A pequena Louise, filha adotiva de Rivail e Amélie
Houve muitas especulações sobre a questão: Por que Hippolyte Léon Denizard Rivail e Amélie Boudet não tiveram filhos? Até mesmo a afirmação de que teriam realizado um pacto de abstinência.
Os documentos originais encontrados recentemente lançaram luz sobre essa questão.
Em primeiro lugar, o casamento deles data de quinta-feira, 9 de fevereiro de 1832. Hippolyte tinha 27 anos e Amélie 36 anos, o que era muito para a época. Também, na época de seu casamento, Hippolyte era soldado do 61º Regimento de Infantaria de Linha, guarnecido em Rouen, Departamento do Sena Inferior.
Seu contrato de casamento não menciona nenhum pacto de abstinência.
Em uma carta de Hippolyte a Amélie, datada de 20 de agosto de 1834, depois de uma viagem de carruagem de Paris a Lyon, onde ele fora visitar sua tia paterna Reine Matthevot (nascida Rivail), ele menciona as comodidades da viagem: Na maior parte do caminho, tive o prazer de ter a companhia de uma criança de um ano no carro que, por seus gritos e cheiros, nos ofereceu uma pequena repetição da tarefa e me fez desfrutar antecipadamente dos encantos da paternidade.
Não há dúvida de que ambos consideraram a paternidade, mas a natureza provavelmente não lhes permitiu ter um filho natural.
Em outra carta dele a Amélie, de 23 de agosto de 1841, quando ele estava novamente em Lyon, para o funeral de sua tia Reine Matthevot, escreveu: Abrace bem a minha pequena Louise, cuja escrita me deu muito prazer.
Em outra, de 9 de outubro de 1841, de Paris a Château du Loir (lar dos pais de Amélie, onde o casal costumava ficar em veraneio), ele escreveu: Beije minha pequena Louise por mim.
E, em 12 de outubro de 1841, escreveu mais especificamente: Eu queria consultar Mariette esta manhã para saber o que se deveria fazer por Louise, em caso de dificuldade, mas ela não retornou há dois dias; eu sei onde ela está, mas é um pouco longe; e seria difícil não dizer impossível vê-la a tempo. Se, no entanto, alguma coisa acontecer, escreva-me logo enviando-me cabelos e eu a consultarei. No intervalo, penso que se deve cuidar para que ela não tome chuva; como você sabe, ser-lhe-ia prejudicial.
Esta carta é notável, porque mostra que Hippolyte e Amélie consultavam, em Paris, uma sonâmbula chamada Mariette, especialmente em caso de problemas de saúde, e que utilizavam até cabelos, enviados por carta, para ajudá-la na psicometria. Entendemos melhor porque Allan Kardec escreveu mais tarde que o Magnetismo abriu o caminho para o Espiritismo. Além disso, essa carta indica uma saúde frágil da pequena Louise.
Finalmente, numa carta de 15 de agosto de 1843, de Aachen a Château du Loir, Rivail é ainda mais específico: Soube com prazer que Louise trabalha bem à medida que avança na leitura e na escrita. Fiquei muito feliz com a sua pequena carta. Espero que ela possa ler a minha sozinha. Quanto ao cálculo, não deve ser negligenciado; mas na ausência do aritmômetro, é necessário usar fichas; você deve ter certamente nas caixas de jogos. Um exercício excelente e que ela deve começar a ser capaz, é de atribuir às fichas aos cartões de uma determinada cor um valor de 10 ou de 100. Assim, para fazer 345, precisa colocar 3 fichas de 100, 4 de 10 e 5 de 1. Ou seja, como segue + + + 0 0 0 0 1 1 1 1 1. Deve exercitá-la ou a ler os números assim compostos, ou a compor outros ela mesma. Mas é claro que precisa começar com números pequenos e aumentar apenas gradualmente. Quando ela estiver bem familiarizada com este exercício, será preciso utilizar os algarismos, e fazê-la entender que os algarismos da primeira coluna à direita valem tantas unidades, os da segunda valem tantas dezenas ou fichas de 10 etc. Será necessário exercitá-la, vendo um número escrito em algarismos, a compô-lo com fichas, e vice-versa.
Vemos, claramente, o professor aplicando os métodos de ensino de Pestalozzi que ele melhorou e completou!
Em 22 de outubro de 1843, Hippolyte menciona, numa carta a Amélie, de Paris para Château du Loir: Anexo uma cartinha para Louise. Infelizmente não temos o original dessa cartinha que foi entregue por Amélie a Louise.
Em 6 de novembro de 1843, ele escreveu para Amélie, de Paris para Château du Loir: Beije minha querida Louise por mim e diga a ela que fiquei muito feliz com sua carta; mostrei-a a várias pessoas que ficaram muito satisfeitas.
Há outros elementos em uma carta de 16 de setembro de 1844, de Paris para Château du Loir, onde ele fala da cama de Louise, em sua residência em Paris: Quanto a Louise, acho que ela aproveitará bastante. Peço-lhe que cumprimente suas galinhas, as quais abraço de todo coração, e a ela também.
Pode-se imaginar a menina vivaz, no campo, em Château du Loir, cuidando do galinheiro.
Em 27 de setembro de 1844, ele escreve: Até logo, minha querida, abraça por mim minha boa pequena Louise, que, penso, se diverte imensamente.
Essas cartas não deixam nenhuma dúvida sobre o fato que Rivail e Amélie criaram e educaram uma menina chamada Louise, provavelmente adotiva, e a quem tinham dado o segundo nome de Jeanne Louise Rivail (nascida Duhamel), mãe de Hippolyte.
Mas essa alegria seria de curta duração. Em 29 de setembro de 1845, de Paris para Château du Loir, Hippolyte escreveu para Amélie: Como você me dissera que se não me escrevesse, seria porque Louise iria continuar melhorando, então espero que a melhora se tenha confirmado: imagino o quanto isso deve lhe causar de tormento e fadiga, em vez de ter o repouso de que necessita. Os problemas de saúde da pequena Louise pareciam estar piorando.
Amélie retornou a Paris com a pequena. É em uma carta do pai de Amélie (que desencarnou em 6 de julho de 1847, aos 79 anos), datada de 6 de dezembro de 1845, que apreendemos a morte da pequena Louise: Não demorei para lamentar, minha querida Amélie, o evento infeliz que você anuncia na sua última carta. Com o que você nos tinha escrito e o que Mad. Gendron havia nos dito, eu esperava todos os dias receber essa má notícia. É muito triste e muito lamentável deixar a vida quando estamos apenas começando a aproveitá-la, enquanto outros que tiveram uma longa carreira poderiam terminá-la sem se arrepender tanto: como você me diz, não é da natureza do homem ser perfeitamente feliz, devemos nos contentar com a porção que nos é distribuída. Percebo o quanto isso deve ter afetado o Sr. Rivail, desejo que ele se recupere.
Consultamos o arquivo on-line do Estado Civil reconstituído de Paris, mas com a classificação pelo nome, não encontramos nenhuma Louise Rivail, nem Duhamel, nem Boudet, que tenha morrido naquele período. Uma busca por data é necessária, e talvez possível nos microfilmes. Isso permitiria esclarecer qual era o nome dessa menininha, provavelmente adotiva.
Esse episódio lança luz sobre o caminho difícil de Hippolyte Léon Denizard Rivail e Amélie Boudet, no período que antecedeu à observação do fenômeno das mesas girantes, em maio de 1855, que o fez declarar: Foi aí que, pela primeira vez, presenciei o fenômeno das mesas que giravam, saltavam e corriam em condições tais que não deixavam lugar para qualquer dúvida. Assisti então a alguns ensaios, muito imperfeitos, de escrita mediúnica numa ardósia, com o auxílio de uma cesta. Minhas ideias estavam longe de precisar-se, mas havia ali um fato que necessariamente decorria de uma causa. Eu entrevia, naquelas aparentes futilidades, no passatempo que faziam daqueles fenômenos, qualquer coisa de sério, como que a revelação de uma nova lei, que tomei a mim estudar a fundo.1
Os espíritas sabem o que se seguiu: o trabalho magistral da Codificação Espírita, de Allan Kardec, que hoje desfruta, depois de mais de um século e meio, dezenas de milhões de admiradores em todo o mundo, e que, ao mesmo tempo, abriu todo um campo de pesquisa científica sobre o mundo espiritual e consolou tantos corações feridos.
Muito obrigado, Allan Kardec. Muito obrigado, Amélie Boudet!
Carta do pai de Amélie na desencarnação de Louise
Envelope de carta de 15.8.1843 de Aachen para Château du Loir.
Carta de 20.8.1834 sobre a paternidade
Carta de 15.8.1843, sobre aritmética
Charles Kempf
Referências:
1. KARDEC, Allan. Obras Póstumas. 39. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. pt. 2, cap. A minha primeira iniciação no Espiritismo.
1. KARDEC, Allan. Obras Póstumas. 39. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. pt. 2, cap. A minha primeira iniciação no Espiritismo.
© Federação Espírita do Paraná - 20/11/2014