Trigo de Deus
Seu nome deriva do latim: ignis – fogo e natus – nascido. Nascido do fogo, o que corresponde muito bem à sua personalidade: ardente, eloquente, apaixonado por Cristo e pelo forte desejo de imitar seu Mestre.
Também é cognominado Theoforos – carregado por Deus, por ser identificado como a criança que Jesus tomou nos braços, para dar exemplo da verdadeira pureza. (Mateus, 18:2-6)
De sua vida se conhecem alguns dados graças a Eusébio de Cesareia, através de sua História Eclesiástica, que o identifica como tendo assumido a chefia da igreja de Antioquia.
Antioquia foi fundada por volta do ano 300 a.C., por Seleuco Nicátor, com o nome de Antiokheia (cidade de Antíoco). Tornou-se a capital do império selêucida e grande centro do Oriente helenístico.
Conquistada pelos romanos, por volta de 64 a.C., conservou seu estatuto de cidade livre e foi a terceira cidade do Império, depois de Roma e Alexandria, chegando a abrigar até quinhentos mil habitantes.
Mereceu a evangelização de Pedro, Paulo e Barnabé. Atualmente é a cidade de Antakya, da Turquia.
Inácio foi encontrado por João, mais ou menos quatro anos após o drama da cruz. Tendo se retirado para Éfeso, onde ganhara um pedaço de terra cultivável, o Apóstolo morava com Maria, a mãe de Jesus.
O local era um ponto geográfico privilegiado, aconchegante, de rara beleza. Logo além podia-se ver o mar bordado pelas velas coloridas das embarcações.
Miosótis, flores miúdas e tamareiras completavam a harmonia do local.
O menino tinha então seus oito anos e vendo-o, João se lembrou do petiz de perninhas magras, pendendo frouxas e confiantes do colo do Divino Amigo.
Pareceu rever, na tela da alma, as divinas mãos acariciando os cabelos desgrenhados daquela criança.
Com ternura, resolveu adotá-lo e o levou para sua casa. Ali, o pequeno cresceu sob a ternura e os carinhos de Maria, enquanto João lhe cultivou o caráter nos ensinos cristãos.
Já adulto, propagador entusiasta da Boa Nova, Inácio de Antioquia foi preso. Tornou-se célebre por sua peregrinação forçada, em cadeias, de Antioquia a Roma.
Qual Paulo de Tarso, em seu caminho para Roma, foi recebendo a visita de cristãos de outras igrejas, em todo o percurso. Nas paradas que fazia para descanso, escrevia às comunidades que o tinham recebido ou que lhe enviavam representantes. São sete as cartas conhecidas, todas de imenso valor para o conhecimento da história dos primeiros cristãos.
Em sua Epístola a Policarpo de Esmirna (cidade marítima da Ásia Menor, a oeste de Éfeso, que pesquisas arqueológicas identificam com a colina de Hacimutsoste, a oito quilômetros da atual cidade de Izmir, na Turquia), ele recomenda à comunidade, a união e confessa a sua fé em Jesus Cristo.
O cristão, afirma ele no cap. 7:3, não tem poder sobre si mesmo, mas está livre para servir a Deus.
Na Epístola aos Romanos, cap. 4:1-3, temeroso de que amigos, que tinham influência na corte imperial, o poderiam impedir de alcançar o martírio, ele escreve: Eu vos suplico, não mostreis comigo uma caridade inoportuna. Permiti-me ser pasto das feras, por meio das quais me é concedido alcançar a Deus. Sou trigo de Deus, e serei moído pelos dentes das feras, para que me apresente como trigo puro de Cristo.
Ao contrário, acariciai as feras, para que se tornem minha sepultura, e não deixem nada do meu corpo, para que, depois de morto, eu não pese a ninguém... Não vos dou ordens como Pedro e Paulo; eles eram apóstolos, eu sou um condenado. Eles eram livres, e eu até agora sou um escravo. Contudo, se eu sofro, serei um liberto de Jesus Cristo, e ressurgirei nele como pessoa livre. Acorrentado, aprendo agora a não desejar nada.
No capítulo seguinte refere-se à luta ...contra as feras, por terra e por mar, de noite e de dia, acorrentado a dez leopardos, a um destacamento de soldados; quando se lhes faz bem, tornam-se piores ainda. Todavia, por seus maus tratos, eu me torno discípulo melhor, mas nem por isso justificado.
Finalmente, num dia ensolarado e quente, desembarcando no Porto de Óstia, cercado por legionários, seguiu pela Via Ápia. Chegando ao cume de uma colina que circundava a cidade, ele começou a sorrir.
Aquele homem alquebrado, sorria a ponto de comover-se até às lágrimas. Um legionário se aproximou dele, bateu-lhe na face e colérico, lhe falou:
Tu deves estar louco. Por que sorris?
Inácio, ainda emocionado, respondeu:
Sorrio diante de tanta beleza que os meus olhos descortinam. Sorrio porque chego a Roma e vejo uma cidade imponente. Sorrio ao olhar o casario de mármore, as estátuas que rutilam ao sol, as águas prateadas do Tibre que circundam as montanhas como um alaúde. Sorrio...
Antes que Inácio pudesse prosseguir, o soldado lhe gritou:
Mas tu vais morrer, miserável. Como podes sorrir?
Sorrio, continuou o pregador do Evangelho, sorrio de felicidade porque agora eu posso ter uma dimensão do amor de Deus. Porque, se para vós, que sois corrompidos, se para vós que sois criminosos, Deus concede uma cidade tão bela e tão harmônica, o que não haverá de oferecer para aqueles que lhe são fiéis?
Sorrio de felicidade, antecipadamente, e desejo que o sofrimento que me apontas venha logo, a fim de que ele me leve...
Colocado em um subterrâneo, encontrou amigos de fé. Ali, ele se recordou de Jesus e, por várias horas falou-lhes a respeito das bem-aventuranças do Reino de Deus.
Uma semana depois, milhares de espectadores lotaram o circo e a arena ovalada se encheu de feras vindas de várias partes do mundo.
Eram feras que não tinham sido alimentadas por uma semana e sobre as quais se atiravam pedaços de carne ensanguentados, cheios de vida para lhes espicaçar o paladar.
Naquela arena, os cristãos foram lançados e os animais, de forma rápida, despedaçaram aqueles corpos frágeis de anciãos, homens, mulheres e crianças, que não se intimidavam diante da morte.
Contudo, de uma forma estranha, Inácio, que se encontrava entre eles, não foi tocado. Esperou que uma patada no tórax lhe despedaçasse os ossos e os músculos. Entretanto, nenhuma fera lhe arrebentou o corpo.
Vendo que os cadáveres dos seus companheiros já estavam sendo rejeitados pelas feras saciadas, ele se ajoelhou na arena ensanguentada e orou a Jesus:
Por quê? Por que fui poupado? Por que não tive a honra de morrer?
Então, um ser espiritual se lhe apresentou à visão psíquica e lhe respondeu:
Inácio, morrer é muito fácil. Perder o corpo numa só vez é um testemunho pequeno para ti. Tu, que amas tanto Jesus, mereces algo mais penoso. Tu viverás. Viverás entre pessoas que não te compreendem, que desconfiarão de ti.
Estar firme no Ideal, Inácio, no momento das dificuldades, este é o sacrifício maior. O Mestre deseja que vivas, para que a Sua mensagem saia da tua boca e experimentes a perseguição continuada, sem desanimar. A morte na arena é uma morte muito rápida para os que são bons e fiéis.
Inácio saiu da arena. Os cristãos supuseram que ele houvesse prestado sacrifício aos deuses de Roma, para ter a sua vida poupada.
A calúnia, a maledicência e a intriga semearam, na comunidade cristã, toda sorte de desconfianças.
Inácio jamais se defendeu, porque quem ama Jesus não tem tempo a perder com defesas improdutivas.
Jamais se justificou, porque ele deveria prestar contas ao seu Rei, Jesus, e não aos seus pares, súditos como ele.
Não disse uma palavra. Os anos demonstraram a sua grandeza. Ele passaria a ser o modelo do cristão verdadeiro, o modelo daquele servidor primitivo de Jesus, elevado à categoria de bem-aventurado por seu testemunho de amor.
Sua morte é assinalada como tendo ocorrido no ano de 110, durante o reinado de Trajano, em Roma.
01.FRANCO, Divaldo Pereira. Palestra pública.
02.______. Trigo de Deus. In:___. Trigo de Deus. Pelo Espírito Amélia Rodrigues. Salvador: LEAL, 1993.
03.COELHO, Rogério. O holocausto maior. Revista Reformador, Rio de Janeiro:FEB, p. 70, mar. 2001.
04.http://www.newadvent.org
Em 24.02.2016
02.______. Trigo de Deus. In:___. Trigo de Deus. Pelo Espírito Amélia Rodrigues. Salvador: LEAL, 1993.
03.COELHO, Rogério. O holocausto maior. Revista Reformador, Rio de Janeiro:FEB, p. 70, mar. 2001.
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