No dia 12 de junho de 1856, identificando-se como Espírito Verdade, novas orientações e afirmativas foram repassadas ao pedagogo Rivail, acerca da sua missão. As primeiras, recordemos, lhe foram dadas em casa do Sr. Roustan, tendo como médium a Srta. Japhet, em 30 de abril de 1856.

Nessa segunda, o Espírito o alerta da rudeza da tarefa, que visa abalar e transformar o mundo.

Frisa que ele, o Codificador, terá que sustentar uma luta quase contínua, com sacrifício de seu repouso, tranquilidade, saúde e da própria vida. Concluídas as exortações, Rivail, à semelhança de Paulo de Tarso, ante a visão gloriosa do Cristo, à entrada de Damasco, coloca-se à disposição, humilde e servidor.

Compondo um Magnificat dos tempos modernos, assim se expressou:

Espírito Verdade, agradeço os teus sábios conselhos. Aceito tudo, sem restrição e sem ideia preconcebida.

Senhor! Pois que Te dignaste lançar os olhos sobre mim para cumprimento dos Teus desígnios, faça-se a Tua vontade!

Está nas Tuas mãos a minha vida; dispõe do Teu servo. Reconheço a minha fraqueza diante de tão grande tarefa; a minha boa vontade não desfalecerá, as forças, porém, talvez me traiam.

Supre a minha deficiência; dá-me as forças físicas e morais que me forem necessárias.

Ampara-me nos momentos difíceis e, com o Teu auxílio e dos Teus celestes mensageiros, tudo envidarei para corresponder aos Teus desígnios.

Revendo suas notas, dez anos e meio depois, Kardec confessa que as predições quanto às vicissitudes que teria que enfrentar, se haviam cumprido.

Quando muitos afirmam, ainda nos dias atuais, que ele sucumbiu ao exclusivo excesso de trabalho, se esquecem de que seu coração sensível, a par, sim do grande contingente de esforços que despendeu pela Doutrina, também sofreu, no silêncio, os mais duros golpes da ingratidão e da maldade.

Escreveu ele, a 1º de janeiro de 1867: Andei em luta com o ódio de inimigos encarniçados, com a injúria, a calúnia, a inveja e o ciúme; libelos infames se publicaram contra mim; as minhas melhores instruções foram falseadas; traíram-me aqueles em quem eu mais confiança depositava, pagaram-me com a ingratidão aqueles a quem prestei serviços. (...)

Nunca mais me foi dado saber o que é o repouso; mais de uma vez sucumbi ao excesso de trabalho, tive abalada a saúde e comprometida a existência.²

Contudo, o mestre lionês era um homem de fé. Tinha os olhos bem acima do comum dos homens e guardava a inabalável certeza do apoio espiritual.

Afirma² que, graças à proteção e assistência espiritual superior, não sentiu desfalecimento, nem desânimo, prosseguindo no desempenho da tarefa, sempre com o mesmo ardor.

E conclui: Mas, também, a par dessas vicissitudes, que de satisfações experimentei, vendo a obra crescer de maneira tão prodigiosa! Com que compensações deliciosas foram pagas as minhas tribulações! Que de bênçãos e de provas de real simpatia recebi da parte de muitos aflitos a quem a Doutrina consolou!

Este resultado não mo anunciou o Espírito de Verdade que, sem dúvida intencionalmente, apenas me mostrara as dificuldades do caminho. Qual não seria, pois, a minha ingratidão, se me queixasse! Se dissesse que há uma compensação entre o bem e o mal, não estaria com a verdade, porquanto o bem, refiro-me às satisfações morais, sobrelevaram de muito o mal.

Quando me sobrevinha uma decepção, uma contrariedade qualquer, eu me elevava pelo pensamento acima da Humanidade e me colocava antecipadamente na região dos Espíritos e desse ponto culminante, donde divisava o da minha chegada, as misérias da vida deslizavam por sobre mim sem me atingirem.

Tão habitual se me tornara esse modo de proceder, que os gritos dos maus jamais me perturbaram.²

Segundo suas próprias palavras, o Espiritismo foi a obra de sua vida¹ e a ela se dedicou de forma total e irrestrita.