Antonio Ferreira da Cunha, como instituição assistencial da Federação.

Contudo, somente no ano de 1920, se idealizou a criação de um Hospital Espírita, como Departamento da Federação, concretizando-se, com sua inauguração, em 31 de março de 1945, portanto 34 anos após o sonho inicial do  jovem idealista, o Hospital Espírita de Psiquiatria Bom Retiro.

Lopes Neto jamais se afastou de suas atividades nos trabalhos doutrinários, sobretudo com atuação de sua lúcida qualidade de médium vidente, sonambúlico, psicógrafo, curador e audiente, além de orador inspirado, vibrante e vibrátil, segundo palavras de Lins.

Ao desencarnar, em 8 de outubro de 1917, após alguns dias de dolorosos padecimentos, suportados com a firmeza e a resignação de quem bem compreendia a razão de ser das dores humanas, destacava-se como diretor das revistas A Luz e A Doutrina e do Monitor Espírita, cuja publicação manteve sempre, a despeito das dificuldades que se lhe anotavam, como colaborador distinto da Revista de Espiritualismo e como secretário da Sociedade Publicadora Kardecista.1

Exerceu ainda a função de Procurador do Monitor Espírita, órgão oficial da Federação Espírita do Paraná, nos anos de 1916 e 1917. Foi também Diretor do Albergue Noturno, interinamente, em 1917, ano em que, a 8 de outubro, encerrou seu ciclo na presente existência, com apenas 35 anos, após tão assinalados serviços prestados à Federação Espírita do Paraná.

Moço modesto e sem os lauréis acadêmicos, revelou-se espírito grandemente amadurecido e quiçá escolhido pelo Alto para o exercício da tarefa. Teve, como outros confrades de seu tempo, uma atuação superior a 15 anos, junto à Federativa Estadual, com dedicação e verdadeiro amor à Doutrina.

Da Espiritualidade, Lopes Neto tem transmitido mensagens através dos médiuns Raul Teixeira e Divaldo Pereira Franco.

Em 27 de outubro de 2006, em Amsterdam, Holanda, o Espírito Camilo psicografou, servindo-se da mediunidade de Raul, mensagem que viria compor a apresentação da obra Em nome de Deus2, no ano seguinte.

O nosso nobre amigo José Lopes Neto (...)¬ – escreveu Camilo - há muito se destaca nas praias do Invisível por sua continuada dedicação ao trabalho em prol do seu próprio progresso e do de quantos a ele se acham vinculados, com o propósito de ser útil na obra fecunda do nosso Criador.

Tendo estado no mundo físico numa existência bastante curta, uma vez que não chegou a alcançar as quatro décadas no corpo, deixou uma formosa folha de serviços realizados com esforço e com esmero, apesar das fragilidades da saúde física que amargava sem lamentações, tendo em vista uma problemática cardíaca, por meio da qual teve ensejo de redimir-se de velhas quão graves pendências que pesavam sobre a sua consciência moral, decorrentes de reencarnações forjadas na desconsideração às divinas leis.


Por sua vez, o próprio Lopes Neto3, em bela página preambular, informa que, no mundo espiritual, se dedica, desde alguns anos, a ministrar pequenos cursos, por módulos regulares, para as classes de desencarnados em preparação para novas reencarnações, com foco no modo de se pensar em Deus.

Em 2010, pela pena mediúnica do baiano Divaldo, tornamos a encontrar Lopes Neto, agora como mestre de cerimônias em uma reunião na Colônia espiritual Redenção, em que comparecem, entre tantos Espíritos nobres, Francisco e Clara de Assis.

Os objetivos em pauta se referem à orientação do trabalho de quinhentos Espíritos que viriam à Terra, em missões específicas de preparação da nova era, abrindo espaço para as reencarnações em massa dos migrantes [dez mil]  de uma das estrelas da constelação das Plêiades* [Alcíone], na tarefa sublime de ajudar a Terra a alcançar o patamar de “mundo de regeneração”.4

Raul Teixeira, ao se tornar o âncora do programa televisivo Vida e Valores, da FEP, no período de novembro de 2005 a agosto de 2009, revelou que durante as gravações dos duzentos e dez programas, obteve a informação, por via mediúnica, de que José Lopes Neto era o coordenador espiritual da tarefa.

*Plêiades - Na mitologia grega, as Plêiades eram filhas de Atlas e Pleione, filha do Oceano. Quando Pleione estava passeando pela Beócia com suas sete filhas, foi perseguida pelo caçador Órion, por sete anos. Júpiter, compadecido delas, apontou um caminho até as estrelas, e elas formaram a cauda da constelação do Touro.
As Plêiades são: Electra, Maia, Taigete, Alcíone, Celeno, Asterope e Mérope.

Em 8.1.2020.
1. LUZ, Flávio; VASCONCELLOS, Arthur Lins de. Revista de Espiritualismo, Curitiba: Sociedade Publicadora Kardecista, ano II, n. 10, out. 1917.
2. TEIXEIRA, Raul. Em nome de Deus. Pelo Espírito José Lopes Neto. Niterói: Fráter, 2007. cap. Sobre o trabalho de Deus.
3. Op. cit. cap. A respeito da crença em Deus.
4. FRANCO, Divaldo Pereira. Transição planetária. Pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda. Salvador: LEAL, 2011. cap. 13.

© Federação Espírita do Paraná - 20/11/2014