Um romano a serviço de Jesus
Ninguém o conhece como divulgador da Boa Nova. As referências ao seu nome (Atos, 13:6-12) passam, de modo geral, despercebidas, pelos estudiosos do Novo Testamento.
Contudo, sem ele, não teríamos Estêvão, o primeiro mártir da Boa Nova, o que nos dá a dimensão da Sabedoria Divina que tudo vê, servindo-Se de tudo e todos, no alcance dos Seus objetivos.
Ele era um ilustre romano que tomou um navio, em Cefalônia. O mesmo em que Jeziel, israelita filho de Jochedeb se encontrava, na condição de escravo, após sumária prisão, açoite e condenação às galés, por ordem do Questor romano em Corinto, Licínio Minúcio.
Sérgio Paulo dirigia-se à cidade de Cítium, no desempenho de missão de natureza política. O comandante do navio, Sérvio Carbo, lhe reservou as melhores acomodações.
Dada a importância do seu nome e o caráter oficial de sua missão, foi logo alvo de todas as atenções.
No entanto, antes que a embarcação chegasse a Corinto, onde deveria permanecer alguns dias, o moço patrício adoeceu gravemente. Seu corpo se abriu em chagas purulentas. Logo se falou em uma peste desconhecida que grassava pelas cercanias de Cefalônia.
Retraíram-se os amigos, temerosos. O médico de bordo não conseguiu diagnosticar a enfermidade. Muito menos tratá-la. Três dias depois, ninguém mais adentrava o camarote do enfermo.
Preocupado, o comandante chamou o feitor e pediu que designasse, entre os escravos, um dos mais educados, a fim de atender o romano, para que não viesse a morrer, sem assistência e ele fosse responsabilizado.
Sérgio Paulo, com o leito em desalinho, delirando, sangrando pelas chagas, pronunciava palavras desconexas, quando Jeziel penetrou a câmara para atendê-lo, de espírito sereno.
Consagrou-se ao enfermo e, servindo-se dos conhecimentos que aprendera em seu lar, dispensou por dias seguidos e longas noites, banhos, pomadas e essências ao moço de Roma.
Nas horas mais críticas, Jeziel lhe falava de Deus, recitava trechos dos antigos profetas e o enchia de fraternal carinho.
Sérgio Paulo entrou em convalescença, entendeu o abandono dos amigos e a dedicação do enfermeiro humilde, por quem se afeiçoara.
Jeziel, contudo, contraiu a mesma enfermidade e Sérvio Carbo decidiu que, a fim de evitar o contágio, ele seria lançado ao mar. Que falta faria um escravo?
Sérgio Paulo, servindo-se de sua autoridade, exigiu do comandante que fizesse constar dos seus apontamentos que o escravo adoecera e fora sepultado no mar. Ele próprio tomou de um batel e deixou Jeziel nas proximidades do porto de Jope, entregando-lhe ainda uma quantia em dinheiro.
Recomendou-lhe que mudasse o nome; que tão logo se pudesse restabelecer, buscasse o interior da província, a fim de evitar indagações de marinheiros curiosos.
Era a liberdade para Jeziel, que sobreviveu e adotou o nome grego de Estêvão.
Dez anos depois, Saulo de Tarso chegaria à bela cidade cipriota de Nea-Pafos, sede do governo, onde residia o agora Procônsul Sérgio Paulo.
Saulo e Barnabé impunham mãos e curavam mazelas. Barnabé provocava emoções profundas em suas pregações. Foi ali que a palavra de Saulo explodiu, inspirada, fácil e profunda, granjeando-lhe fama.
Foram chamados, então, à presença do Procônsul. O que desejaria? – Indagava-se Saulo. E, compulsando os arquivos da memória, recordou-se de ter ouvido aquele nome da boca de Simão Pedro, ao lhe narrar a história de Estêvão.
Sérgio Paulo estava mal, a ponto de não conseguir atender seus compromissos políticos e contratara os serviços de um judeu, de nome Barjesus para o curar, sem êxito.
Saulo o surpreende ao narrar que, anos antes, ele já fora cometido de grave doença, no trajeto naval entre Cítium e Corinto, e que fora tratado por um escravo israelita de nome Jeziel, que o salvara das garras da morte.
Sérgio Paulo reconhece o poder do Messias de que lhe falava aquele estranho homem que sabia, ademais, detalhes a seu respeito, ocultos aos próprios amigos.
Em particular, o patrício romano indaga dos projetos de Saulo e Barnabé. Deseja saber onde se encontram os santuários para a disseminação daquela Boa Nova, que o conquistou.
Ele próprio se dispôs a financiar a construção de um templo em Nea-Pafos, pedindo aos mensageiros de Jesus que indicassem as pessoas capazes de levantá-lo.
Creio nas verdades divinas que anunciais e desejo sinceramente compartilhar do Reino esperado. – Afirma o Procônsul.
Naquela noite, Barnabé sugere a Saulo a mudança do seu nome. Saulo, reconhecendo um benfeitor no chefe político daquela ilha e recordando os laços que o ligavam à memória de Estêvão, a generosa influência do patrício romano para a liberdade daquele, decidiu, em sua homenagem, a partir de então, passar a assinar seu nome à romana, Paulo.
Sérgio Paulo, romano, político, utiliza as suas posses e a sua autoridade em Nea-Pafos para implantar a primeira igreja, filha do trabalho direto de Paulo e Barnabé. Adere à Boa Nova e logo se propõe a auxiliar na propagação das suas luzes, tornando-se mais um servidor de Jesus.
É bem possível que tenha sofrido o escárnio dos seus pares, aderindo à loucura nazarena, talvez dos familiares e amigos. Mas, tendo sido conquistado seu coração pelo Cristo, entregou-se totalmente.
01.MIRANDA, Hermínio. O homem e a obra. In:___. As marcas do Cristo. Rio [de Janeiro]: FEB, 1979. v. 1, cap. 2, itens O amor e De Saulo a Paulo.
02.XAVIER, Francisco Cândido. Em Jerusalém. In:___. Paulo e Estêvão. Ed. especial. Rio de Janeiro: FEB, 2002. pt. 1, cap. III.
03.______. Primeiros labores evangélicos. Op. cit. pt. 2, cap. IV.
Em 29.3.2016.
02.XAVIER, Francisco Cândido. Em Jerusalém. In:___. Paulo e Estêvão. Ed. especial. Rio de Janeiro: FEB, 2002. pt. 1, cap. III.
03.______. Primeiros labores evangélicos. Op. cit. pt. 2, cap. IV.
Em 29.3.2016.
© Federação Espírita do Paraná - 20/11/2014