Galeria d’Orléans - Paris
Matéria publicada no Jornal Mundo Espírita :: maio/2007
O tempo seguia seu curso. O lançamento de O Livro dos Espíritos, que havia acontecido no dia 18 de abril, dera início à conhecida trajetória das idéias revolucionárias, quando levadas a público, contando com muita resistência por parte de alguns e com aplausos de outros tantos.
De qualquer modo, muito ainda havia por se fazer, pois apenas começara a grande tarefa.
Mas não adiantaria caminhar depressa em demasia, pois quem assim faz, não perde só a paisagem, perde também a noção do porquê e aonde vai.
Já em janeiro de 1858, Allan Kardec, desejoso de maior proximidade com as pessoas, o que os periódicos escritos podem ensejar, lançava a Revista Espírita, jornal de estudos psicológicos, com plano de ser editada mensalmente, buscando abranger:
1. Manifestações materiais ou inteligentes, obtidas em reuniões às quais assistirem;
2. Fatos de lucidez sonambúlica e de êxtase;
3. Fatos de segunda vista, previsões, pressentimentos, etc.
4. Fatos relativos ao poder oculto atribuído, com ou sem razão, a certos indivíduos;
5. Lendas e crenças populares;
6. Fatos de visões e aparições;
7. Fenômenos psicológicos particulares, que por vezes ocorrem, no instante da morte;
8. Problemas morais e psicológicos a resolver;
9. Fatos morais, atos notáveis de devota-mento e abnegação, dos quais possa ser útil propagar o exemplo;
10. Indicação de obras, antigas ou modernas, francesas ou estrangeiras, onde se encontrem fatos relativos à manifestação de inteligências ocultas, com a designação e, se possível, a citação das passagens. Do mesmo modo, no que diz respeito à opinião emitida sobre a existência dos Espíritos e suas relações com os homens, por autores antigos ou modernos, cujo nome e saber possam lhes dar autoridade.
Justificava e prometia ele quanto à publicação da Revista:
"A apreciação razoável dos fatos, e das conseqüências que deles decorrem, é, pois, um complemento sem o qual a nossa publicação seria de uma medíocre utilidade, e não ofereceria senão um interesse muito secundário para quem reflita, e quer se inteirar daquilo que vê. Todavia, como o nosso objetivo é chegar à verdade, acolheremos todas as observações que nos forem endereçadas, e tentaremos, quanto no-lo permita o estado dos conhecimentos adquiridos, seja levantar as dúvidas, seja esclarecer os pontos ainda obscuros. Nossa revista será, assim, uma tribuna aberta, mas, onde a discussão não deverá jamais desviar-se das leis, as mais estritas, das conveniências. Em uma palavra, discutiremos, mas não disputaremos. As inconveniências de linguagem jamais tiveram boas razões aos olhos de pessoas sensatas; é a arma daqueles que não a têm melhor, e essa arma reverte contra quem dela se serve.
No que concerne às manifestações atuais, daremos explicação de todos os fenômenos patentes que testemunharmos ou que chegarem ao nosso conhecimento, quando nos parecerem merecer a atenção de nossos leitores. De igual modo o faremos em relação aos efeitos espontâneos que por vezes se produzem entre pessoas alheias às práticas espíritas e que revelam, seja a ação de um poder oculto, seja a emancipação da alma; tais são as visões, as aparições, a dupla vista, os pressentimentos, os avisos íntimos, as vozes secretas, etc. À narração dos fatos acrescentaremos a explicação, tal como ressalta do conjunto dos princípios. A respeito faremos notar que esses princípios decorrem do próprio ensinamento dado pelos Espíritos, fazendo sempre abstração de nossas próprias idéias. Não será, pois, uma teoria pessoal que exporemos, mas a que nos tiver sido comunicada e da qual não seremos senão meros intérpretes.
Um grande espaço será igualmente reservado às comunicações escritas ou verbais dos Espíritos, sempre que tiverem um fim útil, assim como às evocações de personagens antigas ou modernas, conhecidas ou obscuras, sem negligenciar as evocações íntimas que, muitas vezes, não são menos instrutivas; numa palavra: abarcaremos todas as fases das manifestações materiais e inteligentes do mundo incorpóreo".1
Cumprindo seus propósitos, Allan Kardec manteve a edição da Revista Espírita, sozinho e às suas expensas, por quase 12 anos completos, de janeiro de 1858 até março de 1869.
Material dos mais ricos, que deve fazer parte da formação básica do conhecimento espírita daqueles que guardam interesse sério no aprendizado do Espiritismo.
No dizer de Jeanette Rankin, você leva as pessoas tão longe quanto elas podem ir, não tão longe quanto você gostaria que elas fossem.
Kardec, por certo, fez planos bem mais ousados para todos nós, quanto ao progresso espiritual de cada um a partir do nascimento do Espiritismo. No entanto, as conquistas alcançadas são resultado do que cada um tem feito por si mesmo.
© Federação Espírita do Paraná - 20/11/2014