Cândida Augusta Bezerra de Menezes

No dia 20 de março de 1909, desencarnou, na cidade do Rio de Janeiro, Cândida Augusta de Lacerda Machado, a segunda esposa de Bezerra de Menezes.

 

Filha de Mariano José Machado e Maria Cândida de Lacerda, casara-se com Bezerra de Menezes, em 21 de janeiro de 1865, dois anos após a desencarnação de Maria Cândida, a primeira esposa do Médico dos Pobres e irmã materna de Cândida Augusta. Cândida, após o matrimônio, colheu os dois sobrinhos que ficaram como filhos do coração, dando-lhes novos irmãos.


Cândida Augusta Bezerra de Menezes, nome que passou a utilizar depois do casamento, nasceu, provavelmente, em 1851, pois que desencarnou aos 58 anos.


O fato de ser 20 anos mais nova que o marido, nascido em 1831, era algo comum no Brasil do século XIX. Por uma questão cultural das famílias, à época, as filhas também se casavam bastante cedo. Curiosamente, Cândida Augusta nasceu no ano da chegada de Bezerra ao Rio de Janeiro.


Meigo espírito veio, certamente, com a missão precípua de dar o suporte familiar e afetuoso necessário ao esposo, quando este, no futuro, iniciasse suas atividades na seara espírita.


Cândida era conhecida pelos familiares e, provavelmente, pelo próprio marido através do terno apelido de Dodoca. Levou uma existência de virtudes, de trabalho e de provações, ao lado do amado companheiro.


Bezerra de Menezes, depois de ter perdido na política do Império a fortuna que adquirira como empresário, viveu os últimos anos de sua existência, pobre, cercado de embaraços e dificuldades. Para isso contribuiu, também, a magnanimidade do seu coração, o seu espírito despojado, que o levava frequentemente a repartir tudo quanto possuía com os necessitados que a ele recorriam.


Em meio às privações daí resultantes, dos dissahores e vicissitudes tão comuns à vida do homem público de seu tempo, a Misericórdia Divina lhe ensejou o amparo carinhoso de sua querida Dodoca, com quem partilhava as alegrias e as amarguras do coração.


Foram 35 anos de afetuosa convivência, até a separação física de Bezerra, ocorrida em 11 de abril de 1900. O desenlace do marido converteu-se numa dolorosa provação na sua vida, até aí tão tranquila e feliz, não obstante as intempéries existenciais anteriormente experimentadas.


Entretanto, conforme testemunham aqueles que a conheceram, Dodoca era uma alma de criança, duplicada de meiguice e singeleza, que nem os anos nem as vicissitudes e decepções do mundo conseguiram modificar.


Apesar de seu desejo em se reunir, brevemente, ao esposo amado no mundo espiritual, era para ela angustiante essa possibilidade,em face da situação dos filhos menores que deixaria. Ao desencarnar, Bezerra deixou seis filhos: Ernestina, Otávio, José Rodrigues, Francisco da Cruz, Hilda e Maria da Conceição. Estes três últimos tinham, respectivamente, 16, 14 e 9 anos.


Dodoca era espírita, absolutamente convencida da imortalidade e da sobrevivência da alma. Quando a enfermidade, que há longos anos lhe minava o organismo, a prostrou definitivamente no leito, ela foi, aos poucos, preparada para a desencarnação, através da ação de amigos espirituais e particularmente de Bezerra de Menezes, que via frequentemente à cabeceira do leito.


Sob essa influência suave e amorosa, manteve-se resignada e confiante de tal forma que, poucas semanas antes de desencarnar, fez suas últimas disposições, indicando até as roupas com as quais gostaria de ser amortalhada.


Conversava sobre o próximo desfecho com a mesma tranquilidade como se tratasse de uma viagem ou de um passeio.


Assim lúcida, confortada se conservou Dodoca, tendo apenas intermitências de angústias físicas que a enfermidade lhe provocava, e durante as quais só se lhe ouviam sair dos lábios os nomes de Jesus e de Bezerra, até que o seu débil corpo sucumbiu, aos 58 anos, e o seu espírito feliz partiu para as regiões da luz.


Luciano Klein Filho
Fonte:Reformador, março 2009.
Em 23.03.2009.

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