Testemunhos de fé - Amélia Rodrigues
O fermento farisaico aumentava o desequilíbrio das multidões, à medida que a mensagem ganhava os corações aflitos...

Pairavam no ar as velhas tradições cumuladas de crendices e crueldade, enquanto as bênçãos das Boas-Novas amenizavam as dores e desesperanças.

Era uma batalha sem gládio nem armas destrutivas, mas de ideias retrógradas que teimavam em deter a marcha do progresso, ante a madrugada rica de pensamentos e ações libertadores.

Aderindo lentamente aos ensinamentos ricos de alegria e de progresso, as criaturas modificavam a conduta enquanto uma brisa de esperança espraiava-se por todo lugar onde Ele queimava, com a chama do amor, a erva má dos hábitos infelizes.

A sociedade sempre apresentara os venturosos e os vencidos, os dominadores e os submissos, mediante a escravidão escancarada ou sob disfarces.

Desse modo, marginalizados, os pobres e deserdados agora recebiam o pábulo da verdade para terem diminuídas as suas penas.

Não somente esses excruciados beneficiavam-se das inestimáveis pregações da Boa-Nova. Também cidadãos ricos e bem situados descobriam, em Jesus, o conforto e a segurança de que tinham necessidade.

Todos viandantes da indumentária carnal dependem dos valiosos tesouros da fé e da esperança, a fim de darem sentido à existência.

Em consequência, cada dia era mais numerosa a multidão que acorria às praias ou às praças onde Ele falava em Cafarnaum, bem como noutras cidades e aldeias.

A Sua voz era como uma brisa perfumada que beneficiava a própria Natureza.

Mães desesperadas com filhinhos enfermos, homens e mulheres mutilados no corpo, na alma, na existência, desvairados com transtornos emocionais e mentais, idosos abandonados e desiludidos eram jovialmente socorridos e admoestados a retificarem o comportamento, voltando-se para o dever e a ordem.

Tratava-se, sem dúvida, de uma revolução extraordinária, como antes nunca ocorrera.

A Sua figura portadora de beleza ímpar, exsudava ternura e compaixão sem que, qualquer que fosse o padecente, jamais deixasse de receber a misericórdia que esparzia.

Sempre gentil, atuando com respeito às Leis e sem solicitar qualquer tipo de recompensa, Jesus era, naqueles dias, a felicidade que chegara às terras áridas de Israel.

A voz branda alcançava a acústica do ser como sinfonia de bênçãos e ninguém que A ouvia lograva olvidá-lO.

Para Ele, todos, porém, são filhos de Deus, merecedores das mesmas oportunidades, assim como do direito de crê e cantar, conforme lhes aprouver, a canção da alegria.

Incomodados na sua ridícula presunção, os fariseus, especialmente soberbos, passaram a detestá-lO com mais rigor e insistência, amedrontados pela Sua grandeza.

Não O poupavam, sempre que O encontravam, e estavam em toda parte perturbando a multidão, gerando tumulto ou criticando-O, em tentativas sempre frustradas de perturbar-lhe o ministério. Ele, porém, que os conhecia muito bem, que lhes identificava o caráter venal, respondia-lhes às indagações com superioridade, silenciando-os de forma surpreendente.

Passaram, então a difamá-lO, caluniando-O como mensageiro de Satanás, mistificador e inimigo do povo, que reunia para aplicar futuro golpe contra o Sinédrio e César.

Em consequência, os Seus amigos, aqueles que O seguiam de perto, passaram a sofrer injunções e ameaças contínuas.

Ignorando-os, os enfermos da mente prosseguiam na sementeira de luz e de alegria, após recuperados pela Sua misericórdia. Entretanto, os amigos menos equipados por sabedoria e elevação moral eram atacados verbalmente e mesmo agredidos na sua faina diária ou no labor da aquisição do pão.

Em uma oportunidade especial, após uma injustificável discussão que terminara quase em agressão física, muito estremunhado, Simão buscou o Amigo, e indagou-lhe sem preâmbulos:

Como proceder, Senhor, com os Teus inimigos que se nos tornam adversários espontâneos, agressivos e opositores desalmados? Em Cafarnaum, onde moramos, conhecemos quase todos os residentes que nos respeitavam, e agora, açulados pelos adversários cruéis, olham-nos com desprezo e, não poucas vezes, negam-se a adquirir os nossos produtos?

Com a serenidade que lhe era peculiar, o Amigo respondeu:

Simão, até aqui o mundo cultivava os comportamentos que denegriam os pobres, as viúvas, os órfãos que ainda são taxados como prejudiciais à comunidade, em face do orgulho doentio que domina em toda parte.

Agora estamos no limiar de uma Nova Era, em que o amor de Nosso Pai alberga todas as criaturas, ajudando-as a desfrutar de paz e de esperança de melhores dias.

Não acostumados às novas diretrizes da misericórdia e da compaixão, os exploradores das massas infelizes desejam estancar o rio da solidariedade que Ele direcionou nestes dias de renovação.

É natural que os desditosos em si mesmos reajam à nossa alegria e amizade, tendo em vista que sempre os via banidos, rebaixados, por causa das exulcerações íntimas, que desconhecem.

Como não nos podem combater as ideias, nem realizar o que nosso Pai nos propicia fazer, revoltam-se e lutam para silenciar-nos, para impedir-nos de realizar a implantação do Reino de Deus.

Após uma pausa de reflexão, o discípulo, magoado, retornou à indagação:

Mas, Mestre, eles são perversos e odientos.

Como tratá-los? Não nos dão trégua nem permitem, sequer, que os esclareçamos. Caluniam-nos como servidores de Satanás e hipnotizados por Ti.


Jesus respondeu:

Deveremos responder-lhes com o tratamento da compaixão que de nós merecem. Eles ignoram as enfermidades que os consomem e os envilecem. O perdão de nossa parte é a força que nasce no cerne do amor que devemos ter para com aqueles que nos maldizem e perseguem, porque são profundamente infelizes.

Que faz a delicada flor quando pisoteada, senão perfumar a pata que a esmaga? Outra não é a nossa alternativa. Se entrarmos em litígio que é, aliás, o que eles querem, para permanecerem em discussões infrutíferas e ferozes, estaremos no seu mesmo nível mental e emocional. O Evangelho tem por missão transformar pântanos morais em pomares de bênçãos, corações empedernidos em sentimentos de ternura e de bondade.


Pedro, porém, que se encontrava cansado da perseguição e maldade dos desafetos da verdade, ainda voltou à carga:

Não valeria a pena reagirmos, buscarmos a justiça, demonstrando a grandeza dos nossos sentimentos e a honra dos nossos antepassados?

Responde o Mestre:

Quem se preocupa com a defesa pessoal, olvida que os seus atos são a única força da sua dignidade. Somente os ociosos, os infiéis, se interessam pelos títulos terrenos, pelas glórias sociais, pelos antepassados...

Somos os construtores de um mundo de paz e de confiança, e é indispensável que vivamos essa realidade no período que a antecede, a fim de que aqueles que nos não compreendem se sintam atraídos pela nossa alegria de viver e de amar.

O silêncio à perseguição e à maldade, com a correspondente ação do bem, é a receita eficaz para os testemunhos da fé e da fidelidade a Deus.


Silenciou o Rabi e, ato contínuo, foi atender um fariseu rico e conhecido que O buscava, chorando...

Ainda hoje a obra do amor de Deus não encontra a receptividade que merece. Por mais algum tempo, a construção do Reino de Deus será realizada com as lágrimas dos abnegados discípulos de Jesus.

Amélia Rodrigues
Psicografia de Divaldo Pereira Franco,
na sessão mediúnica de 2.2.2019, no
Centro Espírita Caminho da Redenção,
em Salvador, Bahia.
Em 3.3.2023.

© Federação Espírita do Paraná - 20/11/2014