6 ª matéria publicada no Jornal Mundo Espírita :: agosto/2004
Foi no ano de 1831 que o jovem Rivail, no mundo da literatura e do ensino em que se locomovia, conheceu a senhorita Amélie Boudet. Esse foi um ano, com certeza, venturoso para o pedagogo, pois que o seu Memorial foi premiado pela Real Academia de Ciências de Arras.
O Memorial, em 16 páginas, traduz a experiência de 12 anos do professor Rivail e demonstra a sua preocupação, como pedagogo e como cidadão, pelo bem público. Nesse projeto didático, Rivail nada esquece: do número ideal de alunos para cada instituição à idade-limite para ser professor, o salário. Não poupando seu tempo, e animado pelo genuíno desejo de ajudar as autoridades competentes na elaboração de uma boa lei de ensino, ele se esmera. Conquistou o prêmio.
No início de 1832, a 9 de fevereiro, ele se consorcia com Amélie, a quem, na intimidade, chamava "minha doce Gabi".
O casal foi residir então na Rue de Sèvres, 35, onde funcionava o Instituto Técnico Rivail, cujo ensino obedecia o método Pestalozzi e que teve suas atividades encerradas no ano de 1834. Esse local, até os dias atuais, abriga atividades voltadas à educação.
Quando se registram os primeiros contatos de Rivail com os fenômenos que encantavam e inquietavam a Cidade Luz, o casal já se encontrava residindo na Rue des Martyres, nº 8, no segundo andar.
Ali, às terças-feiras, durante mais ou menos 6 meses, o casal recebia até 30 pessoas para reuniões, onde a médium que se destacava era a srta. Érmance Dufaux. Na sala acanhada e nada cômoda, adentraram príncipes estrangeiros e personagens de alta distinção.
Foram os próprios freqüentadores que deliberaram se cotizar e alugar uma sala mais confortável e adequada, assim sendo transferidas as reuniões para um local no Palais Royal, galeria de Valois, onde esteve de 1º de abril de 1858 a 1º de abril de 1859. Passaria depois para um dos salões do Restaurante Douix, no mesmo Palais Royal, Galeria Montpensier, de 1º de abril de 1859 a 1º de abril de 1860, alterando o dia das reuniões para as sextas-feiras. Finalmente, se instalou em local próprio na passagem Sainte-Anne, 59.
Era ali que Kardec passava a maior parte do seu tempo, embora a sua residência oficial fosse a Vila de Ségur, propriedade onde pensava construir seis pequenas casas, com jardim. Pretendia recolher-se em uma delas e, depois de sua morte, torná-la asilo onde se pudessem recolher os defensores do Espiritismo, que portassem dificuldades financeiras.
Em 1869, transformada em Sociedade Anônima, a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas se instalaria na Rue de Lille, nº 7.
Em 1991, quando Maurício Silva acompanhava o orador espírita Raul Teixeira em seu périplo doutrinário na Europa, teve oportunidade de visitar o apartamento onde residiu Allan Kardec, até a sua desencarnação, cuja ocorrência se deu a 31 de março de 1869.
A visita ao apartamento, o qual faz parte de um conjunto de outros destinados à locação até os dias presentes, localizado na Passage Sainte Anne, 59, 1º andar, em Paris, França, deveu-se à determinação de Cláudia Bonmartin em insistir na permissão com a inquilina até a sua concordância, uma vez que para esta, Allan Kardec era totalmente desconhecido.
Obviamente que a senhora moradora, posteriormente conversando com os visitantes, achou interessante e ficou satisfeita em saber que no século XIX ali residira alguém muito importante, a ponto de estrangeiros virem de tão longe com o intuito de conhecerem o local e fotografá-lo para reportagem jornalística.
Chega-se ao 1º andar através de larga escadaria em forma de caracol. Os apartamentos não são numerados. A entrada principal dele é pela cozinha, da qual passa-se para a sala e desta para o único quarto, o qual tem dois pequenos armário/estantes embutidos, conforme croqui da repartição que também ilustra esta matéria (as medidas ali anotadas são por estimativa, e resultantes da simples observação).
As janelas dão para os fundos do prédio, o que faz dele um ambiente silencioso, próprio para o recolhimento e a meditação. Presente em tudo a simplicidade, desde a entrada pela Passage Sainte Anne até o interior do imóvel.
A Passage Sainte Anne, espécie de galeria, liga-se perpendicular e internamente com outra galeria (Passage Choiseul...) esta destinada a lojas comerciais, na qual residia a família Delanne, cuja loja distava uns 50 metros do apartamento de Allan Kardec, o que permite entender o atendimento presto do senhor Alexandre Delanne aos apelos dos presentes, diante do mal súbito de que foi acometido o Codificador, naquele 31 de março de 1869.
Elaboradas por Stella Maris Martins.
01. KARDEC, Allan. A revista espírita. In___. Obras póstumas. 15. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1975. pt. 2.
02. _____. Fundação da Sociedade Espírita de Paris. Op. cit. pt. 2.
03. JORNAL Mundo Espírita, nº 1281, abr.1991. pág. 6 e 7.
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