Bicentenário de Nascimento de Allan Kardec II
Foi no ano de 1867 que Allan Kardec foi a Tours, (...) passar alguns dias em casa de amigos, e todos os espíritas da Touraine foram convidados a cumprimentá-lo.2
Para tal desiderato, os espíritas haviam alugado uma sala na rua Paul-Louis Courrier e previamente solicitado alvará para a concentração, pois que, à época do Segundo Império, em França, era rigorosamente proibida por Lei, qualquer reunião de mais de vinte pessoas.
Conta Léon Denis que no momento da reunião, foram informados de que seu pedido fora indeferido.
Para receber o mestre de Lyon e os convidados, seu anfitrião, o Sr. Rebondin cedeu as dependências de sua casa. Foi no amplo jardim que aconteceu a assembleia.
Ao sabor da emoção, Léon Denis descreveria o que lhe significou aquele primeiro encontro com Kardec, anos mais tarde, ao ensejo do 3º Congresso Espírita Internacional:
Éramos mais ou menos trezentos ouvintes*, de pé, apinhados sob as árvores, pisando nos canteiros do nosso hospedeiro.
Sob a luz das estrelas, elevava-se a voz grave e suave de Allan Kardec, e a sua fisionomia meditativa, iluminada por pequena lâmpada colocada sobre uma mesinha, no centro do jardim, assumia aspecto fantástico.
Falava-nos da obsessão, que era um assunto muito em voga. Foram-lhe feitas algumas perguntas, às quais respondeu com fisionomia sorridente. (...)2
Léon Denis prossegue dizendo que no dia seguinte, ele retornou à casa, para visitar o Codificador.
Sua narrativa é curta, mas muito significativa e podemos imaginar, tentando dar cor e vida à cena por ele descrita.
Chegou à casa do sr. Rebondin e adentrando o jardim da grande mansão, ouviu vozes que pareciam vir de logo adiante. Andou um pouco mais, atraído pela sonoridade do diálogo e encontrou o mestre lionês.
Sobre um pequeno banco, debaixo de uma grande cerejeira, lá estava ele. Nada diria que aquele homem era o líder do Movimento nascente, que conduzia com tamanha propriedade. Nem que sobre aqueles ombros pairasse tanta responsabilidade.
Possivelmente, Denis terá ficado um pouco constrangido em surpreender um esposo, em momento de doméstica intimidade, com sua amada.
Kardec colhia frutos e os atirava à sua doce Gabi, que os aparava. Havia ternura nos gestos e leveza no olhar. Momentos raros que ambos se podiam permitir, ante as inúmeras tarefas que lhes tomavam as horas.
Conclui Léon Denis: Era uma cena bucólica, contrastando alegremente com suas graves preocupações.2
Algo tão tocante que o servidor de Tours teria condições de recordar, em detalhes, mesmo transcorridos quase sessenta anos, em 1925.
Outra faceta, que passa quase sempre despercebida pelos espíritas, é o grande espírito de amizade e caridade do Codificador.
São recordadas a sua capacidade de trabalho, bom senso, dedicação e renúncia, em prol da missão que lhe anunciaram as Vozes do Céu. E com isso, exalta-se a intelectualidade de Kardec, em detrimento do alto senso de humanidade que o movia.
Pierre-Gaëtan Leymarie recorda que ele se levantava, em qualquer estação do ano, às 4h30minutos da manhã, a fim de conseguir dar conta de todos os seus trabalhos.
Mas tinha tempo para os amigos. De forma frequente, diz, vinha à sua casa, e contava anedotas de alto nível, onde se misturavam, inclusive, ditos gauleses.
Na Villa Ségur aos domingos, especialmente nos derradeiros anos de sua vida, costumava receber amigos para jantar.
E, afirma Leymarie ter sabido de pessoas em provação que encontraram junto dele o socorro moral e material. Naturalmente, de tudo isso, fiel ao disposto no capítulo XIII de O Evangelho segundo o Espiritismo, como vero cristão, não dava ciência a ninguém.
Quando, em 1864, Kardec esteve em viagem a Bruxelas, foi fundado um leito de criança na creche de Saint Josse Tennoode. O mestre declara sentir-se mais honrado com essa obra de beneficência, criada em memória de sua visita, do que com as mais brilhantes recepções que não aproveitam a ninguém e não deixam nenhuma lembrança útil.
• Segundo o relatório de viagem de Kardec, na Revue Spirite, julho/1867, seriam cerca de cem pessoas.
Para tal desiderato, os espíritas haviam alugado uma sala na rua Paul-Louis Courrier e previamente solicitado alvará para a concentração, pois que, à época do Segundo Império, em França, era rigorosamente proibida por Lei, qualquer reunião de mais de vinte pessoas.
Conta Léon Denis que no momento da reunião, foram informados de que seu pedido fora indeferido.
Para receber o mestre de Lyon e os convidados, seu anfitrião, o Sr. Rebondin cedeu as dependências de sua casa. Foi no amplo jardim que aconteceu a assembleia.
Ao sabor da emoção, Léon Denis descreveria o que lhe significou aquele primeiro encontro com Kardec, anos mais tarde, ao ensejo do 3º Congresso Espírita Internacional:
Éramos mais ou menos trezentos ouvintes*, de pé, apinhados sob as árvores, pisando nos canteiros do nosso hospedeiro.
Sob a luz das estrelas, elevava-se a voz grave e suave de Allan Kardec, e a sua fisionomia meditativa, iluminada por pequena lâmpada colocada sobre uma mesinha, no centro do jardim, assumia aspecto fantástico.
Falava-nos da obsessão, que era um assunto muito em voga. Foram-lhe feitas algumas perguntas, às quais respondeu com fisionomia sorridente. (...)2
Léon Denis prossegue dizendo que no dia seguinte, ele retornou à casa, para visitar o Codificador.
Sua narrativa é curta, mas muito significativa e podemos imaginar, tentando dar cor e vida à cena por ele descrita.
Chegou à casa do sr. Rebondin e adentrando o jardim da grande mansão, ouviu vozes que pareciam vir de logo adiante. Andou um pouco mais, atraído pela sonoridade do diálogo e encontrou o mestre lionês.
Sobre um pequeno banco, debaixo de uma grande cerejeira, lá estava ele. Nada diria que aquele homem era o líder do Movimento nascente, que conduzia com tamanha propriedade. Nem que sobre aqueles ombros pairasse tanta responsabilidade.
Possivelmente, Denis terá ficado um pouco constrangido em surpreender um esposo, em momento de doméstica intimidade, com sua amada.
Kardec colhia frutos e os atirava à sua doce Gabi, que os aparava. Havia ternura nos gestos e leveza no olhar. Momentos raros que ambos se podiam permitir, ante as inúmeras tarefas que lhes tomavam as horas.
Conclui Léon Denis: Era uma cena bucólica, contrastando alegremente com suas graves preocupações.2
Algo tão tocante que o servidor de Tours teria condições de recordar, em detalhes, mesmo transcorridos quase sessenta anos, em 1925.
Outra faceta, que passa quase sempre despercebida pelos espíritas, é o grande espírito de amizade e caridade do Codificador.
São recordadas a sua capacidade de trabalho, bom senso, dedicação e renúncia, em prol da missão que lhe anunciaram as Vozes do Céu. E com isso, exalta-se a intelectualidade de Kardec, em detrimento do alto senso de humanidade que o movia.
Pierre-Gaëtan Leymarie recorda que ele se levantava, em qualquer estação do ano, às 4h30minutos da manhã, a fim de conseguir dar conta de todos os seus trabalhos.
Mas tinha tempo para os amigos. De forma frequente, diz, vinha à sua casa, e contava anedotas de alto nível, onde se misturavam, inclusive, ditos gauleses.
Na Villa Ségur aos domingos, especialmente nos derradeiros anos de sua vida, costumava receber amigos para jantar.
E, afirma Leymarie ter sabido de pessoas em provação que encontraram junto dele o socorro moral e material. Naturalmente, de tudo isso, fiel ao disposto no capítulo XIII de O Evangelho segundo o Espiritismo, como vero cristão, não dava ciência a ninguém.
Quando, em 1864, Kardec esteve em viagem a Bruxelas, foi fundado um leito de criança na creche de Saint Josse Tennoode. O mestre declara sentir-se mais honrado com essa obra de beneficência, criada em memória de sua visita, do que com as mais brilhantes recepções que não aproveitam a ninguém e não deixam nenhuma lembrança útil.
• Segundo o relatório de viagem de Kardec, na Revue Spirite, julho/1867, seriam cerca de cem pessoas.
01.AUDI, Edson. Allan Kardec por Pierre-Gaëtan Leymarie. In:___. Vida e obra de Allan Kardec. Niterói: LACHÂTRE, 1999.
02.LUCE, Gaston. Atribulações. Em Tours. In:___. Vida e obra de Léon Denis. 2. ed. São Paulo: EDICEL, 1978. pt. 1, cap. I.
03.WANTUIL, Zeus; THIESEN, Francisco. Nos primórdios do Movimento. In:___. Allan Kardec. Rio [de Janeiro]: FEB, 1980. v. 2, cap. 3, itens 1 e 6.
Revisado em 11.4.2017.
02.LUCE, Gaston. Atribulações. Em Tours. In:___. Vida e obra de Léon Denis. 2. ed. São Paulo: EDICEL, 1978. pt. 1, cap. I.
03.WANTUIL, Zeus; THIESEN, Francisco. Nos primórdios do Movimento. In:___. Allan Kardec. Rio [de Janeiro]: FEB, 1980. v. 2, cap. 3, itens 1 e 6.
Revisado em 11.4.2017.
© Federação Espírita do Paraná - 20/11/2014