Sebastião Lasneau

Nasceu Sebastião Lasneau em Barra do Piraí, pequena cidade do Vale do Paraíba, no Estado do Rio de Janeiro, no dia 12 de novembro de 1900, como filho de Evilásio Antônio Lasneau e Etelvina Santos Lasneau. Desencarnou na mesma cidade em 30 de março de 1969.


Menino pobre, o pequeno Sebastião começou a trabalhar muito cedo em atividades humildes em Paracambi e Mendes, cidades do interior fluminense, até ser admitido como funcionário da Estrada de Ferro Central do Brasil, onde permaneceu por vinte anos, aposentando-se por invalidez. Nessa ocasião exercia as funções de cabineiro na Estação de Sant' Ana da Barra.


Depois da aposentadoria e já espírita convicto, perdeu completamente a visão em conseqüência de enfermidade ocular (glaucoma). Diabético, sofria também do fígado e experimentava dores lancinantes causadas por uma persistente polinevrite. Recorreu sem sucesso à ajuda da Medicina. Apesar do sofrimento físico, mantinha-se em consciente e resignada aceitação, consolado pela lógica da Doutrina Espírita, que ensina não existir efeito sem causa.


Sempre orava rogando forças para resistir à dura prova a que era submetido, sem esquecer as ações do bem. Foi quando confrades de Belo Horizonte aconselharam-no a ir à cidade de Caratinga, naquele Estado. Em lá chegando, foi conduzido à Fazenda Eureka, no município de Itaomi, onde funcionava o Grupo da Fraternidade Joseph Gleber, fundado por Jerry Labbate e companheiros da Capital Mineira, entre os quais Fábio Machado, Jair Soares, Jarbas Franco de Paula, Lídio Henriques e Ênio Wendling. Em suas amplas dependências, inauguradas em janeiro de 1952, realizavam-se notáveis reuniões com o médium Antônio Sales, através de cuja faculdade ectoplasmática materializavam-se espíritos, que socorriam portadores de enfermidades várias.


Lasneau, submetido à ação desses espíritos generosos, pôde finalmente ser aliviado em suas aflições. Não recuperou a visão, mas ficou livre das dores incômodas que sentia no globo ocular.


Sebastião Lasneau era poeta, repentista e trocadilhista: fazia versos de improviso e qualquer motivo lhe sugeria um tema. Além de poeta, foi excelente expositor de temas doutrinários do Espiritismo, tendo realizado apreciável tarefa no campo da divulgação doutrinária.


Proferiu grande número de palestras em instituições espíritas do Estado do Rio de Janeiro e em outras unidades da Federação, notadamente Minas Gerais. Aproveitava sempre o trajeto de suas viagens para elaborar quadrinhas primorosas, com temas evangélicos e doutrinários, a fim de brindar o público ouvinte.


Visitava com bastante freqüência seu amigo Francisco Cândido Xavier, participando de reuniões em Pedro Leopoldo e Uberaba. Quando em Belo Horizonte, incentivava o incipiente Movimento Espírita Juvenil, freqüentando os eventos das poucas mocidades espíritas, entre elas a Maria João de Deus, Nina Arueira e O Precursor. Compôs versos e melodia para os hinos das duas primeiras agremiações e, apenas os versos, para a última, musicada por Maria Philomena Aluotto Berutto que ocuparia mais tarde a presidência da Federativa Mineira.


Casado com Augusta Dias Lasneau, com ela conviveu cerca de sete anos, quando, inesperadamente, ficou viúvo, com dois filhos em tenra idade. Algum tempo depois, casou-se, em segundas núpcias, com Olívia Lasneau, que se tornou mãe carinhosa para seus filhos e esposa dedicada durante trinta e seis anos.


Nenhum de seus biógrafos registra quando se tornou adepto do Espiritismo. É inegável, porém, ter recebido influência de seu concunhado, o também poeta Alfredo Nora, espírita convicto, servidor como ele da Central do Brasil e desencarnado em 1948.


A ele, dedicou Nora, através de Chico Xavier, dois sonetilhos - sonetos compostos de versos heptassílabos - com o título Carta Ligeira, precedidos dessa quadra explicativa:


Meu Lasneau, não é bilhete.


Não é ofício nem ata,


É o coração que desata


Meus pesares num lembrete.


Tal poema foi psicografado em Uberaba, estando presente Lasneau. Posteriormente foi incluído no livro Parnaso de Além-Túmulo.


O certo é que, em 1944 ingressa ele no quadro social do Grêmio Espírita de Beneficência de Barra do Piraí, instituição a que dedicou a maior parte de sua vida.


Com enorme dificuldade, conseguiu editar alguns livros de sua autoria, os quais tiveram os seguintes títulos: Pôr do sol, Versos para Eva Musa, Versos para a Mocidade, Poemas de Barra do Piraí, Espiritismo em Três-Rios, Cancioneiros da Fraternidade, Almas que Cantam e Quadras a Completar.


Deixou ainda alguns livros inéditos, intitulados: Roseiral de Luz, Eterna Canção, Poemas das Origens, Amizade Inter-Planos e um sem-número de trabalhos, os quais, se colecionados, formariam outros tantos livros.


Sebastião Lasneau dedicou-se também no jornalismo. Foi redator de vários jornais, inclusive do Jornal do Povo, de Barra do Piraí. Escrevia crônicas e poesias, conforme se pode ver nas edições do jornal, referentes ao ano de 1941.


Musicou alguns de seus versos e fez várias paródias espiritualizadas de músicas famosas da época, as quais eram muito cantadas nos movimentos de mocidade.


Autor do Hino do Cinqüentenário de Barra do Piraí, foi patrono do Ginásio Estadual São José. Recebeu o título de cidadão Guaraniense, na cidade de Guarani (Minas Gerais). Foi juiz de vários concursos de poesias, inclusive da 1ª CONJEB (I Confraternização de Mocidades Espíritas do Brasil), realizada em Marília (São Paulo), certame levado a efeito no ano de 1965.


Após a sua desencarnação, como homenagem póstuma, foi eleito Patrono do Círculo dos Missivistas Amigos, um movimento fraterno que promove a correspondência entre pessoas livres e encarceradas, em todo o Brasil. Participou também de vários concursos, em jogos florais, realizados na cidade de Taubaté-SP, Nova Friburgo-RJ e outras cidades, ganhando inúmeros certificados.


Sebastião Lasneau foi, portanto, um dos grandes vultos espíritas, cuja obra teve por cenário numerosas cidades do Estado do Rio de Janeiro e de outros Estados do Brasil, fazendo-o através de uma participação efetiva e constante, em todas as grandes realizações que eram efetuadas em prol da divulgação da Doutrina dos Espíritos, tornando-se, por isso, uma personalidade querida e requisitada por todos.


LUCENA, Antônio de Souza e GODOY, Paulo Alves. Personagens do Espiritismo. São Paulo- FEESP, 1982 e depoimentos de Arnaldo Rocha e Cléber Varandas. Extraído de O Espí

Em 05.02.2008.

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