De família nobre, descendente de senhores feudais, Leon Nikolaievich Tolstói nasceu em Iasnaia Poliana em 28 de agosto de 1828 e morreu em 7 de novembro de 1910. Não conheceu a mãe, falecida pouco antes de ele completar três anos. Alguns anos depois, faleceu-lhe o pai, o conde Nicolai Ilitch, deixando os cinco filhos agora totalmente órfãos e uma situação financeira precária. A educação das crianças ficou em grande parte sob a responsabilidade de parentes.
Tolstoi tentou estudar línguas orientais, mas não se distinguia nos estudos. Ingressou mais tarde na faculdade de direito, mas foi reprovado nos exames. Voltou então a Iasnaia Poliana, onde começou a ler a Bíblia e as obras de Jean-Jacques Rousseau. A partir daí, acentuou-se a inquietação que já era constante em Leon Tolstoi. Tomava consciência de que essa agitação que lhe era característica se devia ao fato de buscar fugir de si mesmo e das perguntas sobre o sentido da vida para as quais não obtinha resposta.
Entre 1851 e 1856, fascinado com as aventuras que o irmão militar vivera no Cáucaso, resolveu partir para a batalha, conquistando respeito e admiração dos companheiros. Data dessa época a publicação de duas obras: Infância, relato autobiográfico de sua meninice, e Relatos de Sebastopol. A partir de então, Tolstoi começou a ser admirado e reconhecido como escritor.
Em 1857 viajou pelo Exterior e voltou ardendo em desejo de servir à Rússia, de ajudar seu povo. Desejou iniciar pelos que se encontravam mais próximos: os servos da Iasnaia Poliana. Em 1859 fundou em sua propriedade uma escola para crianças e para adultos, na qual buscava aplicar o que vira no Ocidente, empregando um método que se baseava na compreensão e na bondade e que excluía o castigo físico. Procurou estudar muito para preencher a formação que lhe fazia falta para levar adiante o empreendimento.
Em 1863 começou a escrever Os cossacos, romance recheado de elementos autobiográficos. Nessa época Tolstói colocava-se entre os que combatiam o isolamento da Rússia no contexto asiático, a monarquia, a servidão, pregando a aproximação do Ocidente para possibilitar progresso cultural e material. Em Iasnaia Poliana, trabalhou como juiz de paz da província. Reencontrou Sofia Andrieievna, que conhecia desde a infância, agora uma jovem atraente. Em setembro de 1862 casaram-se. Graves problemas econômicos obrigaram-no a fechar a escola e a suspender a revista pedagógica que havia fundado após o casamento.
Foi nessa ocasião que Tolstói pensou em fazer da literatura um meio de vida. De 1863 a 1869, ajudado pela esposa que atuava então como sua secretária, escreveu Guerra e paz, romance em que exaltava a coragem e as virtudes morais do povo russo, usando como pano de fundo a resistência às invasões napoleônicas de princípios do século XIX.
Anna Karenina, publicado entre 1875 e 1877 no Mensageiro Russo, também agradou imensamente o público e foi classificado como uma perfeita obra de arte, por Dostoievski.
O autor ficou indiferente às críticas e aos elogios. Suas preocupações se centravam em problemas morais e religiosos. A pergunta sobre o sentido da vida não deixava de martelar em sua mente. Buscou a resposta na religião ortodoxa, conviveu com monges em mosteiros, estudou os evangelhos...mas nada o tranquilizava.
Voltou ainda a escrever, sob insistência da esposa e de amigos; nasceu daí a obra A morte de Ivan Ilitch, em que fica evidente que, para ele, a caridade é o segredo para a salvação.
A Igreja Ortodoxa russa via com muita preocupação o crescimento do tolstoísmo, que pregava uma absoluta desconfiança dos sistemas, governos, ideologias e da própria cultura humana, o que levou Tolstói a abraçar uma espécie de santa anarquia, acreditando-se inspirado por Jesus, mas hostil à ortodoxia russa, ao capitalismo, ao socialismo e ao governo. A obra Ressurreição, publicada internacionalmente para dar apoio a um grupo religioso de camponeses que se recusava a participar da guerra para viver uma forma de comunidade cristã, foi a gota decisiva que pôs fim ao impasse. Tolstói foi excomungado em 1901.O romancista, porém, continuou reafirmando o próprio credo, pois havia encontrado resposta para suas dúvidas.
Contradições e paradoxos despontam não apenas nas obras de Tolstói, mas em sua vida. Muitas vezes não viveu de acordo com o tolstoísmo que pregou. Em Sonata a Kreutzer (1899), por exemplo, pregou a abstinência sexual entre os casais; no mesmo ano, porém, nasceu-lhe o décimo terceiro filho. Aconselhava o desapego dos bens materiais; mas jamais conseguiu desfazer-se de seus bens em favor dos pobres, porque a família o impediu, reivindicando-os. Desejava viver como mendigo; mas os pobres, assim que o reconheciam, excluíam-no de seu convívio.
Entretanto, sob esse caráter confuso, ou em algum recôndito de sua alma, havia um artista de suprema autoconfiança, que sabia exatamente o que estava fazendo quando se punha a escrever. Mesmo após ter abraçado o cristianismo, as contradições, paradoxos e enigmas prosseguiram. E Tolstói se conhecia muito bem; ao tinha pretensão de aparentar santidade, como se pode constatar de suas próprias palavras: Não prego e não consigo fazê-lo, embora ardentemente o desejasse. Somente poderia pregar através das obras, e minhas obras são más. O que eu digo não é sermão, mas apenas uma impugnação à falsa compreensão do ensinamento cristão e uma explicação de seu sentido real... Repreenda-me - é o que eu mesmo me faço - , mas repreenda a mim e não ao caminho que trilho e indico àqueles que me perguntam onde é que, em minha opinião, fica a estrada! Se conheço bem o caminho para casa e sigo por ele bêbado, ziguezagueando de um lado para outro... isso fará com que o caminho por onde passo seja errado?
Quando contava com aproximadamente cinquenta e cinco anos, depois de ter escrito seus mais famosos romances - Guerra e paz e Anna Karenina -, Tolstói passou por uma experiência espiritual muito significativa. Mergulhou no estudo do Novo Testamento e em sua busca por sentido de vida. Decidiu praticar os ensinamentos do cristianismo, buscando servir ao próximo como Jesus ensinou.
No final da vida, Tolstói e Sofia desentenderam-se: ela queria viver na corte; ele, no recolhimento, na paz, na simplicidade. Pressionado pela esposa, fugiu de casa em outubro de 1910. Doente, cansado, deteve-se na aldeia de Astápovo onde, em 7 de novembro, morreu.
Em todo o mundo rendeu-se-lhe o tributo de uma admiração e de um reconhecimento sem limites. Tolstói é considerado grande - não pelos seus ensaios, mas pelas obras de ficção que tantas vezes rejeitou em vida; não pelas doutrinas que criou, pelas previsões de sociedades do futuro, pelos arroubos de misticismo... mas pelo fato de ter lutado para tentar pôr suas ideias em prática, pela visão de mundo que transmitiu, pelo conhecimento profundo da alma humana que captou com maestria e registrou em sua obra.
SUA OBRA
Não raramente, ouvimos referência à produção literária de Tolstoi classificada em fases. Assim, a primeira fase se encerraria em 1877 com a publicação de Anna Karenina. Essa é a sua fase de excelência, segundo os estudiosos, na qual sua genialidade se expressa sem interferência das teorias e das falsas noções que mais tarde povoariam a mente do autor. Tem início a seguir a segunda fase, que, de acordo com uma visão mais convencional, é marcada pelo interesse em propaganda política, por um arrefecimento de seu poder criativo e um crescente isolamento do mundo secular para abraçar a religião.
Embora se supervalorizem as obras de sua primeira fase, do ponto de vista cristão seus escritos espirituais são tão valiosos e legítimos quanto Guerra e paz, por exemplo. Desde muito cedo Tolstói se interessou apaixonadamente pelas questões espirituais e, durante um tempo considerável, buscou soluções espirituais. Como afirmam alguns estudiosos, interessava-se pelas motivações e comportamento do homem, pelo que era justo e pelo que era injusto; pelo que era nobre e pelo que era vil; pelo que era puro e pelo que era impuro. E, quanto mais amadurecia, mais se aprofundava nessas questões.
Foi enorme o impacto da segunda fase sobre o mundo. Gandhi leu-os enquanto se encontrava na África do Sul e captou de Tolstói o conceito de resistência passiva pela não-violência. Outros, mais tarde, serviram-se das táticas de não violência de Gandhi, aplicando-as e transmitindo-as em todas as situações em que se lutava pela libertação de povos e de nações.
Importante observar que foram seus textos religiosos que lhe abriram as portas para o Ocidente. Em 1884 e 1885 foram impressas na Inglaterra as traduções dos seus principais escritos espirituais e lidas por milhares de ocidentais. Muito mais do que as obras de ficção, as de fundo religioso é que atraíram a atenção dos leitores deste lado do mundo.
Entre seus contos espirituais citam-se Onde existe amor, Deus aí está, Os três eremitas, Trabalho, morte e enfermidade, Os dois anciãos e De quanta terra precisa um homem.
No ano de 1961, no mês de junho, o Espírito Tolstói se apresenta, durante a noite, para a médium Yvonne do Amaral Pereira, dizendo-lhe do seu propósito de escrever por seu intermédio.
Diz que deseja escrever, mas que o fará com regionalismo russo, afirmando que a médium tivera uma existência na Rússia e que, assim, ele encontrara em seu subconsciente o cabedal necessário.
Seis meses depois desse primeiro encontro, Tolstói dita, pela psicografia de uma única arrancada, como informa a médium, um conto que se passa no Piemonte, Itália: O sonho de Rafaela.
Viriam depois, outros cinco contos e dois pequenos romances, que foram reunidos, formando um livro e publicados, em 1963, sob o título Ressurreição e Vida, pela Federação Espírita Brasileira.
De forma vibrante, o autor espiritual transmite ensinamentos sobre a reencarnação, a imortalidade, a obsessão e o psiquismo humano.
Em 1973, outra obra veio a lume: Sublimação, onde se encontram quatro contos de Tolstói. Confessa-se agradecido às almas boas que o auxiliam a retirar da consciência o peso de um remorso que comprometeu a sua paz.
Refere-se aos suicídios literários com que encerrava dramas íntimos e sociais dos seus personagens e que modelaram outros suicídios.
Esses quatro contos foram escritos em 1963.
Ressurreição e vida e Sublimação, psicografia de
Yvonne do Amaral Pereira, ed. Feb.
Em 17.01.2012.
© Federação Espírita do Paraná - 20/11/2014