Presidente: 1903 – 1907
O Dr. Sebastião Paraná nasceu em Curitiba, a 19 de novembro de 1864 e aí desencarnou a 8 de março de 1938, na residência de seu genro, Dr. Lauro Schleder. Era filho do Capitão Inácio de Sá Sottomaior e neto do Coronel de milícias do mesmo nome.
Casou-se com Elvira da Costa Faria Paraná, em 19 de dezembro de 1905. Não teve filhos.
Cursou as primeiras letras na Escola regida pelo Professor Miguel Schleder e o curso primário no Colégio Curitibano, sob a direção do Professor Nivaldo Braga.
Em 1883 matriculou-se no Instituto Paranaense. Fez os preparativos em Curitiba e se diplomou em Direito e em Ciências Políticas e Sociais, no Rio de Janeiro.
Viveu dilatados anos, sempre batalhador insone nas nobres lides do espírito. Geógrafo notável, publicou obras que representam o melhor que se possui na matéria. De sua lavra relacionamos: Esboço geográfico do Paraná (1889), Corografia do Paraná (1899), O Brasil e o Paraná (1925), Guia do comerciante (1909), Os Estados da República (1911), Exultação (1913), O alcoolismo e o jogo (1913), Galeria Paranaense (1922), Países da América (1922), Países da Europa (1926), Efemérides da Revolução de outubro de 1930 no Estado do Paraná (1931).
Sua obra O Brasil e o Paraná alcançou um número expressivo de edições, nunca antes registrado na bibliografia local. Em 1941, apareceu a 22ª edição.
Como professor, foi mestre querido e venerado por muitas gerações paranaenses que lhe aproveitaram a competência e talentos.
A 18 de abril de 1900, foi nomeado professor catedrático de Geografia e Corografia do Brasil, no Ginásio Paranaense e Escola Normal de Curitiba.
Em 1906, regeu, interinamente, a Cadeira de História Universal no Ginásio Paranaense. Em 1916, exerceu, interinamente, a Superintendência Geral do ensino. Desse ano, até 1920, foi Diretor do Ginásio Paranaense.
Foi Professor da Universidade Federal do Paraná.
Como homem público, cruzou altos cargos com descortínio e austeridade. Cidadão, não sabia fazer inimigos. Não deu guarida aos sentimentos mesquinhos da desafeição.
Pelo decreto 29 de 22 de fevereiro de 1928, foi nomeado Diretor da Secretaria do Interior e Justiça do Paraná, tendo se exonerado, então, da cátedra que luminosamente prelecionara quase 30 anos.
Por motivo de saúde, em 1930, a pedido, foi transferido para a direção do Museu Paranaense e Biblioteca Pública do Paraná, onde foi aposentado pelo Decreto 774, de 2 de abril de 1931.
Alcançou a patente de Capitão da Reserva do Exército Nacional, tendo servido como praça, de 6 de setembro de 1893 a 13 de março de 1894, no Batalhão Patriótico Benjamin Constant.
Foi Deputado no Congresso Legislativo do Paraná, na legislatura 1902/1903. Pertenceu à Comissão de Instrução Pública, revelando-se incansável em zelos e iniciativas, em prol dos interesses da educação popular.
Fez parte do Conselho Superior do Ensino Público no Paraná. Em 1905, foi nomeado, por indicação do Governo do Estado, agente auxiliar do Arquivo Nacional, no Paraná.
Integrou a Comissão encarregada de receber trabalhos para o Congresso Internacional de História da América, sendo nomeado para, ao lado de Rocha Pombo, Dario Vellozo, Nestor Victor e Romário Martins, representar o Paraná no magno certame.
Pertenceu ainda ao Centro de Letras do Paraná e Academia de Letras do Paraná. Sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, do Instituto Geográfico Argentino, da Sociedade de Geografia de Lisboa.
Como jornalista foi Diretor do Jornal A Tribuna, Redator de A República e de O Município.
Foi fundador da Federação Espírita do Paraná, em 24 de agosto de 1902, junto a outros homens valorosos e foi seu primeiro Presidente eleito, após a aprovação do Estatuto Social, em 4 de outubro de 1903. Permaneceu no cargo, por reeleição, até 13 de janeiro de 1907.
Também foi, na Federação Espírita do Paraná - FEP, Membro da Comissão Central de 2 de agosto de 1908 a 18 de julho de 1909 e de 13 de janeiro de 1918 a 1919.
Ocupou ainda o cargo de Diretor do Núcleo Central, Diretor da Caixa Escolar e de Estudos Doutrinários.
Escreveu o livro Vade-mecum (Preces e ensinos espíritas), editado pela FEP, em 1929-1930.
Modesto e amável, foi dos que muito trabalharam pelo engrandecimento do torrão nativo.
Honesto e sincero, só amizades conquistou.
Dois anos antes de sua morte, as alunas da Escola Normal deliberaram manifestar publicamente sua gratidão àquele que escrevera Os Estados da República e Países da América.
Nos jardins do modelar educandário foi, a 19 de novembro de 1936, inaugurado o baixo-relevo do perfil do Professor Sebastião Paraná, um magnífico bronze de J. Turim, encravado na pedra, e que se encontra à entrada do edifício, como símbolo singular proclamando a gratidão da mocidade.
Retido ao leito, nos últimos anos de sua vida, Sebastião Paraná, ainda assim arrostou sereno os amargores da moléstia que cruelmente o imobilizava.
Morreu a 8 de março de 1938. Seu sepultamento se deu no Cemitério Municipal de Curitiba. Discursaram à beira do túmulo: Porto Vellozo, pelo Instituto Neo-Pitagórico; Veríssimo de Souza, pela Loja Maçônica Fraternidade Paranaense; Raul Gomes, pela Imprensa Curitiba; Heitor Stockler, pela Academia Paranaense de Letras e Centro de Letras do Paraná; Lourenço de Araújo, em nome de diversas associações operárias.
Curitiba prestou sua homenagem, dedicando-lhe uma rua com o nome de Professor Sebastião Paraná e, em edição do Jornal Gazeta do Povo (Curitiba), em 19 de março de 1967, em coluna denominada "Vultos", junto com sua biografia, consta uma série de considerações sobre sua personalidade, dizendo ter sido ele sempre elogiado, não só pelo exemplar comportamento, como pela aplicação, e que ele, sendo modesto e amável, muito contribuiu pelo engrandecimento do torrão natal.
Dicionário histórico-geográfico do Estado do Paraná, Livraria do Chain, Biblitoeca Pública do Paraná
Biografia compilada dos livros Maria Nicolas e P.M.C. de 1942, Secção de Documentação Paranaense, Biblioteca Pública do Paraná.
Jornal Gazeta do Povo, edição de 19.03.1967.
CREDO PARANISTA
Sebastião Paraná
Sebastião Paraná permanece vivo e atuante no coração de quantos o conheceram. Mestre de muitas gerações na antiga Escola Normal e no Ginásio Paranaense, aquele cidadão ilustre foi uma extraordinária força moral e um dos mais devotados servidores da coletividade paranaense.
Os seus exemplos de austeridade, de probidade, de preocupação pelo ensino público, e de amor ao próximo, permanecem indeléveis nos registros da evolução de nosso Estado.
Seus últimos tempos de vida, quando já o abatimento físico o inibia de andar foram o mais belo cântico de coragem moral, e seu espírito viril sintetizava todo o poder construtivo que espalhara da mocidade à velhice.
Suas últimas palestras com os amigos foram emocionantes pregações de entusiasmo e fé, partidas de quem era julgado doente, aos que se consideravam cheios de saúde.
O seu CREDO PARANISTA, que aqui reproduzimos é página expressiva daquele sentido de sua vida e serve para iluminar, como exemplo, as novas e futuras gerações.
CREIO nas belezas fartas, intérminas, empolgantes do Paraná fecundo, caçula garrido, esbelto, rubicundo, que exibe a granel as tintas da saúde, filho legítimo da altiva Piratininga, da nababesca Terra dos Bandeirantes que derrotaram as feras e souberam abater a ousadia castelhana e desdobrar as fronteiras da Pátria.
CREIO no fausto, nas pompas, nos haveres incomparáveis que nossa plaga ostenta no subsolo e à flor da terra cor de violeta das glebas setentrionais, por onde o Paranapanema e seus tributários serpenteiam, ora vagarosos nas chapadas, ora céleres como o veado que teme a corrida e a crueldade da matilha sanhuda.
CREIO na produção inigualável, assombrosa, alarmante de nossos cafezais que se levantam guapos, repimpados aos milhares, aos milhões, em linhas retas, nos morros, nas canhadas, sempre florescendo, e se cobrindo de bagas rubras, na maturescência, como que lancetados, gotejantes de sangue, engrinaldados de rubis.
CREIO que nunca amolece o cerne das imbuias, que jamais terminarão os pinheirais da Terra augusta que agasalha fraternalmente os forasteiros, os proletários de além-mar que aqui sacodem o pó da jornada, alijam os andrajos e encontram vida airosa.
CREIO na fulguração imortal da mentalidade dos que aqui tiveram o berço dileto, mortos e vivos, e se notabilizaram, na diplomacia, na militança, no comércio, na oratória, na engenharia, na jurisprudência, na medicina, na poesia, na música, na escultura, na imprensa e em outros sacrários da arte e do engenho humano.
CREIO no Paraná uno, irredutível, indivisível, incorruptível, operoso, alindado pela justiça, nobilitado pelo direito, labutando à sombra da lei, na qualidade de povo politicamente organizado, nobre, altivo, tendo por lema - Ordem, Progresso, Liberdade, Igualdade, Fraternidade.
CREIO na lindeza sem par da terra máter, no florescimento de meu horto edênico. Paraná!... Paraná!... corbelha extravasante de olores, ânfora esmeraldina do tamanho do mar, ponteada de selvas opulentas, de coxilhas infindas, de linfas cristalinas que adormecem nas baixadas, formando véus de noivas, cachoeiras desesperadas, estupendas, que urram como o jaguar, estrondam como procela.
Eis porque me exalto, porque me ufano do berço onde nasci chorando, onde morrerei soluçando de saudades das torrentes bravas, dos regatos mansos, das corredeiras barulhentas, dos arroios cantantes, que disparam alucinados, retorcidos, espantados, na amplidão solene da pradaria encharcada de sol, carregada de lírios brancos, de ramalhetes agrestes.
© Federação Espírita do Paraná - 20/11/2014